Passada a campanha eleitoral, o discurso começa, aos poucos, a ser deixado de lado e prevalece o pragmatismo político.
O prefeito eleito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), passou a última semana antes do pleito negando instabilidade da pandemia na capital e afirmando que a crise sanitária estaria sob controle. No dia seguinte da eleição, porém, o governador do estado e seu padrinho político, João Doria (PSDB), admitiu o aumento dos casos de contágio de Covid-19 e impôs mais medidas restritivas, incluindo na capital, indo contra o discurso encampado, dias antes, pelo chefe do Executivo municipal.
Agora, outro fato que mostra a diferença entre discurso e prática vem à tona. Segundo informações apuradas pela jornalista Natuza Nery, do portal G1 e da GloboNews, Covas teria telefonado para Jair Bolsonaro nesta segunda-feira (30) e, inclusive, combinado um encontro com o presidente.
A atitude mostra que Covas procura uma aproximação com o Planalto após passar toda uma campanha alfinetando Bolsonaro. Em debates, entrevistas e programas eleitorais, o prefeito falava, sobre a pandemia, que seguiria a ciência, em indireta ao presidente. Além disso, criticava o "radicalismo", também em referência, não só à esquerda, mas ao bolsonarismo.
A postura de campanha de Covas vai de encontro com a de João Doria que, apesar de ter encampado o slogan "bolsodoria" para se eleger governador em 2018, passou a antagonizar com o presidente, citando seu nome e fazendo críticas públicas.
Com a ligação a Bolsonaro, no entanto, Covas mostra que pretende, passado o período eleitoral, se distanciar da briga travada entre Doria e Bolsonaro para contar com o apoio do presidente em sua gestão na capital paulista.
No domingo (29), em seu discurso de vitória após a apuração eleitoral, Covas mandou indiretas que, para analistas, claramente eram direcionadas a Bolsonaro. "Meu avô dizia que é possível conciliar política e ética, política e honra, política e mudança. E agora eu acrescento que é possível fazer política sem ódio, é possível fazer política falando a verdade", afirmou o tucano.