Ao Fórum Onze e Meia desta segunda-feira (3), a comentarista política Andréa Gonçalves analisou o massacre promovido pelo governador Cláudio Castro (PL) nos complexos da Penha e do Alemão na última terça-feira (28), no Rio de Janeiro, que deixou 121 mortos. Ela destacou que essas operações violentas não resolvem, de fato, o problema do crime organizado e são utilizadas somente como "palanque político", construído, principalmente, em cima de corpos pretos e pobres.
"Tem governantes que querem resolver o problema da segurança pública e tem governantes que não querem resolver o problema, porque usam dessa situação como palanque político, usando o medo das pessoas, a tragédia humana que circunda a criminalidade, para a partir disso construir verdadeiros palanques com corpos. Só que esses corpos são sempre negros e pobres,", afirmou.
Andréa ainda acrescentou que o combate à criminalidade no Brasil não acontece nas favelas e que essas operações apenas evidenciam o racismo estrutural que criminaliza os negros e a pobreza.
"Nenhum chefe da organização criminosa do Comando Vermelho foi pego. Por quê? Porque não mora na favela. Porque nós sabemos que o fuzil não é fabricado dentro da comunidade. As drogas não são fabricadas dentro da comunidade. Existe uma estrutura de um baronato, de uma elite de terno e gravata, que inclusive ocupa palácios, que estão por trás de tudo isso", declarou a comentarista.
Andréa Gonçalves analisou que esse contexto é uma oportunidade para o Judiciário aprovar proposituras importantes de combate ao crime organizado e para a Polícia Federal "fazer operações e ensinar como que pega bandido de verdade".
"Muitas vezes sem dar um tiro, pega gente nos Jardins, na área sul do Rio de Janeiro, nos condomínios, na Faria Lima, com toneladas de drogas, com bilhões, bilhões de dinheiro. Isso sim é combater a criminalidade. Enquanto eu vejo a operação policial dentro da área da pobreza e da negritude, isso não é combate ao crime. Isso é criminalizar a pobreza", disse.
"O combate ao crime organizado ocorre nos campos dos baronatos e da elite do Brasil, inclusive, no campo de deputados e senadores", ressaltou.
Andréa finalizou afirmando que é também o momento para o governo Lula (PT) avançar com a aprovação da PEC da Segurança Pública e do combate às facções criminosas. "Tem que ser feita alguma coisa, porque senão esse ciclo doentio e criminoso que mata preto e pobre vai continuar, não só no Rio de Janeiro, mas também em outros estados, com a bandeira de 'estamos combatendo o crime, bandido bom é bandido morto' enquanto os bandidos estão na verdade nos palácios.
Confira a entrevista completa de Andréa Gonçalves ao Fórum Onze e Meia
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