Bolsonaro prepara o autogolpe, por Daniel Samam

Só uma frente ampla e democrática nas ruas e nas instituições se torna fundamental e decisivo para conter um avanço de um projeto de poder notadamente totalizante e de caráter neofascista

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Por Daniel Samam* Depois de compartilhar na última sexta-feira (17), por WhatsApp, um texto que afirmava que o Brasil era "ingovernável”, Bolsonaro abriu a semana postando em suas redes sociais um vídeo em que o pastor congolês Steve Kunda diz que ele foi "estabelecido por Deus para guiar o País”, convocando para que as pessoas vão às ruas no próximo domingo, dia 26 de maio, com um eixo claro de defesa de Bolsonaro - não do governo. O outro eixo do ato é contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF), dando contornos ameaçadores à democracia. A convocação do Clube Militar para o ato do dia 26 dá os primeiros sinais de que a turma da caserna e dos porões topa a aventura. Isso sem contar a turma das baixas patentes (cabos, soldados, tenentes, etc.) da ativa, o porão das Polícias Militares nos estados e as milícias urbanas e rurais. As orações puxadas por líderes religiosos, em esmagadora maioria cristãos (evangélicos e católicos), seguidas de pedidos de apoio ao presidente são indícios claros de movimentação destas bases no chamamento aos atos. Fora os grupos da extrema-direita instruída pelo olavismo, babando de ódio nas ruas e nas redes sociais. Aliás, esses grupos - na verdade, milícias virtuais - se proliferam nas redes e organizam ataques aos perfis, sites e blogs da direita ultraliberal, como o MBL e o Vem pra Rua. Com isso, temo que tais atos possam ser expressivos. Minha preocupação central é que se continuar nessa trajetória de mobilização de diversos setores de base conservadora que contribuíram de forma decisiva para a eleição de Bolsonaro, junto à forte mobilização das milícias virtuais nas redes, o protesto pode reunir uma parcela significativa da base bolsonarista nas ruas. Embora não haja como mensurar o tamanho real desta base, também não dá pra cravar que será um completo fiasco. Portanto, é bom ficarmos atentos, pois tem muita coisa pra rolar nesta semana. O momento é de extrema gravidade e polarização. E não tenhamos dúvidas: Bolsonaro e seus asseclas preparam o bote. Na verdade, o golpe. Um autogolpe que pode resultar num fechamento de regime. Só uma frente ampla e democrática nas ruas e nas instituições se torna fundamental e decisivo para conter um avanço de um projeto de poder notadamente totalizante e de caráter neofascista. *Músico e educador. Filiado ao Partido dos Trabalhadores.