Alessandro Vieira diz que é "muito provável" CPI decretar novas prisões nos próximos depoimentos

Senador ainda afirmou que, quando a CPI apontar crime de responsabilidade de Bolsonaro, a "Câmara vai ter que dar sua contribuição", acenando ao impeachment

Alessandro Vieira em sessão remota no Senado (Foto: Leopoldo Silvao/Agência Senado)
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A "segunda temporada" da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura os erros e omissões do governo Bolsonaro no combate à pandemia, a CPI do Genocídio, deve contar com novas cenas de voz de prisão.

Antes do recesso do colegiado, em julho, a única prisão decretada pela CPI havia sido a de Roberto Dias, ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, acusado de mentir em seu depoimento. Ele é apontado como autor do pedido de propina em contratos de compra de vacinas contra a Covid-19 e está sendo investigado pela Polícia Federal.

A comissão retoma seus trabalhos nesta terça-feira (2) e focará nos esquemas de corrupção que teriam sido montados dentro do Ministério da Saúde. Segundo o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), titular da CPI, os próximos depoimentos devem ser marcado por novas prisões.

"Acredito que os senadores hoje estão mais adaptados às ferramentas que a CPI tem. Essas ferramentas eram vistas com muitas reservas. Hoje, isso já mudou. O presidente Omar Aziz já está muito bem aparelhado. É muito provável que voltemos a ter prisões nos próximos depoimentos. Até porque temos figuras com perfil muito claro de querer mentir ou falsear na CPI", disse Vieira em entrevista à GloboNews nesta segunda-feira (2).

Corrupção e crimes de Bolsonaro

Segundo o parlamentar, a CPI já adquiriu indicativos de uma "verdadeira quadrilha no Ministério da Saúde". Ele pondera, contudo, que "a corrupção entra como uma motivação para o cometimento anterior de crime, não como autor, não como grande foco".

"Os crimes potenciais cometidos por Bolsonaro não se resumem a prevaricação. Vai ter crimes contra a saúde pública no sentido de ter promovido a propagação da pandemia. Quando não adota a conduta de adquirir vacinas e não fazer uma campanha de conscientização com relação à vacinação, isso é crime", apontou Vieira.

"Vai ter crime de responsabilidade, porque faltou cuidado. E estamos avaliando a possibilidade de crime contra a humanidade para apresentar no Tribunal Penal Internacional", completou o senador, citando as evidências de que Bolsonaro teria usado o Norte do país como uma espécie de "laboratório" para testar medicamentos sem eficácia contra a doença do coronavírus.

O titular da CPI ainda fez um aceno a um processo de impeachment contra o chefe do Executivo. "A Câmara dos Deputados, quando falarmos em crime de responsabilidade, vai ter que dar sua contribuição", atestou.

Retomada dos trabalhos da CPI

Com o fim do recesso do parlamentar, a CPI do Genocídio retoma os trabalhos nesta terça-feira (3). Dois núcleos de investigação já foram encerrados: “ministério paralelo”, imunização de rebanho e a omissão do governo de Jair Bolsonaro no combate à pandemia ao apostar em teses negacionistas.

Agora, o núcleo duro da CPI quer focar nos esquemas de corrupção na compra de vacinas e buscar entender qual foi o papel dos intermediários que negociaram imunizantes em nome do governo federal.

Dessa maneira, na terça-feira a Comissão vai ouvir o Reverendo Amilton Gomes. Na quarta (4) o coronel Marcelo Blanco e, na quinta (5), o empresário Airton Antonio Soligo, mais conhecido como Airton Cascavel.

O reverendo está a frente da Senah (Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários), que atua como uma espécie de ONG e o religioso é apontado como aquele que construiu a ponte entre a Davati e o Ministério da Saúde na negociação de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca.

Por sua vez, o coronel Marcelo Blanco e Cascavel são apontados como aqueles que lideraram o esquema de propinas na compra de vacinas.

Um dos depoimentos mais esperados é do empresário Francisco Maximiano, sócio da Precisa Medicamentos, empresa responsável pela negociação da vacina indiana Covaxin.

O empresário deveria depor nesta terça, porém, Maximiano apresentou o seu passaporte com viagem marcada para a Índia e, portanto, o seu depoimento deve acontecer entre os dias 10 e 12 de agosto.