TIRO NO PÉ

Tarifaço de Bolsonaro vai prejudicar empresas mais frágeis, diz Jerônimo

Empresas chineses tem de obedecer às leis brasileiras, afirma governador da Bahia

Escoamento.A China tem interesse em investir no porto de Aratu, na Bahia,Créditos: BNDES
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O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, afirmou a jornalistas que o tarifaço dos Estados Unidos contra no Brasil, urdido pela família Bolsonaro, vai prejudicar justamente os empresários mais frágeis de seu estado.

Embora o impacto das medidas sobre o comércio total entre os dois paises seja relativamente pequeno, serão penalizados empresários com menos recursos para buscar alternativas, muitos dos quais baseados na Bahia.

Jerônimo se refere a produtores de mel e fornecedores de pescado, por exemplo.

Ele também apontou para prejuízos de produtores de manga que trabalham no entorno da barragem de Sobradinho, produzindo frutas de alta qualidade para o mercado internacional, a preço de até 8 dólares a unidade.

Este repórter testemunhou, em Petrolina, o embarque das frutas em um cargueiro com destino a Amsterdã, na Holanda, de onde muitas vezes a manga segue para o Oriente Médio. Embaladas individualmente em caixas luxuosas, as mangas são consideradas uma iguaria que se oferece em banquetes ou como presente individual.

A produção de mangas tommy, a preferida dos estadunidenses, tem como destino os Estados Unidos. De acordo com Jerônimo, sem outra alternativa imediata alguns empresários teriam decidido deixar a fruta apodrecer nas árvores.

Além disso, duas empresas baianas que exportam pneus serão fortemente prejudicadas, uma vez que destinam 60% de seu produto aos Estados Unidos.

China tem de obedecer às leis

O governador baiano já visitou a China duas vezes desde o início do mandato.

Na conversa com jornalistas, organizada pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão do Itararé, ele se mostrou entusiasmado com o investimento da montadora chinesa BYD em seu estado, com potencial de criação de milhares de empregos.

Em sua mais recente passagem pela China, Jerônimo descreveu que esteve com cerca de 70 empresários chineses, que procuravam informações sobre como se tornar fornecedores da BYD na Bahia. Posteriormente, descobriu que muitos deles já tinham comprado terrenos no entorno da fábrica.

O governador disse que ainda é preciso aprender muito na relação com os chineses. Narrou que em certas ocasiões os negócios estão praticamente fechados quando a parte chinesa quer recomeçar do zero, buscando vantagens adicionais.

Em dezembro do ano passado, o Ministério do Trabalho identificou 471 trabalhadores chineses trazidos de forma irregular ao Brasil para trabalhar em projetos rerlacionados à BYD, em Camaçari, dos quais 163 foram resgatados em condições análogas à escravidão.

Prática comum

É comum que empresas chinesas "exportem" seus próprios engenheiros e trabalhadores, alegando que a comunicação é mais fácil entre os compatriotas.

Na África, os chineses levaram seus próprios trabalhadores na construção civil para, por exemplo, construir barragens de coleta de água de chuva em Cabo Verde.

Uma seca histórica fez com que Cabo Verde se tornasse o país proporcionalmente com a maior diáspora em todo o planeta, problema agora sanado graças ao investimento chinês.

Porém, já houve protestos contra os métodos chineses em vários países da África. Na Zâmbia, por exemplo, um gerente chinês foi morto por mineiros revoltados com pagamento de salário abaixo do combinado.

"Os chineses são benvindos, desde que respeitem as leis brasileiras", disse Jerônimo.

Ele afirmou que arrancou da BYD a promessa da construção na Bahia de um centro de pesquisa e desenvolvimento, nos moldes do que a Ford ainda mantém no estado, apesar de ter fechado sua planta de produção. O objetivo é qualificar mão-de-obra local.

Jerônimo Rodrigues cobrou do governo federal que acelere os programas de industrialização, capazes de gerar empregos de melhor qualidade.

"A gente ainda exporta cacau e importa chocolate, exporta algodão e importa tecido", exemplificou.

O governador também revelou o interesse chinês em assumir o controle de parte do porto de Aratu, uma vez que muitos dos automóveis elétricos e híbridos produzidos na Bahia serão exportados. Do outro lado do continente, em Chancay, no Peru, a China fez um porto que se tornará o maior centro de comércio entre a América do Sul e a Ásia.

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