Autor do vídeo em que expõe a "caixa-preta" de Nikolas Ferreira (PL-MG) após prisão do primo por tráfico de drogas, o vereador Pedro Rousseff (PT) afirmou em entrevista ao Fórum Onze e Meia nesta segunda-feira (2) que a comunidade Cabana do Pai Tomás foi tomada pelo narcotráfico evangélico após a eleição do deputado bolsonarista.
ASSISTA: Pedro Rousseff expõe "caixa preta" de Nikolas Ferreira após prisão do primo por tráfico de drogas
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A Cabana do Pai Thomás é o local onde Nikolas nasceu e onde o pai dele, o pastor Edésio de Oliveira, fundou a Igreja Graça e Paz, que foi visitada por Jair Bolsonaro (PL) em outubro de 2023.
“Enquanto estive à frente do Executivo não se falava em levar avante propostas como aborto, liberação da maconha, marco temporal, relativização da propriedade privada. Foi só ocorrer o segundo turno - que um dia nos saberemos de tudo o que aconteceu -, que parece que as portas lá de longe se abriram”, disse Bolsonaro na ocasião.
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"32 quilos de maconha foi o que a polícia pegou nesse caso. E o que a polícia não pegou?", indaga Rousseff.
"Para quem não sabe, o Nikolas - ele fala isso de forma pública - nasceu aqui em Belo Horizonte numa grande comunidade chamada Cabana do Pai Tomás. Uma comunidade de 50 mil pessoas. [...] Desde a eleição dele para deputado federal, por coincidência, o narcotráfico evangélico tomou a comunidade da Cabana do Pai Tomás", emendou.
O vereador ainda traça um comparativo com o Rio de Janeiro, onde a facção “Tropa de Arão” — uma figura cristã, irmão de Moisés - usa a bandeira de Israel para mostrar as comunidades em que domina o tráfico de drogas no que é chamado de narcopentecostalismo ou narcotráfico evangélico.
"A Cabana do Pai Tomás virou referência negativa, que é a única comunidade de Minas Gerais que é tomada pela facção evangélica. E é justamente a comunidade onde o Nikolas nasceu e o pai dele tem uma grande igreja", afirma Rousseff.
"Não é a ponto de acusar nada para ninguém, mas a ligação do primo dele, preso por tráfico de drogas internacional, do tio, que ganhou emendas multimilionárias do povo mineiro, e somado ao fato do total comando da facção evangélica na Cabana do Pai Tomás. Nós não estamos aqui para acusar o Nikolas, mas queremos investigação e transparência", seguiu.
O vereador fez referência a cerca de R$ 1,5 milhão em emendas enviadas por Nikolas à cidade de Nova Serrana, no sul do Estado, em 2024, quando o tio Enéas Fernandes (PL), pai de Glauco, disputou a eleição para prefeito - ele foi derrotado por Fabio Avelar (Avante).
Rousseff ainda colocou em xeque a informação divulgada por Nikolas de que se tratava de um parente distante. "A história não acaba por ai, esse primo não era distante. O próprio Nikolas conta casos com esse primo".
Passeio de uno com primo e "caras armados"
Em entrevista em fevereiro deste ano, conforme revelou a Fórum, Nikolas fala de um passeio de Uno por Belo Horizonte com um "primo" e "caras armados" supostamente para levar um foragido para se entregar à polícia.
Na entrevista, o deputado bolsonarista fala ainda que nasceu em 2003 na "favela Cabana" que, segundo ele, "era a mais perigosa de Minas Gerais", e que teve um tio traficante. "Meu tio, infelizmente, era envolvido também em tráfico e morreu, não por conta disso, mas enfim Jesus elvou ele de uma forma bem tranquila".
Mais adiante, ao ser abordado sobre uso de narcóticos, que "causam uma reação química, que é o caso da bebida e da droga", Nikolas conta uma história que, segundo ele, seria inédita.
Segundo ele, o caso aconteceu em 2012 quando ele e o primo foram comer um bolo de aniversário de um amigo na Praça do Papa que, segundo ele, "é conhecida por ter muita gente que fuma maconha".
"Meu primo tava conversando com um e eu conversando com o amigo dele", disse. "Aí meu primo chegou e falou, mano, é o seguinte, esse cara aqui tá foragido, ele quer se entregar e ele quer ir se entregar agora. Falei, isso, sei lá, duas horas da manhã. Falei, uai, velho, beleza, então tá bom. Aí o cara olhou dentro do meu olho e falou assim, a gente veio junto, nós vamos voltar junto", emendou.
Nikolas então conta que teria resolvido levar o rapaz para se entregar e entrou com o primo e "caras armados" em um "Uninho" para levar o suposto foragido a uma delegacia.
"Aí eu falei, puta merda, eu vou morrer aqui, velho. Aí eu falei, não, irmão, calma, decisão do seu amigo, tranquilo, o cara quer ficar de boa, se entregar, o cara está devendo. Aí eles conversaram e falaram, beleza, então. Aí deram tchau e tal, falaram, fica com o meu ferro aqui, os caras estavam armados. Fica com o meu ferro aqui e tal, não sei o que, entramos tudo dentro do carro, meu amigo tinha um uninho, sabe, um Uno Mile, aquele bem azulzinho, entramos todo mundo", contou.
O bolsonarista, então, diz que rodou a capital mineira e chegou a uma delegacia, mas o foragido não teria sido preso porque os policiais estariam em greve e que deixou o rapaz "na casa do pai dele" - veja vídeo.
Prisão
Primo de Nikolas Ferreira, Glaycon Raniere de Oliveira Fernandes foi preso em flagrante por tráfico de drogas na semana passada durante uma operação de rotina em Uberlândia, no Triângulo Mineiro. Segundo informações das autoridades policiais e registros do sistema carcerário, ele foi detido com 30 quilos de maconha e quatro gramas de cocaína, e está custodiado no Presídio Professor Jacy de Assis.
Glaycon é filho de Enéas Fernandes (PL), tio de Nikolas que foi candidato a prefeito de Nova Serrana (MG) em 2024. Meses antes das eleições, Nikolas destinou cerca de 1,5 milhão de reais em emendas à cidade. Mesmo com toda a dinheirama do sobrinho, Enéas foi derrotado por Fabio Avelar (Avante).
Cobrado, o deputado bolsonarista se pronunciou nas redes durante o final de semana.
"Pra mim não é uma situação que merece que eu perca meu tempo, até porque não é algo que me envolve. Se qualquer pessoa, seja relacionada a mim de alguma forma ou não, cometer crime, ela tem que pagar por isso. É bem simples. O que eu vejo é mais uma tentativa frustrada de desgastar minha imagem. E mais uma vez sem sucesso", disse o parlamentar no X, antigo Twitter.
Ele ainda ironizou a divulgação da detenção. "Agradeço por este presente de aniversário. Porque mesmo meu primo sendo preso há 7 dias, fizeram questão de noticiar no meu aniversário". As autoridades policiais responsáveis pela prisão estão sob comando do governo de Minas Gerais, que tem como titular Romeu Zema (Novo), próximo ao bolsonarismo.
