Após as denúncias de que o governo Bolsonaro está interferindo no conteúdo do Enem 2021, a bancada do Partido dos Trabalhadores entrou com uma ação no Ministério Público Federal (MPF) onde pede o afastamento do presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Danilo Dupas Ribeiro. O Inep é o responsável pela elaboração do exame nacional.
Além disso, os parlamentares também entraram com um pedido de convocação do ministro da Educação, Milton Ribeiro, para que preste explicações sobre a interferência externa no Enem.
As ações protocoladas pela bancada do PT são uma resposta às denúncias feitas pelos 37 servidores do Inep que pediram exoneração e afirmaram que o governo Bolsonaro recebeu uma versão prévia da prova para decidir quais questões devem ou não permanecer. Isso nunca aconteceu na história do exame.
Corroborando as denúncias feitas pelos servidores, o presidente Jair Bolsonaro declarou nesta segunda-feira (15) que "agora o Enem começa a ter a cara do governo" e que "ninguém precisa estar preocupado com aquelas questões absurdas do passado".
Após a fala do presidente Bolsonaro, o vice-presidente Hamilton Mourão negou nesta terça-feira (17) que haja interferência e afirmou que é o "jeito de falar do presidente".
Por sua vez, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, caiu em contradição: primeiro afirmou que receberia uma versão prévia da prova, mas, depois recuou e disse que "não há interferência" no Enem.
Enem censurado
De acordo com informações do jornal O Estado de S. Paulo, 24 questões foram retiradas da prova por serem consideradas "sensíveis".
Ainda que não se saiba o que são essas "questões sensíveis", é fato que devam estar relacionadas à sexualidade. Dois momentos recentes geraram discussões e críticas por parte da extrema direita: em 2016, quando uma questão trazia a filósofa Simone de Beauvoir, uma das maiores teóricas do feminismo, e, em 2018, quando havia uma pergunta sobre o "pajubá", o dialeto LGBT.
Enem pode cair em descrédito
Em suas redes, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad criticou a interferência no Enem e afirmou que é "ilegal".
"Um Enem com a 'cara do governo' é simplesmente ilegal. As universidades que adotam o exame podem inclusive questionar os itens que confrontam a pesquisa e a ciência. Não foi fácil construir a credibilidade acadêmica do Enem. Tomara que seja blefe. A conferir", disse.
Com informações do Estado de S. Paulo