Do STF, em BRASÍLIA | A ministra Cármen Lúcia e os ministros Flávio Dino e Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), se intercalaram para tecer críticas indiretas, sem mencionar nomes, ao colega Luiz Fux, que protagonizou pouco mais de 13 horas de leitura de seu voto, nesta quarta-feira (10).
A ministra Cármen Lúcia, que chegou a citar os autores Maquiavel e Victor Hugo para pontuar suas divergências, ironizou o excesso de páginas dizendo que não leria todo o seu voto, em contraste com a postura de Fux ontem. Ao conceder a palavra a Dino, destacou ser “da prosa”, diferentemente do colega que recusara apartes.
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"Isso é um golpe de estado. Sim, mas um golpe para o bem! O mal feito pelo bem continua sendo mau. Mesmo quando tem sucesso? Principalmente! Por que se torna um exemplo e vai se repetir", leu o poema 'História de um Crime' de Victor Hugo.
Dino, por sua vez, explorou o tema do “voto impresso” como metáfora para criticar incoerências, além de reforçar que não havia novidade no julgamento a ponto de justificar a prolixidade de Fux.
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Alexandre de Moraes também entrou no tom, lembrando que “não estavam em julgamento Mauro Cid ou Braga Netto presidentes, mas sim o líder da organização criminosa, Jair Bolsonaro”, desconstruindo de vez a tese central levantada pelo colega.
Entre apartes bem-humorados e observações mordazes — como a menção de cartazes em inglês que bolsonaristas preparavam “para ir à Disney” —, os ministros sinalizaram unidade contra a tentativa de relativizar as provas do golpe, destacando que a fartura documental era inédita até mesmo em comparação ao regime de 1964, quando só vieram à tona evidências anos depois.
10 vezes em que Fux foi citado indiretamente pelos colegas
- Cármen Lúcia: “Eu escrevi 395 páginas, mas eu não vou ler todas, tá?”
- Flávio Dino: “A senhora me concede um aparte?” Cármen Lúcia: “Concedo todos os apartes, sou da prosa.”
- Flávio Dino: “Está aqui o meu voto impresso. Voto impresso que não lerei de jeito nenhum — se tem voto eletrônico não precisa de voto impresso.”
- Cármen Lúcia: “Não há nada de novo para mim, vou votar do jeito que sempre votei.” (em referência à incoerência dos votos de Fux)
- Alexandre de Moraes: “Espero que não esteja arrependida.” (em possível alusão à ex-presidenta Dilma Rousseff, que indicou Fux)
- Cármen Lúcia: “Termina que eu tenho voto pra dar.” E completou: “Eu quero falar.” (arrancando risadas)
- Alexandre de Moraes (sobre os cartazes de bolsonaristas): “Até em inglês, né? Já preparavam pra ir pra Disney.”
- Cármen Lúcia (citando Maquiavel): “Chegar no poder é fácil, se manter nele é que é difícil.”
- Alexandre de Moraes (rebatendo a tese de Fux): “Aqui não está Mauro Cid presidente, não está Braga Netto presidente... aqui está o líder da organização criminosa presidente: Jair Messias Bolsonaro.”
- Flávio Dino: “Nessa tentativa agora só faltou ata. No golpe de 64 tinha menos provas documentais, só surgiram com a abertura dos arquivos dos EUA.” Cármen Lúcia (sobre as provas): “Estamos em uma sociedade em que as pessoas querem tanto se mostrar mais do que ser, que querem mostrar que estiveram lá, participaram, e aí fazem documentação. A documentação que veio chegou a incluir uma pasta intitulada ‘memórias importantes’, e a memória eram documentos de golpe. Mesmo que não tivesse caderneta... o tanto de provas produzidas era suficiente pra chegar a isso.”