O deputado federal Rogério Correia (PT-SP), em entrevista ao Fórum Onze e Meia desta sexta-feira (25), analisou a estratégia da extrema direita de aplicar um "golpe continuado" através de ações políticas como a proposta da anistia aos golpistas de 8 de janeiro. Essa estratégia visa gerar instabilidade política no país para que sempre haja uma ameaça autoritária.
"O problema é que eles têm uma estratégia de golpe continuado. Então, já está tudo pronto para fazer o julgamento, e eles vêm com a tese da anistia. Ora, se passa anistia no Congresso Nacional, é passar o aval que eles podem continuar com a estratégia golpista", afirmou Correia.
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"Eles estão sempre querendo criar fatos políticos que causem instabilidade no país e a partir da instabilidade eles possam ressurgir de uma forma ou de outra, mas sempre pensando no regime autoritário", acrescentou o deputado.
Correia ainda citou o governo de Donald Trump e afirmou que o modelo do presidente dos Estados Unidos evidencia o "modus operandi" da extrema direita no mundo. O deputado considerou que o próprio Centrão começou a entender essa forma de atuação da extrema direita e descobriu que não pode "colocar lenha na fogueira" dos extremistas.
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"Porque a extrema direita não para no processo democrático disputando as eleições. Se por um acaso eles ganharem as eleições, eles vão fazer com que o processo golpista, através do regime autoritário, possa acontecer, que foi o que aconteceu durante os quatro anos de Bolsonaro", analisou Correia.
"Então, é preciso que a própria direita tenha um pouco de juízo e não coloque lenha na fogueira da extrema direita", alertou o deputado. Para ele, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e outros parlamentares de direita começaram a perceber isso ao travarem o avanço do PL da Anistia.
"Agora, é fazer o julgamento [dos golpistas], mas é bom a sociedade estar atenta porque eles vão criar fato, paralisar as atividades da Câmara. Pode saber que as medidas sectárias eles vão continuar fazendo para tentar criar clima de instabilidade sempre no sentido de gerar o caos", alertou.
Correia afirmou que os bolsonaristas sabem que o Supremo também não vai permitir o avanço da anistia. Então, a estratégia é jogar o povo contra o STF, criando uma crise de instabilidade democrática.
"Eles vão tentar dizer que o Supremo, através dos Zanin - o Zanin foi apenas, como ele era o presidente, quem remeteu o ato, mas foi cinco a zero esse entendimento - mas eles vão querer dizer que há uma interferência do Supremo e do Zanin dentro do parlamento e colocar uma crise com o Hugo Motta para nessa crise gerar instabilidade política. Enquanto isso, na Câmara, há uma gritaria danada por projetos importantes que eles não querem deixar andar", relatou Correia.
O deputado comentou que, enquanto os bolsonaristas fazem obstrução na Câmara, deputados progressistas e da base do governo tentam instalar a Comissão Especial do Imposto de Renda para discutir a isenção para quem ganha até R$ 5 mil, promover debate sobre a PEC da Segurança Pública e discutir o PL que pede o fim da escala 6x1.
Caso INSS
Correia também abordou as investigações da Polícia Federal sobre fraudes no INSS, que revelaram um desvio de cerca de R$ 6 bilhões aplicados por associações através de descontos indevidos contra aposentados e pensionistas. O deputado afirmou que é preciso ficar atento a esse caso para que não se transforme num "caça às bruxas político, que foi o caso da Lava Jato". "Ela já era uma operação da extrema direita que tinha apenas objetivos políticos de colocar a esquerda em apuros e com isso crescer a extrema direita", disse.
O deputado afirmou que a a maioria das entidades investigadas começou a surgir em 2019, durante o primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro (PL). "Depois, lá na Câmara de Deputados, houve uma facilitação. Havia critérios mais rigorosos para que esses descontos pudessem ser feitos por associações e isso foi facilitado por dentro do Congresso. Vamos ter que levantar, inclusive, as responsabilidades dessa facilitação de entidades que começaram a aparecer", destacou Correia.
Ele acrescentou que essas novas entidades é que estão sendo fiscalizadas. "Em 11 delas se viu muito problema. Isso vai chegar no dinheiro que foi para essas entidades e quem se enriqueceu com isso, basta seguir o dinheiro. Então, nós vamos ter surpresas que vão atingir com certeza a extrema direita. Essas entidades são entidades que não têm finalidade sindical e foram feitas para fazer este mal feito e essa corrupção que está sendo feita", afirmou.
Por fim, o deputado destacou que as investigações começaram durante o governo Lula, em 2023, e que é preciso "separar o joio do trigo" para diferenciar as entidades sindicais que realizam um trabalho correto junto aos aposentados das associações fraudulentas.
Confira a entrevista completa do deputado Rogéria Correia ao Fórum Onze e Meia
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