Após as críticas feitas pelo presidente do PSDB, Bruno Araújo, à iniciativa do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de se encontrar com o também ex-presidente Lula, nesta sexta-feira (21), o tucano foi às redes sociais para "esclarecer" que apoiará o candidato de seu partido à presidência nas próximas eleições. Ele reafirmou, contudo, aquilo que tem deixado parte de seus correligionários irritados: votará no ex-presidente petista em um eventual segundo turno contra Jair Bolsonaro.
"Reafirmo, para evitar más interpretações: PSDB deve lançar candidato e o apoiarei; se não o levarmos ao segundo turno, neste caso não apoiarei o atual mandante, mas quem a ele se oponha, mesmo o Lula", escreveu FHC.
O tucano já havia dito em entrevista recente que apoiaria Lula caso ele fosse o adversário de Bolsonaro em um segundo turno e o petista, na quinta-feira (20), sinalizou uma aproximação ao dizer que faria o mesmo: votaria em FHC contra Bolsonaro caso ambos fossem os candidatos do segundo turno do próximo pleito eleitoral.
Essa abertura ao diálogo entre os dois ex-mandatários foi selada com um almoço a convite do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim, que participou dos governos do tucano e do petista. Bruno Araújo, presidente do PSDB, no entanto, não gostou.
"Esse encontro ajuda a derrotar Bolsonaro, mas não faz bem a um potencial candidato do PSDB. Nossa característica é saber dialogar, inclusive com adversários políticos. De toda forma, precisamos evitar sinais trocados a nossos eleitores. O partido segue firme na construção de uma candidatura distante dos extremos que se estabeleceram na democracia brasileira", afirmou em nota o dirigente tucano.
Em contrapartida, a deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR) presidenta nacional do PT, celebrou a reunião entre Lula e FHC. "Só mesmo Bolsonaro é incapaz de aceitar que dois ex-presidentes podem conversar civilizadamente sobre os graves problemas do país, como fizeram Lula e FHC. O Brasil quer voltar a debater o futuro pela política. O ódio e a mentira deram no que deram", escreveu através das redes sociais.
O vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcelo Ramos (PL-AM), também viu com bons olhos a aproximação entre as duas lideranças políticas e fez críticas indiretas a Bruno Araújo ao falar em "pequenez" daqueles que criticam um "gesto de civilidade". "É lamentável a pequenez de alguns líderes do campo democrático. Independente de compromissos eleitorais, criticar um gesto de civilidade democrática entre dois ex-presidentes é de uma miopia política impressionante em qualquer tempo, mais ainda em tempos de ataques a democracia", afirmou o parlamentar, também via redes sociais.
A abertura de parte da centro-direita para conversar com Lula não é à toa. Com seus direitos políticos retomados após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente petista vem despontando como favorito para derrotar Jair Bolsonaro na próxima eleição presidencial e diversas pesquisas de opinião.
A última Datafolha, por exemplo, aponta que Lula tem 41% das intenções de voto, que representa quase a soma das intenções de voto de todos os seus possíveis adversários. Em segundo lugar, o presidente Bolsonaro figura com 23%. O petista também derrotaria o atual presidente, segundo a pesquisa, em um eventual segundo turno.
Já pesquisa Exame/Ideia divulgada nesta sexta-feira (21) mostra que Lula venceria Bolsonaro no segundo turno por 45% a 37%.