Enquanto parte do país se prepara para "aproveitar o feriado", milhões de trabalhadores seguem sem descanso — e se organizam para protestar contra o fim da escala 6x1 nesta quinta-feira (1º), no Dia do Trabalhador — também chamado de Dia da Classe Operária ou Dia Internacional dos Trabalhadores.
A discussão sobre a jornada que prevê seis dias de trabalho para apenas um de descanso ganhou repercussão no TikTok e nas redes sociais graças ao influenciador e vereador Rick Azevedo, criador do movimento Vida Além do Trabalho (VAT), responsável por mobilizar a população a aderir às manifestações. O movimento também colaborou na formulação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 8/2025, apresentada pela deputada Erika Hilton (Psol-SP) no ano passado, que propõe a redução da jornada semanal de 44 para 36 horas. O projeto ainda aguarda despacho na Câmara.
“Queremos saber se a Câmara vai ter interesse político e responsabilidade com a vida dos trabalhadores brasileiros. Que tenhamos condição de fazer esse debate. Algumas conversas com lideranças já ocorreram. Vamos trabalhar duramente em cima dessa proposta”, destacou a deputada em coletiva de imprensa em fevereiro.
Veja onde e quando serão os atos
Norte
- Pará - Belém: Praça do Operário, às 8h30
Nordeste
- Bahia - Salvador: Atento Uruguai (empresa de telemarketing), no bairro Uruguai (Cidade Baixa), às 10h
- Itabuna: Areninha do Bairro Conceição, às 7h
- Pernambuco - Recife: Praça do Derby, às 10h
- Ceará - Fortaleza: Praça Portugal, às 15h
- Alagoas - Maceió: Centro Estadual de Esporte e Lazer (CEEL), antigo parque da lagoa – Bebedouro, 9h
Centro-Oeste
- Distrito Federal: Eixão do Lazer, altura da 106 Sul, às 10h
- Brasília: Esplanada dos Ministérios, às 14h
Sudeste
- Minas Gerais - Belo Horizonte: Praça Sete de Setembro, às 9h
- Rio de Janeiro: Cinelândia, às 14h
- São Paulo: Avenida Paulista, em frente ao Masp, às 10h
- Praça Campo de Bagatelle, às 11h
- São Bernardo: Paço Municipal de São Bernardo, às 10h
- Espírito Santo - Vitória: Concentração na praça Costa Pereira com caminhada até o Sambão do povo, às 8h
Sul
- Paraná - Curitiba: Praça Eufrásio Correia, às 14h
- Maringá: Shopping Avenida Center, às 15h
- Foz do Iguaçu: Campus Jardim Universitário da Unila, às 10h
Rio Grande do Sul
-
Porto Alegre: Casa do Gaúcho (Parque Harmonia), às 14h
-
Cruz Alta: Praça da Matriz, às 15h
- Santa Catarina - Blumenau: Igreja Matriz, Rua XV, às 16h
- Florianópolis: Beira Mar de São José, às 14h
Jovens e mulheres lideram apoio à PEC
Segundo a pesquisa divulgada pela Nexus Pesquisa e Inteligência de Dados, “Os brasileiros e a jornada de trabalho”, 65% dos brasileiros apoiam a redução da jornada de trabalho de 44 horas semanais. Enquanto 27% são contra as mudanças na Constituição, 5% se dizem neutros e 3% não souberam opinar. A pesquisa foi divulgada essa semana e entrevistou 2 mil pessoas entre os dias 10 e 15 de janeiro.
O apoio é especialmente alto entre os jovens de 16 a 24 anos, futuro da força de trabalho brasileira, alcançando 76%. À medida que a idade aumenta, o apoio diminui: 69% na faixa etária de 25 a 40 anos, 63% de 42 a 59 anos e 54% entre aqueles com 60 anos ou mais. Neste último grupo, 34% são contrários às mudanças. A oposição vai caindo gradualmente, até atingir 16% entre os mais jovens.
Quando indagados sobre a redução da carga máxima de trabalho para desempregados, 73% dos respondentes demonstraram apoio. Esse número diminui para 63% entre os que não fazem parte da PEA e para 61% entre os não trabalhadores, como aposentados, pensionistas, estudantes e donas de casa.
A pesquisa faz um recorte de gênero: as mulheres mostram maior aprovação pela Emenda Constitucional (66%) em comparação aos homens (59%). Dedicar o dia a mais de folga para cuidar da própria saúde é mais importante para o público feminino (29%) do que para o masculino (20%). Uma reportagem da Fórum mostrou que as mulheres, historicamente sobrecarregadas com o trabalho do cuidado, acabam negligenciando seu próprio, e como consequência, enfrentam diagnósticos errados ou tardios para mais de 700 doenças.
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A escala 6×1 também impacta principalmente a população trabalhadora negra, segundo uma análise do Núcleo de Estudos Raciais do Insper realizada a partir dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC). Isso ocorre porque as pessoas pretas são a maioria nos setores com as jornadas de trabalho mais longas, e nesses mesmos setores, recebem os salários mais baixos, como agropecuária, extrativismo, alojamento e alimentação, transporte, comércio e construção civil. Em todos esses setores, negros e pardos, de ambos os sexos, são os que recebem as menores remunerações em comparação aos brancos.
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Como surgiu a luta pelo fim da escala 6x1
Em entrevista à Fórum em fevereiro deste ano, Rick Azevedo conta como surgiu o movimento Vida Além do Trabalho e a luta pelo fim da escala 6x1. Na reportagem, especialistas em saúde mental também debatem os impactos dessa escala nas condições psicológicas dos trabalhadores. Para conferir a reportagem completa, basta acessar este link.