Aécio se despede dos leitores da Folha e diz que vai lutar para defender ele e sua família

No final, num golpe definitivo, transforma a irmã em vítima da vítima, como se Andrea Neves não fosse, em toda a sua trajetória, a grande arquiteta de todas as suas eleições e cargos

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Aécio assume versão de que teria sido vítima de conspiração e se despede dos leitores da Folha em artigo publicado nesta segunda-feira (22). Da Redação* Com uma versão de que teria sido vítima de conspiração, Aécio se defende e diz que vai resgatar a moral de sua família na despedida dos leitores da Folha: "Diante da necessidade de dedicar-me integralmente à minha defesa, deixo de ocupar nesta Folha o espaço que, durante quase seis anos, ocupei semanalmente, buscando contribuir para aprofundar a discussão sobre os problemas do país". Logo de saída, Aécio, em texto meticulosamente conduzido por advogados diz que nos últimos dias teve a vida virada do avesso. "Tornei-me alvo de um turbilhão de acusações, fui afastado do cargo para o qual fui eleito por mais de 7 milhões de mineiros e vi minha irmã ser detida pela polícia sem absolutamente nada que justificasse tamanha arbitrariedade", reclama. Conduzido em tom dramático, o artigo do político mineiro insiste na tese de que foi vítima de armação: "Tenho sentimentos, sou de carne e osso, e esses acontecimentos -o que é pior, originados de delações de criminosos confessos, a partir de falsos flagrantes meticulosamente forjados- me trouxeram enorme tristeza", lamenta. Posando de ingênuo, Aécio diz que o diálogo da gravação teria sido"conduzido" por Joesley Batista, "para criar-me todo tipo de constrangimento". "Lamento sinceramente minha ingenuidade -a que ponto chegamos, ter de lamentar a boa-fé! Não sabia que na minha frente estava um criminoso sem escrúpulos, sem interesse na verdade, querendo apenas forjar citações que o ajudassem nos benefícios de sua delação", confessa, no momento mais risível do texto. A cereja do bolo é a tentativa de justificar o linguajar de cadeia usado por Aécio na gravação: "Além do mais, usei um vocabulário que não costumo usar, e me penitencio por isso, ao me referir a autoridades públicas com as quais já me desculpei pessoalmente", e conclui o período assertivamente triunfal, como se estivesse se dirigindo a milhões de imbecis: "Mas reafirmo: não cometi nenhum crime!" Daí em diante, Aécio tenta montar delirante estratégia de defesa, onde seus detratores e acusadores estariam confundindo a mera tentativa de venda de um imóvel com a negociação de propina. "Em março deste ano, solicitei a minha irmã e minha amiga, Andrea, que procurasse o senhor Joesley, a quem ela não conhecia, e oferecesse o que já havíamos feito sem sucesso com outros empresários brasileiros: a compra do apartamento em que minha mãe mora, herança do seu falecido marido, e que já estava à venda. Parte desse valor nos ajudaria a arcar com os custos de minha defesa." E joga, de forma mirabolante, a culpa no delator: "Foi do delator a sugestão de fazer um empréstimo com recursos lícitos, que ele chamava "das suas lojinhas", e que seria naturalmente regularizado por meio de contrato de mútuo, até para que os advogados pudessem ser pagos. O contrato apenas não foi celebrado porque a intenção do delator não era esta, mas sim criar artificialmente um fato que gerasse suspeição e contribuísse para sua delação." A vítima, Aécio Neves, inventa para si um personagem digno de pena tamanha a ingenuidade e a falta de tato para lidar com pessoas capazes de tanta maldade: "Daí por diante, fomos vítimas de uma criminosa armação feita por elementos que não se constrangeram em criar falsas situações para receber em troca os extraordinários benefícios de sua delação, inclusive ganhando dinheiro especulando contra o Brasil e contra os brasileiros, em razão da crise provocada pela divulgação das gravações. Para eles, o crime e a calúnia certamente compensam". No final, num golpe definitivo, transforma a irmã em vítima da vítima, como se Andrea Neves não fosse, em toda a sua trajetória, a grande arquiteta de todas as suas eleições e cargos: "Errei ao procurar quem não deveria. Errei mais ainda, e isso me corrói as vísceras, em pedir que minha irmã se encontrasse com esse cidadão, que em processo de delação arquitetou um macabro e criminoso plano para obter certamente ainda mais vantagens em seu acordo." Ao fim e ao cabo, só restaria ao leitor rir a cântaros, não fosse trágico. *Com informações da Folha