Aras dá sinais trocados sobre relatório da CPI da Covid

Ao mesmo tempo que seus auxiliares falam em abundância de provas, procurador sinaliza que não vai indiciar Bolsonaro

Augusto Aras deve se explicar no Senado - Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
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Auxiliares do Procurador-Geral da República, Augusto Aras, consideram o relatório final da CPI da Covid-19 "devastador". No entanto, temem uma inação ou arquivamento automático por parte do PGR, em razão de seu histórico de blindagem ao presidente e ao governo.

Após receber o texto em mãos nesta quarta-feira (27), Aras disse que pretendia dar “agilidade” às denúncias apresentadas pela comissão, que pede o indiciamento de 78 pessoas, incluindo o presidente Jair Bolsonaro.

“Esta CPI já produziu resultados. Temos denúncias, ações penais e civis em curso, autoridades afastadas”, afirmou o procurador após o encontro com os senadores.

Apesar de ver muito barulho na investigação parlamentar, considerada destinada a produzir notícias, o grupo também enxerga uma abundância de provas produzidas ao longo dos seis meses de apuração, em especial quebras de sigilo bancário, fiscal, telemático e telefônico.

Os auxiliares de Aras, ouvidos pela "Folha de S. Paulo", avaliam que a comissão avançou, produziu provas em abundância e deverá alimentar procedimentos sobre atos de Bolsonaro, inclusive com possibilidade de desarquivamento.

Ao redor de Aras afirma-se que Bolsonaro encabeçava uma cadeia de comando responsável por omissões, decisões estapafúrdias, negligência e empenhada por razões políticas em condutas que se opunham ao que diziam órgãos técnicos e instituições científicas.

Mesmo assim, temem o arquivamento ao texto. O primeiro motivo seria de natureza "doutrinária". Ou seja, não caberia ao PGR colocar a República de pernas para o ar.

O segundo motivo são as ambições pessoais do PGR. Com André Mendonça distante de ocupar uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), já que sua indicação permanece na geladeira, ele ainda mira uma vaga na Corte.

Mais de um ministro do Supremo gosta da ideia, enquanto outros dizem que deveria haver uma quarentena para evitar que o PGR paute seu comportamento de olho na vaga vitalícia no STF.