Campanha antecipada: Magno Malta pede votos a Bolsonaro em evento do governo; advogado diz que cabe cassação

Presidente usou o aparato público, inclusive a TV Brasil, para dar voz a ex-senador aliado com discurso eleitoral em seu favor; especialista alerta: "Mesmo que não seja reeleito, pode ficar inelegível por 8 anos"

Magno Malta pede votos a Bolsonaro em evento oficial do governo; advogado vê campanha antecipada e abuso de poder político (Foto: Alan Santos/PR)
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O ex-senador Magno Malta acompanhou Jair Bolsonaro (PL), nesta quarta-feira (9), durante passagem do presidente pela cidade Jardim de Piranhas, no Rio Grande do Norte, em evento oficial promovido pelo governo em alusão à obra de transposição do Rio São Francisco. Durante a cerimônia, Malta pediu votos a Bolsonaro.

"Nós precisamos reconduzir esse homem ao poder, à reeleição! Depois dele, outro conservador e depois outro conservador Porque… Quem quer se tornar Venezuela e Argentina levante a mão. Quem quer ficar debaixo de um regime chinês levante a mão", disparou o ex-parlamentar, ao lado de Bolsonaro, que sorriu em meio à fala de teor eleitoreiro e os aplausos da plateia. A cena, bem como toda a cerimônia, foi transmitida ao vivo pela TV Brasil, uma emissora pública.

A fala de Magno Malta, que se tratou na prática de um pedido de votos a Bolsonaro, ocorreu em um evento da presidência, pago com recursos públicos. Na segunda-feira (7), inclusive, o presidente avisou que gastaria "uns R$ 300 mil no cartão corporativo" para bancar a viagem oficial ao Nordeste.

Segundo o advogado Renato Ribeiro de Almeida, professor de direito eleitoral e coordenador acadêmico da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep), o evento de Bolsonaro com pedido de votos feito por Magno Malta configura abuso de poder político e campanha eleitoral antecipada.

"Trata-se de uma conduta vedada aos agentes públicos e pode ser considerado o que nós chamamos no direito eleitoral de abuso de poder político, quando alguém se vale dos recursos estatais, eventos estatais, tudo aquilo que o pode público disponibiliza ao mandatário, para fins eleitorais. São fins que ultrapassam a mera propagação de atos do governo e passam a ser palanque político", disse Almeida à Fórum.

Pelas regras do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a campanha eleitoral só pode começar a ser efetuada pelos candidatos a partir de agosto.

Cassação e inelegibilidade

O advogado citou que existem, inclusive, diversos casos do tipo, especialmente protagonizados por prefeitos, que foram cassados após conquistarem a reeleição.

"Na qualidade de especialista em direito eleitoral avalio que este é um caso típico de abuso de poder político. No limite, pode gerar a cassação do mandato e inelegibilidade por 8 anos caso ele saia vencedor", explicou.

Almeida chama a atenção para o fato de que não é a primeira vez que Bolsonaro encampa atos que podem configurar abuso de poder político, como a live em que atacou o sistema eleitoral e que foi veiculada pela TV Brasil.

"Acredito que está se criando um arcabouço que gerará uma situação complicada e talvez até indefensável para o Bolsonaro. Mesmo que não seja reeleito, pode ficar inelegível por 8 anos pela prática de abuso de poder político", atesta.

Assista: Bolsonaro fala em gastar para evento oficial no Nordeste e Magno Malta pede votos ao seu lado

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