O saldo macabro de 121 mortos não foi o bastante para o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL). A megaoperação da última semana nos complexos da Penha e do Alemão — a mais letal já registrada no país — virou, para o governo fluminense, uma espécie de trunfo político. Agora, embalado por pesquisas que apontam alta em sua popularidade, o governador anunciou que dez novas ações policiais já estão prontas para acontecer.
“Temos mais dez operações agendadas”, afirmou Castro em entrevista a Lauro Jardim, do jornal O Globo. O governador diz ter obtido autorização judicial para todas elas. Segundo ele, as novas incursões não serão ocupações permanentes, mas intervenções pontuais de “retomada de território”. Uma dessas operações está prevista para começar dezembro em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio. Outras devem ocorrer diariamente na Baixada Fluminense.
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Nos bastidores do Palácio Guanabara, a matança que horrorizou organismos internacionais, é tratada como um trunfo político. A operação de 121 mortos — planejada por mais de um ano, segundo o governo — não prendeu nenhum dos chefes do Comando Vermelho, mas ainda assim foi vista por parte da população como exitosa.
O secretário de Segurança Pública do Rio, Victor Santos, tenta sustentar o discurso de legitimidade. Em entrevista à Folha de S. Paulo, ele afirmou que o objetivo “não foi prender os líderes”, mas “cumprir mandados de busca e apreensão e de prisão para mapear e asfixiar a organização criminosa”. Santos também nega que tenha ocorrido massacre.
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Mesmo com a negativa, as imagens e relatos vindos das comunidades contradizem a narrativa oficial. Corpos espalhados em vielas, muitos decapitados, casas perfuradas por tiros e famílias acuadas foram o retrato da operação que o governador agora trata como modelo.
Lula: "Operação no Rio foi matança"
Durante sua estadia em Belém, no Pará, onde participa de preparativos para a COP30, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou nesta terça-feira (4) a operação policial realizada no Rio de Janeiro na semana anterior, que resultou na morte de 121 indivíduos, entre eles quatro agentes de segurança. Ele classificou o episódio como uma "matança" e defendeu a inclusão de especialistas em medicina legal da Polícia Federal nas apurações sobre os óbitos.
A ação, conduzida pelo governo estadual do Rio de Janeiro no dia 28 de outubro, teve como alvo a organização criminosa Comando Vermelho nas regiões dos complexos do Alemão e da Penha, tornando-se o confronto mais mortal já registrado no estado.
Em declarações concedidas a jornalistas da Associated Press e da Reuters, Lula destacou a discrepância entre a determinação judicial e o desfecho da operação. "Vamos ver se a gente consegue fazer essa investigação. Porque a decisão do juiz era uma ordem de prisão, não tinha uma ordem de matança, e houve matança", afirmou o presidente.
Ele informou que o governo federal busca viabilizar a participação de peritos da PF nas análises das circunstâncias das mortes. O Supremo Tribunal Federal agendou para esta quarta-feira (5) uma sessão específica para discutir o ocorrido.
"Nós estamos tentando essa investigação. Inclusive estamos tentando ver se é possível os legistas da policia federal participarem do processo de investigação da morte, como é que foi feito, porque tem muitos discursos, tem muita coisa", argumentou.
Lula enfatizou a necessidade de esclarecer os fatos para além das narrativas oficiais. "Eu acho que é importante a gente verificar em que condições ela [a operação] se deu, porque até agora nós temos uma versão contada pela policia, contada pelo governo do estado e tem gente que quer saber se tudo aquilo aconteceu do jeito que eles falam ou se teve alguma coisa mais delicada na operação", continuou Lula.
Por fim, o presidente avaliou os impactos da operação sob diferentes perspectivas. "O dado concreto é que a operação, do ponto de vista da quantidade de mortes, as pessoas podem considerar um sucesso, mas do ponto de vista da ação do Estado, eu acho que ela foi desastrosa", prosseguiu Lula, ainda durante a conversa com agências internacionais.