O ex-presidente Jair Bolsonaro vive como um imperador. Ele ostenta uma renda mensal de aproximadamente R$ 100 mil, possui quase R$ 2,5 milhões em patrimônio declarado e ainda embolsou, via Pix, mais de R$ 17 milhões doados por seguidores fanáticos, ou, como muita gente prefere chamá-los, verdadeiros trouxas que o veneram. Mesmo assim, a máquina de arrecadação continua ativa e voltou à carga nos últimos dias. Neste fim de semana, o ex-ministro Gilson Machado, um dos que atuam como uma espécie de porta-voz informal do líder extremista, foi às redes sociais para relançar a campanha de doações em dinheiro para o “mito”, justificando que “cerca de R$ 8 milhões” já teriam sido gastos da fortuna de R$ 17 milhões dada a ele por seus cego admiradores, a maior parte para supostamente custear o filho Eduardo Bolsonaro nos EUA, onde o “03” se “autoexilou” para levar uma vida no melhor estilo yankee sob o pretexto de, a partir de lá, providenciar medidas contra o Brasil, sobretudo tendo como alvo o Supremo Tribunal Federal.
“Agora aumentou a despesa dele. Vi ele preocupado com alguns números ontem, porque está tendo Eduardo Bolsonaro lá nos Estados Unidos, que ele está ajudando também, não está barato morar nos Estados Unidos”, disse Machado no pedido por mais grana.
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Diante dos números apresentados e das alegações que tentam justificar o pedido de mais dinheiro, a Fórum vai apresentar abaixo informações que mostram que o discurso e os argumentos trazidos pelos envolvidos são verdadeiras fanfarronices, unicamente utilizados para abocanhar ainda mais bufunfa oriunda diretamente dos bolsos de seus discípulos encantados, que doam montantes significativos para os espertalhões, para depois ficam furiosos quando são chamados de “gado”. Vale ressaltar que todo a engenharia para auferir milhões não configura algo ilegal ou criminoso, mas apenas esperteza, pois, como diz o velho adágio popular, “todo dia sai um malandro e um otário de casa e, quando eles se encontram, dá negócio”.
Não há nenhuma possibilidade de tais justificativas, como os gastos do filho ou o pagamento de despesas de natureza jurídica, conduzirem a uma alegada situação de penúria que exija o pedido de mais dinheiro, uma vez que o patrimônio do clã e do ex-presidente permitem de forma segura e inequívoca o pagamento das mencionadas contas.
Fortuna acumulada: aposentadorias, salário no PL e bens em nome próprio
Os apelos por mais doações contrastam com o estilo de vida confortável e nababesco do ex-presidente. Bolsonaro acumula duas aposentadorias públicas: uma da Câmara dos Deputados, no valor de R$ 46 mil mensais, e outra do Exército, de R$ 11 mil. Além disso, embolsa um salário de R$ 41 mil como “presidente de honra” do Partido Liberal (PL). Somadas, essas fontes lhe garantem cerca de R$ 100 mil por mês, além do patrimônio declarado de R$ 2,5 milhões em imóveis, veículos e valores financeiros, conforme informado à Justiça Eleitoral em 2022.
Essas cifras, somadas ao montante milionário vindo de doações via Pix (R$ 17 milhões, que se aplicados num investimento comum em qualquer banco renderiam aproximadamente R$ 210 mil por mês, com a atual taxa Selic), seriam suficientes para garantir décadas de estabilidade financeira ao clã, até com muito luxo. Ainda assim, Bolsonaro não apenas continua pedindo mais, como ainda tenta justificar os novos pedidos com supostos gastos familiares.
Pix para bancar Eduardo Bolsonaro: um “autoexílio” milionário
A alegação central é que parte dos valores doados estaria sendo usada para pagar as despesas do deputado Eduardo Bolsonaro, que está morando nos EUA desde 27 de fevereiro, onde se encontra licenciado de seu mandato.
“Eu estou bancando as despesas dele agora. Se não fosse o Pix, eu não teria como bancar essa despesa, ele está sem salário e fazendo o seu trabalho de interlocução com autoridades no exterior. O que queremos é garantir a nossa democracia, não queremos um judiciário parcial. Ele resolveu ficar por lá, nós conversamos quase todos os dias, mas são diálogos reservados. Quero que ele dispute o Senado em 2026, mas precisamos que os ventos mudem. Ainda não sei se ele retorna da licença, estamos na metade do prazo de 120 dias. Eu não quero ficar longe do meu filho, um afastamento familiar”, disse o próprio Bolsonaro.
No entanto, a matemática por trás dessa justificativa desafia a lógica. Se de fato R$ 8 milhões foram destinados ao filho em apenas 81 dias, como sugerido por Gilson Machado, isso implicaria um custo diário de cerca de R$ 97 mil, ou aproximadamente US$ 17,2 mil por dia. Um número que beira o delírio. No mês, o tal gasto seria de US$ 525 mil (R$ 2,97 milhões).
Para efeito de comparação, a renda per capita nos EUA gira em torno de US$ 6,2 mil mensais. Ou seja, um cidadão norte-americano médio vive o mês todo com um terço do que Eduardo Bolsonaro estaria supostamente gastando por dia, conforme as contas dos bolsonaristas.
A Fórum ouviu duas fontes brasileiras que vivem nos EUA. A primeira delas, que mora em Orlando, na Flórida, explicou que uma pessoa com US$ 6 mil por mês vive nesta cidade sulista com excelente qualidade de vida. Se conseguir US$ 10 mil, elevará sua condição a um padrão altíssimo, até com alguns luxos.
Já a segunda fonte, que reside em Washington, capital norte-americana e uma das cidades mais caras do país, explica que com US$ 10 mil mensais a vida de um casal será muito boa, e que com US$ 15 mil o padrão será muito elevado. Eduardo Bolsonaro vive em Arlington, no Texas, uma cidade com um custo de vida bem menor.
Desculpa não colou e então veio o papo de “despesas jurídicas”
Ainda no vídeo publicado no fim de semana, Gilson Machado também cita “despesas jurídicas” como parte do montante consumido, já que a matemática que colocaria os gastos no colo de Eduardo Bolsonaro seria questionada. Jair Bolsonaro é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) pelo envolvimento na tentativa de golpe de Estado que primeiro quis evitar a posse do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e depois derrubá-lo.
“Vocês não têm noção da nossa preocupação com as despesas, centenas e diga-se de passagem de várias origens. Em apenas um ano foram gastos em torno de R$ 8 milhões”, mudou o rumo da prosa o ex-ministro. O problema é que, em casos como o de Jair Bolsonaro, com repercussão nacional e que domina os noticiários diariamente, quase todo o serviço dos advogados é feito sem cobrança de honorários, uma prestação de serviço chamada de “pro bono”.
Ainda que estivesse pagando honorários e gastasse uma fábula, como por exemplo R$ 2 milhões na causa (algo improvável, já que seriam valores muito acima dos praticados), Bolsonaro poderia quitar esses montantes com apenas nove meses de juros de sua aplicação da fortuna de R$ 17 milhões que ganhou, ou, se optasse por pagar de uma só vez, retirando apenas 12% do total que recebeu de "presente".
No entanto, a fala de Machado busca uma outra coisa: reforçar a imagem de suposta perseguição judicial e sacrifício pessoal do “capitão”, típica da retórica bolsonarista. O problema é que, diante do patrimônio declarado, da renda mensal privilegiada e das doações milionárias que recebe de seus seguidores, soa como chantagem emocional barata para continuar explorando uma base fiel e cega, que financia, sem questionar, um estilo de vida vergonhosamente parasitário.