A prisão domiciliar de Jair Bolsonaro, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), reacendeu a movimentação de extremistas e levou figuras conhecidas do bolsonarismo radical a incitar novos atos golpistas em Brasília. Entre eles, está o desembargador aposentado Sebastião Coelho, que na noite desta segunda-feira (4) convocou manifestantes a acamparem em frente à residência oficial do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), com o objetivo de pressioná-lo a pautar um pedido de impeachment contra Moraes.
“Vá para a porta de Davi Alcolumbre. Vá para a porta do Partido União Brasil que já tem um povo acampado lá na porta do Alcolumbre até ele pautar o impeachment de Alexandre de Moraes", disse Sebastião Coelho em frente à casa de Bolsonaro na capital federal.
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A declaração ocorre em um contexto de crescente tensão em Brasília. Logo após a determinação de Moraes para que Bolsonaro fique em prisão domiciliar, apoiadores do ex-presidente realizaram buzinaços e carreatas contra a medida do ministro, que apontou "reiterado descumprimento de medidas cautelares" por parte do ex-mandatário. Moraes destacou que Bolsonaro "ignorou e desrespeitou" a Corte ao participar por telefone de atos bolsonaristas no domingo (3).
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Diante da escalada golpista, a Polícia Militar do Distrito Federal bloqueou a via de acesso à Praça dos Três Poderes, impedindo que os bolsonaristas chegassem ao STF, palco de ataques em 8 de janeiro de 2023 – quando acampamentos em frente a quartéis e a leniência de autoridades locais resultaram na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, ápice da tentativa de golpe de Estado liderada por Bolsonaro e seus aliados.
Com a área central isolada, os extremistas se dirigiram até o condomínio do ex-presidente, no Jardim Botânico, onde Bolsonaro cumprirá prisão domiciliar. O ato reuniu cerca de uma centena de pessoas, incluindo o próprio Sebastião Coelho e parlamentares bolsonaristas, como os deputados Evair de Melo (PP-ES) e Bia Kicis (PL-DF).
Bolsonaro em prisão domiciliar
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou nesta segunda-feira (4) a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro. Moraes justificou a decisão afirmando que Bolsonaro desrespeitou as medidas cautelares. A Polícia Federal (PF) realizou busca e apreensão na casa do ex-mandatário. Um celular de Bolsonaro foi apreendido.
Segundo Moraes, Bolsonaro quebrou a proibição de manter contato com outros investigados, participou de eventos políticos e utilizou redes sociais para realizar manifestações consideradas ofensivas ao STF, contrariando determinações judiciais anteriores. Em razão dessas violações, o ministro reforçou a necessidade de medidas mais severas para assegurar o cumprimento das ordens da Corte.
Moraes ressalta que Bolsonaro tem praticado "o reiterado descumprimento das medidas cautelares impostas demonstra absoluto desprezo pelas determinações judiciais e pelas instituições democráticas”
Entre as novas restrições estão o uso obrigatório de tornozeleira eletrônica, a proibição de qualquer deslocamento não autorizado, o bloqueio total de redes sociais e a vedação de visitas políticas. Bolsonaro também terá comunicação limitada apenas a familiares diretos, advogados e profissionais de saúde.
“Não é admissível que um ex-chefe de Estado utilize sua influência política para afrontar decisões judiciais e incentivar a desordem institucional [...] As condutas aqui verificadas evidenciam a necessidade urgente de medidas mais severas para preservar a ordem pública e a autoridade da Justiça", destaca Alexandre de Moraes.
A decisão representa um endurecimento significativo da resposta do STF frente à conduta do ex-presidente e ocorre em meio a um ambiente político já tensionado. A prisão domiciliar, acompanhada de monitoramento eletrônico, marca um passo inédito na relação entre o Judiciário e um ex-chefe de Estado brasileiro.
“A adoção da prisão domiciliar e do monitoramento eletrônico é imprescindível para coibir a continuidade das práticas ilícitas e assegurar a efetividade das decisões deste Supremo Tribunal. O Estado Democrático de Direito não pode tolerar reiteradas afrontas às suas instituições sob pena de grave risco à própria democracia", afirma Alexandre de Moraes em sua decisão.
Entenda ponto a ponto a decisão Alexandre de Moraes
A decisão do ministro Alexandre de Moraes que determinou a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro aponta descumprimentos reiterados de medidas cautelares previamente impostas e estabelece novas restrições ao ex-presidente.
Descumprimentos de Jair Bolsonaro
- Quebra da proibição de contato com outros investigados: Bolsonaro manteve comunicação com pessoas diretamente envolvidas nos inquéritos em andamento.
- Manifestações públicas e declarações políticas: O ex-presidente realizou discursos e postagens em redes sociais que afrontaram a determinação de não utilizar plataformas digitais para atacar instituições ou autoridades.
- Participação em eventos políticos: Ele participou de manifestações e atos que violaram a ordem judicial de distanciamento de atividades que pudessem influenciar investigações ou incitar ataques ao STF.
Novas medidas determinadas por Moraes
- Prisão domiciliar monitorada: Bolsonaro deverá permanecer em casa, com uso de tornozeleira eletrônica, sob vigilância constante.
- Proibição de visitas não autorizadas: Qualquer encontro presencial com aliados políticos ou investigados será vetado, salvo autorização expressa da Justiça.
- Bloqueio total do uso de redes sociais: Além das contas já suspensas, Bolsonaro fica impedido de criar novos perfis ou utilizar terceiros para publicar mensagens em seu nome.
- Restrição de deslocamentos: Está proibido de participar de eventos políticos, manifestações ou reuniões públicas.
- Comunicação limitada: Contatos serão restritos apenas a familiares diretos, advogados e profissionais de saúde, se necessário.
Essas medidas, segundo Moraes, têm como objetivo garantir o cumprimento das ordens judiciais anteriores e preservar a integridade das investigações em curso.