Com Zema no governo de Minas a "máquina parou", diz sociólogo Rudá Ricci

"Eu faria um paralelo com o início da revolução russa: sem quadros, logo no início dos anos 1920, teve que atrair os antigos engenheiros e repor a lógica taylorista. A extrema-direita faz muito barulho por nada", diz o cientista político.

Foto: Omar Freire/Imprensa MG
Escrito en POLÍTICA el
Após sofrer com a sabotagem do governo golpista de Michel Temer - que reteve cerca de R$ 14 bilhões em repasses ao Estado durante a gestão Fernando Pimentel (PT) -, a população de Minas Gerais agora sente os efeitos da falta de experiência de gestão pública e do perfil centralizador e personalista do governador Romeu Zema (Novo), que em um de seus primeiros decretos, no dia 1º de janeiro, demitiu cerca de 6 mil servidores e travou a máquina - tendo que voltar atrás após críticas de seu próprio secretariado. Leia também: Após provocar caos administrativo com demissão em massa, Romeu Zema reconduz servidores em MG "A máquina parou. Já ocorrem os primeiros protestos de servidores na Cidade Administrativa. Desarticulou vários serviços públicos correntes. Este é o problema dos fundamentalistas: sabem o que não querem, mas não sabem o que querem", analisa o cientista político e sociólogo Rudá Ricci. Segundo Rudá, Zema se mostrou um dos mais equilibrados políticos de extrema-direita eleitos em 2018, mas as primeiras medidas administrativas mostraram-se desastrosas. Fórum terá um jornalista em Brasília em 2019. Será que você pode nos ajudar nisso? Clique aqui e saiba mais "Dos governos estaduais de direita ou extrema-direita, pareceu o mais equilibrado e determinado. Fez um discurso de posse minimamente republicano. Porém, suas primeiras medidas administrativas foram desastrosas: exonerou sem um plano alternativo. O resultado foi a paralisação de muitos serviços, em especial, na cultura e comunicação. Neste sentido, se alinha com o fundamentalismo extremado de outros governos deste tipo". [caption id="attachment_147239" align="alignright" width="300"] Renata Vilhena e Aécio Neves (Reprodução)[/caption] Segundo ele, a política prometida - e colocada em prática - pelo único governador eleito pelo Partido Novo não é tão nova assim. "Seu foco parece ser o controle orçamentário. Mas, de fato, não foi tão novo: se socorreu da consultoria de uma ex-secretária de Aécio Neves, Renata Vilhena", diz Rudá, sobre a ex-secretária de Estado de Planejamento e Gestão dos governos Aécio Neves e Antônio Anastasia, do PSDB. O sociólogo, que observa os bastidores do intrincado jogo político mineiro, diz que os movimentos e o perfil de Zema têm feito ele perder apoio até de quem seria aliado natural. "Zema não tem quadros. E seu perfil é muito centralizador e personalista. Bateu de frente com a Fiemg (Federação das Indústrias de Minas Gerais), que seria seu aliado natural. Eu faria um paralelo com o início da revolução russa: sem quadros, logo no início dos anos 1920, teve que atrair os antigos engenheiros e repor a lógica taylorista. A extrema-direita faz muito barulho por nada". Sobre as prometidas privatizações no Estado por Zema, Rudá acredita que possa trazer um ônus ainda maior para o Estado caso sejam concretizadas. Fórum terá um jornalista em Brasília em 2019. Será que você pode nos ajudar nisso? Clique aqui e saiba mais "Privatizar demanda muitas ações om capacidade de atração de investidores. O problema é que se obtiver sucesso, destruirá as possibilidades de reconversão produtiva de Minas Gerais. Explico: a pauta produtiva do Estado é primária, focada em commodities. Esta característica produz duas consequências nefastas: 1) dependência do mercado externo (em especial, China); e 2) baixos salários, dado que não há exigência de qualificação profissional. Assim, Minas Gerais é o terceiro PIB estadual do país com a 15ª média salarial. Sem estrutura de Estado, amargará está sina da dependência", conclui. Agora que você chegou ao final deste texto e viu a importância da Fórum, que tal apoiar a criação da sucursal de Brasília? Clique aqui e saiba mais