O ex-vereador paulistano Mário Covas Neto (Podemos), filho do ex-deputado Mário Covas (PSDB), chegou a implorar para que o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB) não saísse do partido, condenando-o ao fim. O pedido se deu via carta no mês passado.
A aprovação do PSDB com o Podemos pode gerar a extinção do partido tucano, de acordo com o “Movimento Contra a Extinção do PSDB”, e o argumento é reiterado por Covas Neto no documento. “Aproveito esta oportunidade para compartilhar uma preocupação que tem inquietado a mim e a muitos companheiros tucanos: a constante busca por extinguir o partido, seja por meio de fusões ou incorporações a outras legendas. Em ambos os casos, o PSDB deixaria de existir”, escreve.
Para que o PSDB permanecesse como nos moldes da fundação de 1988, de acordo com esse movimento, seria preciso que o número de integrantes estivesse intacto, assim como o manifesto original, o símbolo, os valores e princípios tucanos.
Leite, no entanto, tem estimulado o plano de fusão entre os partidos PSDB e Podemos no objetivo de fortalecer uma candidatura de centro na corrida à presidência. A expectativa é que a convenção ocorra em 5 de junho.
Covas Neto ainda relembra diversos casos de partidos pequenos que concorreram à presidência e/ou chegaram “às vias de fato” no que diz a corrida política – como os casos dos ex-presidentes Fernando Collor de Mello e Jair Bolsonaro, este último que não dependeu de propaganda eleitoral veiculada na TV ou financiamento no partido.
“O que esses casos têm em comum com sua candidatura? A certeza de que não é apenas dinheiro ou tempo de TV que garantem uma vitória eleitoral. É necessário um discurso forte, postura firme, boas propostas e uma equipe competente. Isso o PSDB sempre teve”, argumenta Covas Neto.
No documento, Covas ainda parabeniza e encoraja Leite a disputar a presidência pelo partido, após divulgação da pesquisa Paraná Pesquisas, que colocou Leite em terceiro lugar na corrida presidencial. “Este resultado é mais do que merecido, fruto de sua conduta firme na administração do Estado do Rio Grande do Sul e de sua postura exemplar como um verdadeiro social-democrata”, afirma.
“Por isso, encorajo-o a aceitar o desafio de ser candidato pelo PSDB. (...) Espero ter contribuído para uma reflexão profunda e para evitar mudanças nas crenças partidárias que poderiam ser interpretadas como mero oportunismo eleitoral, algo que não condiz com sua trajetória e biografia”, finaliza.
Veja a íntegra do documento
“Março de 2025
Exmo. Sr. Eduardo Leite
DD. Governador do Estado do Rio Grande do Sul
Prezado Governador,
Gostaria de parabenizá-lo pela recente pesquisa realizada pela Paraná Pesquisas, que o posiciona em terceiro lugar na corrida presidencial, em empate técnico com o Presidente Lula. Este resultado é mais do que merecido, fruto de sua conduta firme na administração do Estado do Rio Grande do Sul e de sua postura exemplar como um verdadeiro social-democrata.
Aproveito esta oportunidade para compartilhar uma preocupação que tem inquietado a mim e a muitos companheiros tucanos: a constante busca por extinguir o partido, seja por meio de fusões ou incorporações a outras legendas. Em ambos os casos, o PSDB deixaria de existir.
Justificativa para tais ações reside na cláusula de barreira eleitoral, que será ainda mais desafiadora nas próximas eleições, especialmente para um partido fragilizado por alguns insucessos recentes. Além disso, o tempo reduzido de propaganda eleitoral e os recursos limitados do fundo partidário dificultam candidaturas majoritárias, como a Presidência da República, e impactam negativamente a formação de chapas proporcionais em todo o país.
Embora reconheçamos a validade do diagnóstico, discordamos do caminho proposto para solucioná-lo.
Em 1989, na primeira eleição após um longo período de regime militar e sem eleições diretas, o PSDB apresentou candidatura própria, mesmo com apenas um ano de existência. Entre 22 candidatos, e sem estrutura partidária ou eleitoral, o partido utilizou os debates para conquistar eleitores. Apesar das dificuldades, como campanhas com público reduzido e recursos escassos, o PSDB alcançou o quarto lugar, ficando a apenas 3% do segundo colocado. Embora não tenha vencido, pavimentou o caminho para a vitória nas eleições seguintes e em diversos governos estaduais. A semente foi plantada, a árvore cresceu e deu frutos em 1994.
Não estou, de forma alguma, sugerindo uma derrota. Pelo contrário, gostaria de lembrar que o vencedor daquela eleição, Fernando Collor de Mello, também concorreu por um partido pequeno, o PRN, que sequer sobreviveu por muito tempo após sua vitória.
Pode-se argumentar que Collor foi eleito com o apoio da Rede Globo, o que é verdade. No entanto, ele também apresentou um discurso vibrante e envolvente, com o mote da "caça aos marajás", uma estratégia de marketing político eficaz. Ele atacava os "marajás" sem enfrentar respostas, pois ninguém se identificava como tal.
Mais recentemente, Jair Bolsonaro foi eleito pelo PSL, outro partido pequeno que já não existe mais. Sem estrutura ou tempo de televisão, ele venceu a eleição, mesmo enfrentando oposição da Rede Globo, mas com um discurso de combate aos desmandos praticados pelas administrações Lula/Dilma.
O que esses casos têm em comum com sua candidatura? A certeza de que não é apenas dinheiro ou tempo de TV que garantem uma vitória eleitoral. É necessário um discurso forte, postura firme, boas propostas e uma equipe competente. Isso o PSDB sempre teve: bons quadros, boas ideias, princípios republicanos e muitas ações de governo das quais podemos nos orgulhar. O senhor, além de tudo isso, já demonstrou experiência em gestão e popularidade eleitoral.
Por isso, encorajo-o a aceitar o desafio de ser candidato pelo PSDB. Lembre-se de que as coligações partidárias ainda são permitidas, e uma candidatura forte como a sua certamente atrairá o apoio de outros partidos que não possuem um candidato à sua altura e competência.
Espero ter contribuído para uma reflexão profunda e para evitar mudanças nas crenças partidárias que poderiam ser interpretadas como mero oportunismo eleitoral, algo que não condiz com sua trajetória e biografia.
Atenciosamente,
Mário Covas Neto”