Após ter seu recurso contra a cassação negado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) anunciou que irá percorrer os 26 estados brasileiros em uma mobilização em defesa de seu mandato. A decisão foi comunicada por ele em vídeo divulgado logo após a sessão desta terça-feira (29).
"Vou agora percorrer os 26 estados brasileiros, sustentando a defesa, apresentando as nossas razões, mobilizando a luta e vamos enfrentar o plenário no dia 1º de julho", afirmou o parlamentar. A expectativa é que o processo de cassação seja analisado em plenário dentro de até 60 dias.
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Veja vídeo:
CCJ rejeita recurso e mantém parecer do Conselho de Ética
Por 44 votos a 22, a CCJ rejeitou o recurso apresentado por Glauber contra o parecer do Conselho de Ética, que recomendou sua cassação. O relator do caso, deputado Alex Manente (Cidadania-SP), não acatou os argumentos da defesa, que pedia a anulação da decisão por supostos vícios processuais.
Com isso, o caso segue para deliberação do plenário da Câmara, onde a decisão final sobre a perda de mandato dependerá do voto da maioria absoluta dos deputados.
Greve de fome e denúncia de perseguição política
Antes da sessão da CCJ, Glauber realizou uma greve de fome de nove dias como forma de protesto contra o avanço do processo de cassação. O parlamentar afirma ser vítima de uma retaliação política por ter denunciado o chamado “orçamento secreto” – esquema bilionário de repasses com baixa transparência que foi articulado sob a gestão do ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) e posteriormente suspenso pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
“De que eu estou sendo acusado? É a resposta a esse provocador? ‘Ah, Glauber, não cite mais o ex-presidente da Câmara’. Mas a minha pergunta é: a inicial tem especificamente as discussões com o ex-presidente da Câmara?”, questionou durante sua defesa.
Segundo Glauber, a cassação não se deve à reação que teve a um provocador nos corredores da Câmara, mas sim ao seu enfrentamento político a interesses poderosos dentro do Legislativo.
Episódio com o MBL envolveu ofensas à mãe do deputado
O processo contra Glauber teve origem em um episódio no qual ele expulsou fisicamente um integrante do Movimento Brasil Livre (MBL) que o provocava de forma reiterada. Gabriel Costenaro ofendeu a mãe do parlamentar, que estava em estágio terminal de Alzheimer e faleceu menos de um mês após o incidente.
"Você, deputado ou deputada, teria uma atitude diferente da que eu tive naquele dia?", perguntou Glauber, ao defender que reagiu sob forte comoção emocional diante da agressão verbal.
A deputada Laura Carneiro (PSD-RJ), que tem posições políticas opostas às de Glauber, defendeu o parlamentar na CCJ: “Utilizaram a vulnerabilidade do deputado Glauber para provocá-lo. Se fosse minha mãe, não era uma porrada, era um porradaço! Porque ninguém tem o direito de esquecer que nós parlamentares também somos gente.”
O líder do PT na Câmara, deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), também criticou a cassação e apontou a desproporcionalidade da pena: “Tantos casos que existiram. Ninguém foi cassado. O próprio Chiquinho Brazão [acusado de mandar matar a vereadora Marielle Franco] foi cassado por faltas. E vamos fazer isso com esse jovem?”, questionou.
Mobilização popular será aposta até votação no plenário
Glauber afirma estar preparado para enfrentar o que chama de tentativa de silenciamento e vai apostar na mobilização direta da sociedade civil nos próximos dois meses. O roteiro inclui visitas aos estados, encontros com militantes, movimentos sociais e mandatos aliados.
“Eu não estou triste, não. É claro que em determinados momentos a gente se revolta, mas não há tristeza. Há um sentimento de que a gente fez o que tinha que fazer e a toda disposição para seguir mobilizando essa luta”, declarou.