ENTREVISTA

Juliano Medeiros: cargo para Eduardo Bolsonaro em governo bolsonarista é deboche com povo

Ao Fórum Onze e Meia, cientista político avaliou situação do deputado diante de possível cassação de mandato

Deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).Créditos: Agência Câmara
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O cientista político e ex-presidente do PSOL, Juliano Medeiros, esteve no Fórum Onze e Meia desta quinta-feira (24) para comentar sobre o cenário político diante da articulação entre Donald Trump e o clã Bolsonaro para atacar o Brasil e sua soberania. Medeiros falou sobre a situação do deputado licenciado nos Estados Unidos, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), um dos responsáveis por essa articulação, e que agora corre risco de perder o mandato de voltar ao Brasil. 

Desde que fugiu para os EUA, Eduardo é alvo de diversos pedidos de investigação e cassação de mandato por seus ataques e ameaças contra o Judiciário brasileiro. Em inquérito aberto pela Polícia Federal (PF) a pedido do ministro Alexandre de Moraes, o deputado é investigado por três crimes: coação no curso do processo, obstrução de investigação e abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Diante da possibilidade do deputado ser preso ao voltar o Brasil, governadores bolsonaristas, como Cláudio Castro (PL-RJ), Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) Jorginho Mello (PL-SC) começaram a articular formas de manter seu mandato legislativo através de um cargo estadual. 

Juliano avaliou que essa possibilidade de Eduardo Bolsonaro encontrar guarida em um bolsonarista é um "escárnio completo" e um "deboche" com o povo brasileiro. No entanto, o cientista político afirmou que, mesmo que os governadores queiram bancar esse "desgaste", é pouco provável que isso se concretize, pois o Supremo deve interferir. Ele citou, por exemplo, o caso de Lula e da ex-presidente Dilma Rousseff na época da prisão do presidente, em que ele seria nomeado como ministro, mas o STF barrou sua nomeação. "Veja, nós estamos falando, no caso, do presidente Lula, de um ex-presidente da República que ia ser nomeado como principal ministro de um governo e o Supremo deu uma canetada", relembrou Medeiros. 

"Eu acho impossível que, caso algum dos governadores bolsonaristas queira bancar esse absurdo de receber como secretário alguém que está conspirando sistematicamente contra o Brasil, que está nos Estados Unidos ajudando outro país a prejudicar o nosso país, que nenhuma instância do judiciário aja", avaluou o cientista. 

Medeiros ainda acrescentou que essa possibilidade demonstra a "cara de pau" desses governadores de não só conceder um cargo para alguém que está conspirando contra o Brasil, mas também de ignorar o fato de que "qualquer um que se aproxime do Eduardo Bolsonaro agora está se aproximando de material radioativo". "Você ignorar isso e nomear esse cara como secretário do seu governo, para além dos custos políticos, vai ter um custo judicial e administrativo grande. Então, eu acho pouco provável que alguém banque essa posição", destacou Medeiros. 

"Nem Jair, nem Eduardo estarão em qualquer urna em 2026"

Medeiros também falou sobre a situação de Eduardo Bolsonaro para as eleições de 2026. Ele afirmou que, diante de tantos crimes cometidos pelo deputado nas últimas semanas, é provável que seu mandato seja realmente cassado, o que gera inabilidade de acordo com a Lei da Ficha Limpa. Além disso, o filho do ex-presidente ainda responde a processos no Supremo. 

"Se condenado em qualquer um deles, também gera inelegibilidade de 8 anos. Então, eu acho muito difícil que o Eduardo Bolsonaro possa ser candidato. Pode ser que ele não esteja preso, pode ser que não esteja condenado em definitivo, mas a Lei da Ficha Limpa fala em condenação por órgão colegiado em segunda instância. Então, digamos que ele seja condenado, no caso do STF, não tem segunda instância, né? O STF já é a primeira e a última instância", disse Medeiros. 

Portanto, ele afirmou que é muito provável que em 2026 o país tenha não só Jair Bolsonaro inelegível, como também Eduardo. Além disso, ele relembrou que Flávio Bolsonaro também tem um processo de cassação contra ele no Senado, movido pelo próprio Juliano na época em que era presidente do PSOL, devido ao esquema de rachadinhas. 

"Se o Flávio botar a cabeça fora da água e se associar de alguma forma a essa conspiração que está em curso entre o Bolsonaro filho e Bolsonaro pai, ele pode criar contra si também condições para uma cassação no Senado", analisou Medeiros. Ele esclareceu que é mais difícil cassar senador no Brasil e são raríssimos os casos, mas destacou que "o clima para a família Bolsonaro é muito ruim"

"Então, nesse momento, a minha avaliação é que nem Jair, nem Eduardo estarão em qualquer urna em 2026, sendo que o Jair provavelmente não só não vai estar na urna, como vai estar também numa carceragem da Polícia Federal em algum lugar do país", finalizou Medeiros. 

Confira a entrevista completa do cientista político Juliano Medeiros Fórum Onze e Meia

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