Bolsonaro deixa um vácuo para que Mourão assuma o papel de protagonista, avalia Randolfe

Randolfe avaliar que o país está hoje mais enfraquecido comercialmente no exterior porque Ernesto Araújo inaugurou sua gestão fazendo declarações ofensivas à China

Foto: Pedro França/Agência Senado
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Sob uma forte chuva que caía na Capital e ao agito da presença de Juan Gauidó, autoproclamado presidente da Venezuela, na última quinta-feira (28) o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) recebeu em seu gabinete no Senado Federal o blog para um bate-papo sobre a reforma nas aposentadorias dos brasileiros e uma avaliação dos movimentos iniciais do presidente Jair Bolsonaro (PSL).

O senador amapaense Randolfe aponta dificuldades do Planalto em aprovar a Reforma da Previdência, chama o ministro Ernesto Araújo de "aloprado" e critica ingerências de Bolsonaro: "Deixa um vácuo, inclusive para que o vice-presidente [Hamilton Mourão] exerça mais poder do que ele próprio".

O congressista ainda afirma que se o governo reonerar empresas os cofres públicos podem sofrer um acréscimo na cada de R$ 200 a R$ 300 bilhões. "Nós tivemos nos últimos 10 anos R$ 400 bilhões de desonerações para médias e grandes empresas. Só para citar uma ridícula, o ex-governador Sérgio Cabral (MDB-RJ) desonerou joalherias, por motivos óbvios que nós sabemos". [Cabral foi condenado a 198 anos de prisão.]

Abaixo a entrevista completa: Blog do George - O governo estuda um modelo de capitalização para a Previdência com aporte apenas de funcionários. Randolfe Rodrigues - Até agora não sabemos qual é modelo de capitalização que o governo está propondo. As experiências que se tem no mundo sobre esse regime são perversas. O modelo do Chile, por exemplo, resultou no suicídio dos mais velhos e no fim do sistema de Previdência Social. Se o Brasil aprovar esse modelo (capitalização), o país deixa de ter uma Previdência Social. Mas quem puder pagar vai ter. No que temos ouvido falar será um regime que isenta o empregador e é pago só pelo empregado. Quem só tem a ganhar com isso é o sistema financeiro. Os grandes devedores serão cobrados? É balela, mentira o que Paulo Gudes [ministro da Economia], Bolsonaro e aliados estão espalhando, que essa é uma reforma para combater privilégios. Não é, a não ser que eles achem que um miserável, que dificilmente terá expectativa de vida aos 60 anos, seja ratado nesse país como privilegiado. Porque esse sim vai ser atingido e terá a elevação de sua idade para receber um salário mínimo a 70 anos, o que 98% dos que estão nessa condição de vida não chegarão a essa idade. Na proposta que o Bolsonaro encaminhou pra cá a aposentadoria especial generosa dos parlamentares só será extinta na próxima legislatura, enquanto o BPC será mexido agora. Então não é verdade que essa proposta que está vindo pra cá é para acabar com privilégios. O privilégio que ele fala é do trabalhador paupérrimo que mal chega aos 65 anos e vai perder o salário mínimo. O dos políticos, do sistema financeiro, dos grandes devedores ninguém está mexendo. Desonerações de empresas... Nós tivemos nos últimos 10 anos R$ 400 bilhões de desonerações para médias e grandes empresas. Só para citar uma ridícula, o ex-governador Sérgio Cabral (MDB-RJ) desonerou joalherias, por motivos óbvios que nós sabemos. [Cabral lavava dinheiro comprando jovens para a esposa] Então, o governo poderia começar um estudo de reoneração desses setores para aumentar a arrecadação do governo central, estimo que daria por volta de 200 a 300 bilhões. Isso já é 30% da cobertura do déficit que o Guedes quer. A proposta de Bolsonaro tem chance de ser aprovada? Em relação aos mais pobres e trabalhadores rurais essa proposta é mais cruel e pior do que a do Temer. Se a do Temer teve dificuldades eu não vejo como essa ser aprovada. E digo mais, a base social do bolsonarismo, como militares e servidores públicos, se tivessem tido consciência disso lá na campanha certamente não votariam nele. Maia defende uma tramitação conjunta com o texto dos militares. Como é que você vai fazer algo pela metade e não inteiro? Pra tramitar alguma coisa tem que ter uma proposta conjunta do governo. Sem o texto dos militares acho difícil avançar qualquer debate pela metade. Alcolumbre quer ganhar tempo e antecipar o debate sobre a Previdência. Nós da oposição não abriremos mão de um milímetro da tramitação aqui. Qualquer Proposta de Emenda à Constituição (PEC) tem um trâmite: ela começa na Comissão de Constituição de Justiça (CCJ), tem que ser votada no plenário em dois turnos e tem que ter um intervalo de cinco sessões para ser votada. Nada menos que isso nós abrimos mão. Portanto, o rito não será abreviado aqui. Abreviar rito é ofender o Regimento Interno do Senado, a Constituição. É o Regimento que diz como se relaciona com o presidente da instituição, o governo e a oposição. Portanto, a oposição não aceitará nenhum ruptura do procedimento. Quais problemas o sr. vê no Governo? Os filhos do presidente e ministros são muito talentos para levar problemas para o Governo. Inclusive celebrei a escolha da deputada Joice Hasselman (PSL-SP) para líder do Governo no Congresso. Eu como líder da Oposição fico muito satisfeito com a escolha dela. É paradoxal uma oposição que se dispõe a dialogar com líderes da base do governo que não querem o diálogo. [o senador foi irônico]. Como o sr. avalia esses dois meses de governo Bolsonaro? O governo se perdeu em trapalhadas, ministro é demitido pelo filho do presidente, idas e vindas de declaração de ministro da Educação, o das Relações Exteriores, um aloprado, expondo comercialmente o Brasil na seara externa. O país está hoje mais enfraquecido comercialmente no exterior porque Ernesto Araújo inaugurou sua gestão fazendo declarações ofensivas à China, um dos nossos principais exportadores de commodities. A concepção ideológica para reconhecer Jerusalém com capital desagradou os árabes, outro grande exportador nossa proteína animal. Então é um governo que começa muito atrapalhado, um presidente enfraquecido. Alguém que deixa seu filho demitir um ministro é um presidente que gerencia um governo desmoralizado. Deixa um vácuo, inclusive para que o vice-presidente [Hamilton Mourão] exerça mais poder do que ele próprio. Ou seja, o Mourão está se colocando. E na política não existe espaço vazio, então como o presidente não está exercendo autoridade, esse espaço está sendo ocupado com competência pelo vice.