Atitude de Bolsonaro frente à pandemia é principal fator de desgaste do governo, diz pesquisa

Maioria dos eleitores do presidente estão preocupados com a doença e dizem que negligência do ex-capitão representa "falta de caráter"

Foto: Marcos Corrêa/PR
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A maioria dos eleitores fiéis, críticos e arrependidos de Jair Bolsonaro contrariam a visão do presidente com relação à pandemia do coronavírus. Pesquisa da Fundação Friedrich Ebert Stiftung (FES) divulgada nesta semana aponta que a grande maioria está com medo do vírus e associa os comportamentos do ex-capitão frente à doença à "falta de caráter e humanidade".

O argumento de que a Covid-19 não passaria de uma gripe comum é rejeitado por praticamente todos os entrevistados. Vários deles, no entanto, concordam com o presidente com relação à implementação do isolamento vertical, pois o horizontal é fonte de ansiedade e preocupação.

Parte significativa dos entrevistados, especialmente mulheres, também condenou a participação de Bolsonaro nos atos golpistas que têm sido realizadas por seus apoiadores aos finais de semana em meio à pandemia.

Segundo os eleitores, Bolsonaro teria sido "irresponsável" ao participar das manifestações, além de dar um "péssimo exemplo" à população.

"Ao negligenciar a doença Bolsonaro certamente não dialoga com seus eleitores, nem mesmo com aqueles que são fiéis, mas apenas com um grupo muito reduzido de apoiadores fanáticos", disse Camila Rocha, cientista política e uma das pesquisadoras responsáveis pelo estudo, em entrevista à Fórum.

A pesquisa da FES conclui que o comportamento do presidente perante à pandemia é um dos principais pontos que tem levado ao enfraquecimento do bolsonarismo.

A pesquisadora acredita que este é um tema que pode ser utilizado pela oposição como forma de diálogo com os eleitores arrependidos e críticos, ou seja, aqueles que estão frustrados com as atitudes de Bolsonaro e dizem que o apoiam por falta de alternativa.

"Curiosamente, o grupo de apoiadores mais fanáticos de Bolsonaro teve um pequeno aumento, porque acredita que o presidente está acuado e precisa de apoio, porém, ao mesmo tempo, houve um desgaste importante de sua base mais ampla de apoio que corresponde a esses 30% da população", afirmou Camila.

O estudo da FES foi feito a partir de métodos qualitativos de pesquisa, através de entrevistas com um grupo focal.

Filhos

Outro fator de consenso entre eleitores fiéis, críticos e arrependidos do presidente é a percepção de que Carlos, Eduardo e Flávio Bolsonaro, filhos do ex-capitão, atrapalham o governo e são uma das principais fontes de instabilidade.

Nas palavras de vários entrevistados, filhos são “moleques”, “despreparados” e estão envolvidos em atividades ilegais. Nesse sentido, frases como “não boto a mão no fogo por eles” e “aí tem coisa” foram frequentes entre os participantes.

Para os eleitores, no entanto, os possíveis crimes praticados pelos filhos, não atingem a imagem de Bolsonaro. O entendimento é de que, ainda que os filhos possam ser corruptos, Bolsonaro continuaria sendo honesto.

Os filhos de Bolsonaro também aparecem como principal argumento que justificaria a saída do presidente do poder, caso ficasse provado que Bolsonaro interferiu nas investigações para protegê-los.