Bolsonaro cometeu crime de responsabilidade muito mais grave que o de Dilma, diz ex-procurador da Lava Jato

Apesar das críticas, o procurador confessa, no entanto, que votou em Bolsonaro no segundo turno das eleições, em 2018

O ex-procurador da Lava Jato, Santos Lima (Arquivo)
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O procurador da República aposentado, Carlos Fernando dos Santos Lima, coordenador da força-tarefa da Lava-Jato entre 2014 e 2018, afirmou em entrevista para O Globo, publicada neste domingo (26), que o presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido-RJ) cometeu crime de responsabilidade muito mais grave que o da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) ao tentar interferir na Polícia Federal (PF).

“Crime de responsabilidade, não tenho dúvida. Muito mais grave do que os da Dilma. Mas o crime de responsabilidade é um conceito muito fluido, e de natureza política. O fato de querer tomar conhecimento, de forma irregular, de informações sigilosas de inquéritos que tramitam em outro poder, para tomar atitudes em relação a beneficiar seus filhos, me parece um crime de responsabilidade claro.”

Para ele, a decisão de Moro de sair do governo foi correta. “Eu já estava engasgado com Bolsonaro desde o episódio do Coaf, porque tenho uma consideração enorme pelo Roberto Leonel (ex-presidente do Coaf) e achei que a condução daquele episódio já mostrava que não havia um compromisso (do presidente) com o combate à corrupção. O compromisso ali era a proteção aos filhos, não é? O presidente apoiou a decisão do (Dias) Toffoli (presidente do Supremo Tribunal Federal, que restringiu investigações do Coaf), totalmente equivocada, que depois o Supremo reverteu. A gota d’água foi a atuação dele neste episódio da quarentena (do coronavírus). Eu até entendo que exista uma disputa política, essa briguinha de playground, mas quando envolve vida humana não pode”.

Para o procurador, Bolsonaro foi negligente com a vida de brasileiros no combate ao coronavírus. “Ele tem poucas informações, mas as que são confiáveis, ele aposta politicamente contra isso. Quer ganhar politicamente, mas se estiver errado, o risco são milhares de pessoas morrerem nas portas de hospitais. É inadmissível”.

Apesar das críticas, o procurador confessa, no entanto, que votou em Bolsonaro no segundo turno das eleições, em 2018. “Eu tive que votar nele no segundo turno. Fazer o quê? O velho Leonel Brizola já dizia que a gente fica entre o diabo e o coisa ruim, por isso o inferno vence sempre. Este é o nosso sistema. E ele não permite a criação de lideranças positivas”.