ABI cita Pazuello em nota de solidariedade ao senador Omar Aziz

"Não é razoável por exemplo, que, diante da constatação de que o general Eduardo Pazuello participou de um ato político em apoio a Jair Bolsonaro, o Exército aceite a versão de que aquilo não passou de um passeio de motocicleta", diz a ABI em nota

Eduardo Pazuello e Omar Aziz (Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado)
Escrito en POLÍTICA el

A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) emitiu nota nesta sexta-feira (8) em que se solidariza com o senador Omar Aziz, presidente da CPI do Genocídio, que foi alvo de ataque do Ministério da Defesa e das Forças Armadas após ter declaração distorcida, em que diz que alguns militares devem estar “envergonhados” pelo envolvimento de integrantes da caserna em casos suspeitos de irregularidades no Ministério na Saúde.

"Foi uma tentativa de intimidar a CPI da Pandemia e seu presidente, o senador Omar Aziz, protegendo militares suspeitos de envolvimento com corrupção", diz a nota da associação.

No texto (leia a íntegra abaixo), a ABI lembra que as Forças Armadas são "instituições de Estado" e "não interessa a qualquer brasileiro vê-las enxovalhadas", mas que é preciso que se dêem ao respeito ou elas próprias estarão contribuindo para o seu desgaste.

"Não é razoável por exemplo, que, diante da constatação de que o general Eduardo Pazuello participou de um ato político em apoio a Jair Bolsonaro, o Exército aceite a versão de que aquilo não passou de um passeio de motocicleta. E, em seguida, estabeleça sigilo por cem anos (sim, cem anos!) para a publicidade de qualquer investigação sobre o caso", diz a associação.

Vergonha
Em sua fala, Aziz disse que alguns militares devem estar “envergonhados” pelo envolvimento de integrantes das Forças Armadas em casos suspeitos de irregularidades no Ministério na Saúde.

No plenário do Senado, o presidente da CPI afirmou que a nota é desproporcional e representa uma tentativa de intimidação.

"Pode fazer 50 notas contra mim, só não me intimida. Porque, quando estão me intimidando, Vossa Excelência [Rodrigo Pacheco, presidente do Senado] não falou isso, estão intimidadno esta Casa. Vossa excelência não se referiu à intimidação que foi feita", disse.

Nas redes sociais, Aziz reiteirou a tentativa de intimidação e colocou textualmente o que falou na CPI.

"Estão tentando distorcer minha fala e me intimidar. Não aceitarei! Não ataquei os militares brasileiros. Disse que a parte boa do Exército deve estar envergonhada com a pequena banda podre que mancha a história das forças armadas", tuitou.

Leia a nota da ABI na íntegra

ABI é solidária ao senador Aziz

A nota divulgada ontem pelos comandantes militares é lamentável. Foi uma tentativa de intimidar a CPI da Pandemia e seu presidente, o senador Omar Aziz, protegendo militares suspeitos de envolvimento com corrupção.

Note-se que não houve qualquer acusação às Forças Armadas em si. Surgiram apenas nomes de militares isolados e nem mesmo eles foram acusados por Aziz. Simplesmente depoimentos de terceiros trouxeram seus nomes à baila. Como era lógico, a CPI considerou conveniente convocá-los para depor.

Foi o que bastou para que os chefes militares se alvoroçassem.

Ora, as Forças Armadas são instituições de Estado necessárias a um país soberano. Não interessa a qualquer brasileiro vê-las enxovalhadas. Mas é preciso que se dêem ao respeito. Ou elas próprias estarão contribuindo para o seu desgaste.
Não é razoável por exemplo, que, diante da constatação de que o general Eduardo Pazuello participou de um ato político em apoio a Jair Bolsonaro, o Exército aceite a versão de que aquilo não passou de um passeio de motocicleta. E, em seguida, estabeleça sigilo por cem anos (sim, cem anos!) para a publicidade de qualquer investigação sobre o caso.
Isso ajuda a imagem das Forças Armadas? É evidente que não.

É preciso repetir: a CPI da Pandemia não fez qualquer acusação ao Exército, à Marinha ou à Aeronáutica. Simplesmente está apurando os fatos, que são gravíssimos, trazendo elementos para posteriormente responsabilizar quem cometeu atos de corrupção. Sejam civis ou militares.

Afinal, vivemos numa república. Todos são - ou deveriam ser - iguais perante as leis.

Tudo indica que dois grupos disputavam o controle das compras no Ministério da Saúde: um, formado por parlamentares do chamado Centrão; outro, integrado por militares, levados por Jair Bolsonaro e Pazuello.

Não há razão para que se deixe de investigar as acusações num momento em que está claro que a demora na aquisição de vacinas não foi fruto apenas de incompetência. Foi um artifício para, depois, numa situação emergencial, negociar a preços superfaturados com outros fabricantes, com quem se tinha esquemas de corrupção.

Por isso o atraso na aquisição de vacinas. Este crime contribuiu para a morte de mais de meio milhão de brasileiros.
Assim, num momento em que, talvez por corporativismo, os chefes militares tentam intimidar o senador Aziz, todos os que defendem a lisura em relação à coisa pública devem se solidarizar com ele.

É o que faz hoje a ABI, entidade com 113 anos de história em defesa das boas causas do povo brasileiro.

Rio de Janeiro, 8 de julho de 2021

Paulo Jeronimo - Presidente da Associação Brasileira de Imprensa