Canção comemora 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos com Chico Buarque e Fernanda Montenegro

A ação da Anistia Internacional Brasil convocou um ‘dream team’, tanto da nossa música quanto do teatro e TV, para participar da gravação do comovente clipe. Assista aqui

Chico Buarque. Foto: Reprodução YouTube
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“E proclamamos que não se exclua ninguém, senão a exclusão”. É este verso de Carlos Rennó, tanto óbvio quanto denso e necessário, que serve de refrão à canção “Manifestação”, com melodia de Russo Passapusso, Rincon Sapiência e Xuxa Levy, nascida para comemorar os 70 anos da proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, com direito à interpretação de Chico Buarque e Fernanda Montenegro entre uma legião de outros tantos – evoé – jovens artistas. A ação da Anistia Internacional Brasil convocou um verdadeiro ‘dream team’, tanto da nossa música quanto do teatro e TV, para participarem da gravação do comovente clipe. Assim como a própria canção, o filme segue à risca seu refrão, e passa por inúmeros gêneros, estilos de imagens, filmagens, formas de narração, iluminação e cor. Com filmagens em tempos e lugares distintos, se sucedem no clipe Criolo, Pericles, Rael, Rico Dalasam, Paulo Miklos, As Bahias e a Cozinha Mineira, Luedji Luna, Rincon Sapiencia, Siba, Xenia França, Ellen Oleria, BNegao, Filipe Catto, Chico César, Paulinho Moska, Pretinho da Serrinha, Pedro Luis, Marcelino Freire, Ana Canãs, Marcelo Jeneci, Márcia Castro, Russo Passapusso, Larissa Luz, Ludmilla e Chico Buarque, Camila Pitanga, Fernanda Montenegro, Letícia Sabatella e Roberta Estrela D'Alva, Siba Veloso e Marcelo Jeneci. O bom gosto e a sempre presente intenção democrática da direção, de João Wainer e Fabio Braga, muito mais do que reunir os artistas, os colocou à vontade em cada uma de suas próprias características artísticas. À exceção de Chico e Fernanda Montenegro, que caíram no rap com toda a intenção e gosto, todos os outros puxam um tanto para si e o que fazem melhor. E então, Chico César transforma seus versos quase num aboio, BNegão num blues rap, Ana Cañas no seu estilo roqueiro R&B e por ai vai. A direção musical é de Xuxa Levy e traz uma banda de craques, capitaneada pelo pianista Benjamin Taubikim, com Roberto Barreto - Guitarra Baiana; Fernadinho beatbox; Siba Veloso – Rabeca; Marcelo Jeneci – Acordeom; Os Capoeira (Mestre Dalua, ContraMestre Leandrinho, Felipe Rosseno e Cauê Silva) – Percussão; Emerson Villani - Violões e Guitaras; Robinho Tavares - Baixo Niack e DJ Samuel Fraga – Bateria. À medida em que os artistas se revezam, se sucedem manifestações de rua, cenas de violência policial, manifestações de indígenas, LGBTs, negros (“Por todo jovem negro que é caçado pela polícia na periferia”, canta Chico Buarque), mulheres (“Pela mulher que é vítima do impulso covarde e violento... de uma machista”, canta Fernanda Montenegro, com uma pausa desafiadora e certeira), Criolo aos refugiados e por ai afora. O clipe segue numa vertigem, quase desafiando o espectador a encontrar alguém que não entrou na conta, a descobrir algum que, de alguma maneira, foi excluído e acabou esquecido na canção. Não há. A dimensão do humano na realização abarca a todos e tanto nos dá quanto nos induz a descobrir respostas dentro de nós mesmos, da nossa dificuldade em abraçar humanidades várias. Outra dos questionamentos que a canção nos deixa impregnar é o tanto que, 70 anos depois, ainda estamos por aqui, tão distantes de várias obviedades, lutando por direitos mínimos que se confundem com a luta política comezinha do dia a dia. O absurdo que é ainda ter que lutar pela proteção do Estado contra a agressão às mulheres, gays, negros e indígenas entre tantos. E isto ainda ser bandeira deste ou daquele partido.