FÓRUM ONZE E MEIA

Genoino: "Edinho teve posição meio frouxa em relação à votação da PEC da Blindagem"

Ex-presidente do PT critica falta de união da bancada durante votação de proposta que blinda parlamentares de investigações

José Genoino, ex-deputado federal e ex-presidente do PT.Créditos: Mario Agra/Câmara dos Deputados
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O Fórum Onze e Meia desta quinta-feira (18) recebeu o ex-deputado federal e ex-presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) José Genoino para analisar as últimas movimentações políticas no Congresso Nacional. Ele comentou sobre o avanço da PEC 3/2021, chamada de PEC da Blindagem, e do Projeto de Lei 2162/2023, o PL da Anistia aos golpistas de 8 de janeiro de 2023. 

Genoino criticou a falta de união da bancada do PT no Congresso Nacional e também a postura do atual presidente do partido, Edinho Silva. Para o ex-deputado, o presidente "teve uma posição meio frouxa" em relação à votação da PEC da Blindagem. Ao todo, 12 deputados do PT votaram pela aprovação da PEC – dois mudaram de posição no segundo turno – e desses, oito votaram pelo voto secreto. Genoino ressaltou que essa divisão da bancada é "inaceitável" neste momento de enfrentamento político. 

Para o ex-deputado, o debate político sobre a atitude desses parlamentares tem que ocorrer "na base do poder". "Eu prefiro que a gente possa agir politicamente. Para agir politicamente, tem que ter uma direção com força, com autoridade e com legitimidade para debater com a bancada. Quando a Gleisi estava na presidência do partido, ela fazia muito isso através das suas intervenções públicas. No meu modo de entender, o novo presidente, o Edinho, teve uma postura meio frouxa em relação à união à bancada", afirmou. 

O ex-deputado disse que "o correto" é a bancada tomar uma decisão de maioria e a minoria seguir essa posição. "A minoria tinha que ter seguido a bancada e ter dito: 'nós vamos votar com a bancada mesmo divergindo'. Pronto, é assim o processo democrático. Porque a fidelidade do deputado com o partido é o voto. O voto é o laço de fidelidade do deputado com o partido".

Ele reforçou que essa união é essencial para o governo Lula neste momento político nacional e internacional. "Como é que nós vamos enfrentar o imperialismo americano, a extrema direita, esse centrão, se nós não temos um núcleo de unidade? Esse núcleo de unidade é que dá autoridade e legitimidade. Eu acho que a gente devia fazer esse debate na base do partido, que eu acho que é essencial", defendeu Genoino. 

O ex-presidente do partido ainda criticou o fato de a esquerda ter se "domesticado". "Ela acabou caindo no possibilismo. Ela acabou caindo no pragmatismo. Você tem que fazer alianças, acordos, mas sem perder o futuro, sem perder de vista o futuro. Aquilo que o Pepe Mujica dizia: 'nós podemos fazer reforma no capitalismo, mas não mais podemos esquecer do socialismo'. Nós temos que ter um futuro", declarou. 

Bancada errou ao fazer acordo com Hugo Motta

Genoino ainda criticou o acordo da esquerda e da bancada do PT com Hugo Motta. "Primeiro que ele não tem experiência legitimadora como tinha, por exemplo, Eduardo Cunha e Arthur Lira. Ele não tem essa experiência e ficou claro naquele momento", afirmou ele, se referindo à obstrução de deputados de extrema direita na Câmara dos Deputados em agosto. "Segundo, a história dele no parlamento é uma a história de súdito, do que há de mais conservador e reacionário", acrescentou o ex-deputado. 

Grandes oportunidades históricas e grandes tragédias

O ex-deputado também analisou o momento político do Brasil e afirmou que o país vive sempre diante de "grandes oportunidades históricas e grandes tragédias", como acontece agora com a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por tentativa de golpe de Estado, ao mesmo tempo em que o projeto da anistia avança no Congresso. 

"Nós estamos diante de uma grande oportunidade histórica que é o julgamento dos golpistas, dos quatro estrelas junto com o Bolsonaro. Agora, essa grande oportunidade histórica não pode virar uma tragédia ou uma farsa. No meu entender, a anistia é uma faca. A anistia é uma tragédia política. É mais ou menos passar a mão na cabeça dos golpistas como muitas vezes aconteceu no Brasil", declarou Genoino. 

Portanto, o ex-deputado afirmou que o país está diante de uma grande oportunidade de "fazer um ajuste com a sua história" e que o papel de liderança do presidente Lula é fundamental para esse momento – e para isso o PT precisa retomar seu papel combativo. Genoino destacou que o que estará em jogo no enfrentamento dessa crise institucional em que vive o país é o "projeto nacional democrático e popular para a disputa eleitoral de 2026". 

"O caminho é o do enfrentamento. O Lula foi um habilidoso negociador na montagem do seu governo nesses dois anos e meio. Mas a experiência está mostrando que só negociar, só dialogar, seja com a classe dominante submissa ao imperialismo, seja com o imperialismo, não é suficiente. Nós temos que fazer disputa, enfrentamento e articulações mais definidas para enfrentar essa crise em ebulição, porque de certa maneira o Brasil tem grandes oportunidades históricas e grandes tragédias", defendeu Genoino. 

Confira a entrevista completa de José Genoino ao Fórum Onze e Meia 

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