RESPEITO

Organizações apoiam Marina Silva e cobram punição de senadores

Violência política de gênero aconteceu seis dias após aprovação do PL da Devastação pela bancada ruralista no Senado; ministra é principal força contra o desmonte ambiental no país

Marina Silva, ministra de Estado.Créditos: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Além de diversos ministros do governo Lula e parlamentares declararem apoio à Marina Silva, o Ministério das Mulheres e mais de cem entidades integradas à rede do Observatório do Clima (OC) publicaram notas de repúdio ao ato misógino ocorrido no Senado contra a ministra de Estado responsável pelo Ministério do Meio Ambiente e do Clima nesta terça-feira (27), reforçando que Marina não está sozinha.

A ministra das Mulheres, Márcia Lopes, descreveu o caso como “muito grave, lamentável, além de misógino”. Ela defendeu que os envolvidos se responsabilizem: "Ela foi desrespeitada e agredida como mulher e como ministra por diversos parlamentares — em março, um deles já havia inclusive incitado a violência contra ela", disse.

"Toda a minha solidariedade e apoio à Marina Silva, liderança política respeitada e uma referência em todo o mundo na pauta do meio ambiente. É preciso que haja retratação do que foi dito naquele espaço e que haja responsabilização para que isso não se repita"

Já o Observatório do Clima, rede formada por 133 entidades ambientalistas da sociedade civil, afirmou em comunicado que tudo o que se viu foi "covardia e ódio contra uma mulher" e destacou que as "agressões aconteceram seis dias após o Senado ter aprovado o maior retrocesso ambiental legislativo em quatro décadas", como também mostrou a Fórum. Veja a íntegra:

Covardia e ódio contra uma mulher. Foi o que se viu nesta terça-feira (27/5) no Senado Federal, em ato de violência política de gênero contra a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva.

Os agressores são os senadores Plínio Valério (AM), líder do PSDB, e Marcos Rogério (PL-RO), que presidia a audiência pública da Comissão de Infraestrutura, em mais um capítulo da pressão pela exploração de petróleo na bacia da Foz do Amazonas.

A agredida é uma mulher negra da Amazônia e ministra de Estado pela segunda vez. Em dois anos, o trabalho da equipe liderada por ela resultou numa redução de 46% do desmatamento na Amazônia em relação a 2022, segundo dados do Inpe. Marina é muito maior do que eles.

O Observatório do Clima (OC), rede com 133 organizações, repudia qualquer ato de machismo e violência política e espera que os senadores sejam punidos.

Em março, o OC já havia manifestado solidariedade à ministra após ataques criminosos do senador Plínio Valério, que disse ter vontade de enforcá-la.

As agressões desta terça-feira ocorreram seis dias após o Senado ter aprovado o maior retrocesso ambiental legislativo em quatro décadas: o Projeto de Lei 2.159/2021, que desmonta as regras do licenciamento ambiental no país.

Após a sessão sinistra no Senado, que acertadamente abandonou, a ministra e ex-senadora por 16 anos declarou: “O licenciamento ambiental é uma conquista da sociedade brasileira. Neste momento, sinceramente, só o povo brasileiro pode evitar esse desmonte que está sendo proposto. Eles pensam que estão agredindo uma pessoa. Estão agredindo um povo. O futuro de um povo. Os direitos de um povo. E até mesmo os interesses econômicos e estratégicos de um povo com esse tipo de atitude. Eu quero ver como a gente vai continuar conseguindo os mesmos resultados positivos (…) se demolirem a vértebra da proteção ambiental, que é a lei do licenciamento. Agora, o presidente da Câmara, Hugo Motta, tem a chance de dar o devido tempo para que a gente faça o debate correto.”

'Camadas de abjeção'

Ao Jornal da Fórum na noite desta terça (27), a jornalista entrevistada Laura Capriglione destacou que o caso foi um ataque à sociedade e todas as mulheres brasileiras. Ela também comenta a trajetória e atuação da ministra, que vai muito além do que os senadores na ocasião alcançariam diante da História. "Tudo de errado. É tanta camada de abjeção que a gente tem, quer dizer, obviamente essa fala, essa expressão, põe-se no seu lugar, não é uma coisa que você fale com o teu filho, é uma coisa que você fala com a tua empregada preta. É isso que é, não é? Põe-se no seu lugar. Por isso que a Marina pegou e ressaltou que ela é uma mulher negra, que tem uma história, que é ministra. Esses caras são nojentos", disse.

"[Marina] ainda respondeu de maneira bastante enfática que ela ficou fora do governo durante 15 anos e que, portanto, se não construiu a estrada [BR319], certamente não é alguma coisa que possa estar na conta dela, porque ela não estava nem no governo. Esses dois, um falou, se absorponha-se no seu lugar e o outro pegou e simplesmente falou o seguinte, que ela não merecia nenhum respeito como ministra, como ministra", destacou.

Segundo ela, a resposta de Marina aconteceu foi assertiva. "Como mulher, sim, mas como ministra, não. E aí a Marina, obviamente, respondeu à altura. Como se eu não mereça o respeito como ministra se estou aqui para falar como ministra? Então, se o senhor não consegue ter respeito por alguém que foi convidado por essa casa para vir expor o seu ponto de vista do ministério, então eu não tenho o que fazer aqui".

Cilada

O PL da Devastação, maior retrocesso ambiental da história do Brasil aprovado semana passada no Senado, foi duramente criticado pela ministra nos últimos dias, motivo que levou a sua tentativa de desgaste. Com razão, Marina destacou que o projeto oferece risco a área ambietais protegidas e fragiliza o papel das instituições de controle, como o próprio Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). "Contraria decisões do STF que reconheceram a inconstitucionalidade da LAC para atividades de médio impacto ambiental", afirmou em nota o Ministério do Meio Ambiente, chefiado por Marina.

Ainda de acordo com Laura, o PL acaba "com a história da avaliação por órgãos técnicos e tal e substitui isso por uma declaração de responsabilidade. É uma loucura. Então, a Marina foi, de fato, profundamente ofendida e eu acho que há uma gritaria ali das mulheres. As mulheres sentiram o desrespeito, sentiram a ofensa e se posicionaram enfaticamente. E eu achei muito importante a Gleisi ter se posicionado. Sobre esses dois caras", comenta.

"Esse é que é o problema. Os caras querem fazer é o libera-geral e substituem um monte de estudos de impacto ambiental por uma autolicença, onde o empreendedor se compromete a preservar o meio ambiente lá e reduzir os danos."

Assista entrevista completa

'Meu lugar é onde toda mulher deve estar'

A ministra de Meio Ambiente, Marina Silva, abandonou audiência na Comissão de Infraestrutura do Senado, onde compareceu como convidada, após um novo ataque misógino do líder do PSDB, Plínio Valério (PSDB-AM).

A nova agressão, nesta terça-feira (27), aconteceu pouco mais de dois meses após Valério dizer que queria "enforcá-la" durante cerimônia da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio), em 14 de março.

"Imagine o que é tolerar Marina 6 horas e dez minutos sem enforcá-la", disse o senador tucano, sobre a participação de Marina na CPI das ONGs, no Senado. Nesta terça, Valério voltou à tona e desferiu novo ataque misógino na comissão, comandada pelo bolsonarista Marcos Rogério (PL-RO). Em sua intervenção, em meio a ataques de bolsonaristas, o tucano disse que queria separar "a ministra da mulher", porque  "mulher merece respeito, a ministra não".

Antes do ataque do tucano, Marina teve o microfone cortado diversas vezes por Rogério, que reclamou dizendo que gostaria que ela "fosse uma mulher submissa". "E eu não sou", rebateu a ministra. "Me respeite, ministra, se ponha no teu lugar”, gritou Rogério, impedindo a ministra de falar e alegando que pediu que ela se colocasse em seu "lugar de ministra de Estado".

"Após mais uma agressão do senador Plínio Valério, lhe dei a opção de pedir desculpas, mas ele se negou. Por isso me retirei da sessão. Não posso aceitar ser agredida e não posso me calar quando atribuem a mim responsabilidades que não são minhas", declarou a ministra. 

“O que não pode é alguém achar que porque você é mulher, porque você é preta, porque você vem de uma trajetória de vida humilde, que você vai dizer quem eu sou e ainda dizer que eu devo ficar no meu lugar. O meu lugar é onde todas as mulheres devem estar. O meu lugar é o lugar da defesa da democracia, o meu lugar é o é o lugar da defesa do meio ambiente, do combate à desigualdade, do desenvolvimento sustentável, da proteção da biodiversidade, de projetos de infraestrutura necessários ao país, mas com os regulamentos necessários para não destruirmos o nosso meio ambiente, as bases naturais do nosso desenvolvimento”, respondeu Marina.

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