Dividindo a prisão domiciliar com Jair Bolsonaro (PL), na mansão alugada pelo PL para a família em um condomínio de luxo em Brasília, Michelle Bolsonaro (PL) tem disputado com os filhos o papel de porta-voz do ex-presidente, que também está proibido de usar as redes sociais e carrega uma tornozeleira eletrônica para evitar a fuga.
Em meio à briga com Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que tenta se viabilizar como protagonista do clã após o pai ser calado, Michelle foi ao Instagram nesta quinta-feira (7) fazer campanha pelo impeachment de Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) considerado algoz pelo clã.
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Em uma sequência de três stories, Michelle divulgou o "placar nacional do impeachment de Alexandre de Moraes" e aderiu ao achaque da bancada neofascista ao expor nomes de senadores "indefinidos", como Ciro Nogueira, presidente do PP e ex-ministro da Casa Civil, que foi o primeiro a visitar Bolsonaro na prisão em sua mansão.
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Nogueira já afirmou que não vai assinar o pedido de impeachment contra o ministro por não ter o mínimo de 53 votos para aprovação do tema, que derrubaria Moraes e colocaria em xeque as condenações contra Bolsonaro - entre elas a que o deixou inelegível até 2030, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) - e o julgamento da quadrilha golpista.
O ex-ministro chegou a protagonizar um bate-boca nas redes sociais com o guru Silas Malafaia, que o chamou de "traidor". "Eu não me meto na sua igreja e se o senhor quiser ser senador e se candidatar e liderar o movimento político que quiser será muito bem-vindo", rebateu Nogueira.
Na tréplica, Malafaia, que busca viabilizar a candidatura de Michelle Bolsonaro à Presidência, acusou o aliado "de ser preconceituoso contra um pastor" e o chamou de "camaleão oportunista".
Michelle x Flávio
A prisão domiciliar de Bolsonaro expôs as vísceras da disputa interna dentro da ultradireita neofascista e dentro do próprio clã, onde a madrasta, Michelle Bolsonaro, presidenta do PL Mulher, disputa o papel de "porta-voz" do ex-presidente com os filhos do primeiro e segundo relacionamentos dele.
Em meio à balbúrdia no Senado, com bolsonaristas como Magno Malta (PL-ES) se acorrentando à mesa diretora, Flávio Bolsonaro (PL-RJ) mandou um recado para a madrasta e mostrou irritação ao ser indagado pelo jornal O Globo se Michelle assumiria o protagonismo com a prisão de Bolsonaro.
"Eu não vejo muito o perfil da Michelle para isso. Ela não fala muito com a imprensa, não gosta de dar entrevista. Todos os parlamentares que estão aqui podem ser porta-vozes", disse.
De perfil mais articulador, o senador busca se colocar como alternativa do clã para disputar a Presidência em 2026 caso o irmão, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que conspira contra o Brasil dos EUA não volte ao país a tempo de viabilizar sua candidatura.
"O senador Flávio Bolsonaro, na ausência do Eduardo, que espero ser momentânea, assume a articulação da família no Congresso Nacional. Ele, como político moderado, é capaz de fazer essa articulação e, independente dos laços familiares, representa os nossos valores", confirmou o senador Carlos Portinho (PL-RJ) a'O Globo.
No entanto, na cúpula do PL a avaliação é que Flávio tem telhado de vidro, especialmente em relação ao esquema de corrupção das rachadinhas - cuja investigação foi derrubada em manobra no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Com isso, ele poderia facilmente expor não só as próprias sombras, mas o lado obscuro que o clã tenta esconder.
Por outro lado, Michelle, que convive com Bolsonaro dentro da prisão domiciliar, já foi colocada por aliadas como porta-voz do marido.
"Ela se tornou voz de um movimento de direita forte e determinado a enfrentar injustiças e perseguições", declarou Damares Alves (Republicanos-DF).
"No momento, é a pessoa que pode falar com ele o tempo inteiro. Então, claro, é porta-voz", emendou Bia Kicis (PL-DF).
A ex-primeira-dama tem a preferência de figuras evangélicas, como o guru Silas Malafaia, e do presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, que tem dado cerca de R$ 860 mil a Michelle para cumprir agendas como presidenta do PL Mulher.
Além disso, Costa Neto seria o principal defensor da ex-primeira-dama junto a Bolsonaro, que começa a se convencer de que a esposa poderia levar o nome da família à uma chapa presidencial - seja na cabeça ou como vice.
Traição?
Entre os filhos, porém, a desconfiança é crescente. Michelle já teve atritos com Carlos e Jair Renan Bolsonaro, que têm se mantido mais distantes.
Com a nova briga envolvendo o "01" da família, os filhos acreditam que o melhor a fazer é colocar alguém de sangue na disputa, visto a possibilidade de Michelle trair o clã ao se encantar pela política partidária.
A desconfiança encontra precedente na família. Jair Bolsonaro já viveu isso com Rogéria Nantes Bolsonaro e chegou a emancipar Carlos Bolsonaro aos 16 anos para entrar na disputa e tirar o mandato de vereadora da própria mãe na Câmara Municipal do Rio, em 2000.
À época, Bolsonaro já vivia com Ana Cristina Valle, mãe de Jair Renan, e colocou Carlos na disputa para tirar os votos da ex-esposa, deixando Rogéria fora da Câmara do Rio.
Em 2022, uma outra briga pelo espólio eleitoral do ex-presidente envolveu Michelle e Ana Cristina, que registrou a candidatura com o sobrenome Bolsonaro para disputar uma vaga na Câmara Legislativa do Distrito Federal.
"Em Brasília, o meu irmão Eduardo Torres é o nosso único candidato ao cargo de deputado distrital. Não existe apoio a nenhum outro candidato. Fica o alerta para 'os alpinistas' que estão tentando subir na vida, usando o nosso sobrenome", escreveu a primeira-dama nas redes sociais, desautorizando Ana Cristina, apesar n??o citá-la nominalmente.
Jair Renan, então, tomou as dores da mãe e resolveu rebater a atual esposa de seu pai. "Minha mãe Cristina Bolsonaro teve uma história de vida com o atual Presidente Jair Messias Bolsonaro, onde foram casados por 16 anos, e sou fruto desta relação; onde houve parceria e muito amor. Portanto, não podemos negar o fato de que minha mãe teve sua contribuição com a chegada do meu pai à Presidência da República", disse.
"Por esse motivo, minha mãe tem direito de usar o sobrenome do meu pai, não por vaidade, mas por fato e direito", prosseguiu o filho de Bolsonaro.
Após a treta, o filho "04" de Bolsonaro virou alvo de operação da Polícia Federal. A reação de Michelle nas redes deu o tom para como se dá a relação na "tradicional" família Bolsonaro: "Senhor, obrigada por mais este dia".