REAÇÃO

Eduardo Bolsonaro quebra o silêncio sobre conversa entre Lula e Trump: "Golpe de mestre"

Principal lobista das recentes retaliações dos EUA ao Brasil, deputado desdenha de aproximação entre os presidentes e elogia o secretário de Estado Marco Rubio

O deputado Eduardo Bolsonaro.Créditos: MANDEL NGAN / AFP
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O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) se pronunciou na noite desta segunda-feira (7) sobre a conversa por videoconferência entre os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump

O parlamentar vive desde o início de 2025 nos EUA e é um dos principais articuladores das recentes retaliações do governo Trump ao Brasil. Essas retaliações, cujo objetivo seria interferir no julgamento de seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, que foi condenado a 27 anos de prisão por tentativa de golpe, incluem tarifaço às exportações brasileiras, cassação de vistos de entrada nos EUA de autoridades e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), além de declarações hostis e ameaças. 

A aproximação entre Lula e Trump, portanto, representa um revés a Eduardo Bolsonaro, visto que a conversa foi amigável e, após o diálogo, ambos os mandatários fizeram elogios públicos um ao outro, sinalizando negociação e uma retomada das relações diplomáticas e comerciais entre os dois países. 

Contrariado, Eduardo Bolsonaro fez uma sequência de publicações no X (antigo Twitter) em que tenta afastar qualquer trunfo do governo brasileiro no contato com Trump. O deputado chegou a sugerir que a conversa seria uma estratégia de Trump para retaliar ainda mais o Brasil, classificando-a como um "golpe de mestre" por parte do presidente dos EUA. 

O parlamentar, que deve em breve ser cassado pelo Conselho de Ética da Câmara, ainda fez questão de elogiar, em mais de uma publicação, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, que foi designado por Trump para travar as negociações comerciais com o governo do Brasil. Para Eduardo, a escolha de Rubbio mostraria que Trump pretende fazer uma negociação desvantajosa ao governo brasileiro – atendendo, assim, aos seus anseios por implosão das relações entre Brasil e EUA. 

"Não complica o Brasil, nos ajuda! O Secretário Rubio conhece bem a América Latina. Sabe muito bem como funciona os regimes totalitários de esquerda na região. Sabe como o Judiciário foi instrumentalizado como ferramenta de perseguição política. Ele não cairá nesse papo furado do regime, de independência de um judiciário aparelhado. A escolha do Presidente Donald Trump só complica o regime de exceção. Golaço!", escreveu Eduardo em uma das postagens. 

A postagem, na verdade, foi editada. Em uma versão anterior, Eduardo dizia que Trump havia dado um "golpe de mestre" ao conversar com Lula. 

"Ele [Marco Rubio] sabe como o Judiciário foi transformado em arma para perseguição política. Ele não vai cair nas bobagens do regime sobre a 'independência' de um Judiciário capturado. A escolha do Presidente Donald Trump só torna as coisas mais difíceis para o regime de exceção. Um golpe de mestre". 

Em outra publicação, Eduardo compartilhou uma postagem de Rubio em que o secretário de Estado critica o ministro do Alexandre de Moraes, do STF, e fala em responder ao que ele classifica como "perseguições políticas" e "caça às bruxas". 

"A esquerda sabe que não foi uma vitória. Mas para seu público de fanáticos eles tentarão emplacar as suas narrativas fantasiosas. Eis o designado pelo Presidente para tratar com Alckmin. Tirem suas conclusões", publicou Eduardo. 

Trump elogia Lula após conversa 

O presidente dos EUA, Donald Trump, fez uma postagemem seu perfil na Social Truth, a rede social de sua propriedade, para comentar a conversa que teve com o presidente Lula na manhã desta segunda-feira (6), por vídeo conferência. O líder da Casa Branca foi bastante elogioso e positivo ao falar sobre o diálogo direto aberto com o mandatário brasileiro, que passou a ser ventilada após os dois se encontrarem rapidamente e por acaso na abertura da Assembleia-Geral das Nações Unidas, em Nova York, há duas semanas, ocasião em que o norte-americano ressaltou ter sentido “uma química” com o estadista sul-americano.

“Esta manhã, tive uma ótima conversa telefônica com o Presidente Lula, do Brasil. Discutimos muitos assuntos, mas o foco principal foi a economia e o comércio entre nossos dois países. Teremos novas discussões e nos encontraremos em um futuro não muito distante, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Gostei da conversa, nossos países se darão muito bem juntos!”, escreveu Trump.

Horas depois, em coletiva de imprensa no Salão Oval da Casa Branca, Trump voltou a elogiar Lula ao comentar a conversa que teve com o presidente brasileiro. 

“Eu tive uma ótima conversa com o presidente do Brasil. Ele é um bom homem. Eu o conheci nas Nações Unidas. Eu estava subindo para fazer um discurso e não tinha um teleprompter. Eu estava caminhando até o meu teleprompter e disse: ‘Eu não tenho um teleprompter’”, iniciou Trump.

Em seguida, o presidente dos EUA deu mais detalhes sobre o encontro com Lula na ONU: “Pouco antes disso [seu discurso na ONU], eu me encontrei com o presidente Lula e o achei muito bom. Quer dizer, tivemos uma conversa muito boa por dois minutos. Foi um dia e tanto. Esse foi um grande dia, mas nós nos conhecemos e gostamos um do outro. Tivemos uma ótima conversa. Vamos começar a fazer negócios [...] Em algum momento eu irei [ao Brasil] e ele virá aqui. Nós conversamos sobre isso.”

Lula também se pronunciou, horas antes

Pelas redes sociais, o presidente Lula também se pronunciou sobre a conversa de cerca de 30 minutos que teve com Donald Trump, na manhã desta segunda-feira (6), após a “boa química que tivemos no encontro em Nova York por ocasião da Assembleia Geral da ONU”.

“Considero nosso contato direto como uma oportunidade para a restauração das relações amigáveis de 201 anos entre as duas maiores democracias do Ocidente”, escreveu o chefe de Estado brasileiro em seu perfil oficial no X (antigo Twitter).

“No telefonema, recordei que o Brasil é um dos três países do G20 com quem os EUA mantêm superávit na balança de bens e serviços. Solicitei ao presidente Trump a retirada da sobretaxa de 40% imposta a produtos nacionais e das medidas restritivas aplicadas contra autoridades brasileiras”, emendou Lula sobre a guerra tarifária declarada por Trump contra o Brasil.

De acordo com o presidente brasileiro, Trump designou o secretário de Estado, Marco Rubio, para dar sequência às negociações com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), o chanceler Mauro Vieira e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. 

Lula ainda afirmou que pode encontrar Trump pessoalmente durante a Cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), que ocorrerá na Malásia a partir de 26 de outubro.

“Nós concordamos em nos encontrar pessoalmente em breve. Sugeri a possibilidade de encontro na Cúpula da Asean, na Malásia; reiterei o convite a Trump para participar da COP30, em Belém; e também me dispus a viajar aos EUA", disse o presidente, que estava acompanhando também do assessor especial Celso Amorim e do ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom), Sidônio Palmeira.

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