Boulos e Manuela avaliam que, apesar da derrota nas urnas, campanhas criaram novo movimento político

Derrotados no segundo turno das eleições em suas cidades, Boulos e Manuela D'Ávila apontaram que as fake news, assim como em 2018, interferiram no resultado do pleito, mas ambos enxergam um futuro positivo para a esquerda e pregam "luta junto ao povo" antes de pensar em 2022

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Nesta quarta-feira (2), três dias após o segundo turno das eleições municipais, duas das principais lideranças de esquerda da nova geração no país, Guilherme Boulos (PSOL) e Manuela D'Ávila (PCdoB), fizeram uma transmissão ao vivo juntos, pelas redes sociais, em que deram suas impressões sobre o pleito eleitoral.

Tanto Boulos quanto Manuela foram derrotados no segundo turno das eleições de suas cidades, São Paulo e Porto Alegre, respectivamente. O candidato do PSOL terminou o pleito com 40,62% dos votos válidos, sendo superado pelo atual prefeito Bruno Covas (PSDB), que conquistou 59,38% dos votos. Já a candidata do PCdoB obteve 45,37% dos votos, contra 54,63% de Sebastião Melo (MDB), que conquistou a prefeitura da capital gaúcha.

Apesar das derrotas, ambos avaliaram que suas campanhas construíram um novo movimento político, protagonizado, principalmente, pela juventude, e que este movimento deve surtir resultados positivos no futuro.

"Acho que nossas campanhas tiveram uma coisa em comum: mobilizaram muita esperança. Mais que um projeto de cidade, embora tenhamos apresentado, a gente mobilizou uma coisa que foi muito além da eleição, que não terminou domingo passado e não terminaria independente do resultado", disse Boulos.

"Tem muito essa questão da esperança, mas essa coisa da eleição municipal, tem isso da pessoa de olhar para rua e pensar, é menos abstrata, menos difusa. Essa geração um pouco mais nova que a gente, ela tem isso mais presente que a nossa tinha. A ideia que quer mudar o mundo mas quer ver a mudança acontecendo na sua cidade", completou Manuela.

De acordo com Boulos, ele e a candidata do PCdoB ganharam "o projeto de uma geração". "Isso acumulou pra depois, organizou um campo de esperança", disse o psolista, analisando que seu bom desempenho e o de Manuela também já são resultados de um acumulo de forças dos últimos anos.

"Eu tenho uma impressão que essa geração já sente no projeto a identidade de campo", declarou a comunista.

Fake news

Boulos e Manuela avaliaram, ainda, que assim como aconteceu na eleição presidencial de 2018, as fake news influenciaram nos resultados dos pleitos municipais. Ambos falaram das estratégias que foram adotadas pelos opositores em suas cidades.

"Com a crise, muita gente deixou de ter internet. Eles fizeram as fake news circular nos caminhões de som, dizendo que se eu fosse prefeita ia ter carne de cachorro legalizada em Porto Alegre. Que a gente ia derrubar igrejas, etc", revelou Manuela.

"Parece que a gente não consegue avançar em como enfrentar o tema das fake news", lamentou a ex-deputada, que conseguiu junto à Justiça derrubar mais de 600 mil notícias falsas contra ela.

Já Boulos disse que, em São Paulo, o "gabinete do ódio" bolsonarista atuou no primeiro turno divulgando notícias falsas contra ele em prol de Celso Russomanno e que, no segundo turno, o tucanato paulistano se utilizou na máquina pública para prejudicar sua candidatura, como a distribuição de cestas básicas feita pela prefeitura de Bruno Covas dias antes do pleito e as mensagens da secretaria da Educação que davam conta de que o candidato do PSOL acabaria com os convênios de creches e demitiria funcionários.

"Escandaloso. Uma máquina brutal de fake news usando a máquina", disse o psolista.

Apesar disso, Boulos avalia que a situação com relação às fake news já melhorou um pouco com relação a 2018. "A gente vivenciou as duas eleições. Não tem comparação do ambiente, da atmosfera. Eu me lembro, 2018, a gente não tinha espaço, você falava de projeto, futuro, esperança e estava falando sozinho. E agora em 2020 é um renascer. Política a gente não lê só pelo resultado da urna, pela fotografia, a gente lê pelo filme, pela tendência, e isso mostra um crescimento do nosso campo", analisou.

Manuela, por sua vez, concordou: "Em Porto Alegre nós não íamos para o segundo turno desde 2008. É uma virada, embora não seja o resultado esperado, é uma tendência de transformação da política".

Perguntados por internautas sobre como a esquerda se articulará para 2022, os dois defenderam uma unidade do campo político, mas ponderaram que o momento é de reunir forças para intensificar a mobilização social por mais direitos sociais e em oposição ao bolsonarismo.

"A nossa luta não passa só por candidaturas, essa também é uma diferença entre quem nós somos e o que fazemos. A nossa turma tem que botar energia, nesse próximo período, para o dia de hoje, como dar sequência a essa mobilização social que construímos. A gente agora vai ter esse drama do que vai ser a vacinação no mundo. Além de não ter negociação da vacina, o Brasil não tem insumos. Até chegar em 2022 tem muita luta ao lado do povo", pontuou Manuela.

"As eleições acabam mas os problemas continuam, e continua nosso compromisso com o povo. E isso que espero para 2022, que cheguemos em 2022 com muita unidade pra derrotar o bolsonarismo", completou Boulos.

Assista à íntegra da conversa.

https://www.youtube.com/watch?v=P4Hb-Uvbdeo