Na véspera da megaoperação policial que deixou 121 mortos nos complexos da Penha e do Alemão, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, autorizou o repasse de R$ 700 mil em patrocínio para um evento empresarial de João Doria, realizado em Londres. O encontro, promovido pelo Lide Reino Unido, discutia justamente o setor de jogos e apostas, tema que o próprio governo fluminense havia liberado por decreto meses antes. As informações são da coluna de Ancelmo Gois.
O contraste entre as duas ações — uma operação policial marcada pela violência e a liberação de verbas públicas para um evento de luxo no exterior — expõe a contradição de prioridades dentro da administração estadual.
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O documento que formalizou o apoio financeiro foi assinado por um representante do governo um dia antes da operação, que mobilizou mais de mil agentes de segurança e resultou em dezenas de mortes em comunidades do Rio.
Segundo dados do próprio Lide, apenas os custos estimados da comitiva da empresa de Doria ultrapassavam R$ 2,2 milhões. As passagens aéreas somavam cerca de R$ 651 mil, enquanto a hospedagem no Hotel Savoy, um dos mais caros de Londres, estava orçada em R$ 311 mil. O evento contou ainda com a participação do ex-presidente Michel Temer e do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira.
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Lavagem de dinheiro
Em agosto, o governador Cláudio Castro (PL) havia assinado um decreto que autoriza a instalação, no estado, de máquinas de apostas eletrônicas (VLTs), totens e terminais de jogos — dispositivos semelhantes aos usados em cassinos.
O detalhe incômodo é que o setor de apostas, defendido como oportunidade econômica, também é apontado por órgãos de investigação como um dos principais canais de lavagem de dinheiro da contravenção e do crime organizado — justamente o tipo de estrutura que o governo afirma combater com operações de alto custo humano.
Enquanto o Rio contabilizava suas vítimas, o mesmo governo que comandava uma das operações mais sangrentas da década financiava, do outro lado do Atlântico, um fórum de negócios dedicado a discutir a expansão dos jogos de azar.