"Começa a me preocupar", diz Barroso sobre perguntas relacionadas a golpe

Um dos principais alvos das manifestações bolsonaristas marcadas para 7 de setembro, ministro do STF e TSE ponderou, no entanto, que não vê "causa para se dar um golpe"

Foto: Carlos Moura/SCO/STF
Escrito en POLÍTICA el

Luís Roberto Barroso, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), afirmou nesta quarta-feira (25) que não acredita na possibilidade de um golpe por parte de Jair Bolsonaro, mas adicionou que as perguntas que o fazem sobre o tema começam a "preocupar".

A declaração, feita em um evento da XP Investimentos, vem em meio a intensificação da crise entre o Executivo e os demais poderes e às vésperas das manifestações antidemocráticas de bolsonaristas marcadas para o dia 7 de setembro.

Os protestos, que contarão com a presença de Bolsonaro, têm entre suas pautas a destituição de ministros do STF e, para muitos, seria o ensaio de um autogolpe do presidente contra as instituições, com o apoio de policiais militares e parcelas das Forças Armadas.

"As pessoas me perguntam se tem risco de golpe. Eu gostava de dizer que não. E gosto de dizer que não. E acho que não. Mas o número de vezes que me perguntam isso começa a me preocupar. Mas eu não vejo condições para um golpe no Brasil, simplesmente porque não há uma causa para se dar um golpe", disse Barroso.

"Acho que os limites podem ter sido estressados em algum momento, forçados, mas acho que esses limites foram bem traçados. E acho, portanto, que as instituições brasileiras, apesar de turbulências a meu ver artificialmente criadas, acho que elas estão funcionando adequadamente", completou o ministro.

A crise entre Bolsonaro e o STF chegou ao seu ápice na última semana, quando o presidente apresentou pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes. Dias antes, Moraes havia incluído Bolsonaro no inquérito das fake news e mandado prender o ex-deputado Roberto Jefferson, aliado do chefe do Executivo.

Moraes: "Bateu, levou"

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, afirmou durante encontro em que recebeu solidariedade de senadores após pedido de impeachment do presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido), que não vai haver ruptura institucional.

Estiveram com ele senadores que participam da CPI da Covid, como Omar Aziz, Randolfe Rodrigues, Renan Calheiros, Eliziane Gama e Humberto Costa.

O ministro afirmou aos parlamentares, de acordo com a coluna de Lauro Jardim, que o STF entrou no modo “bateu, levou”. A casa não vai mais admitir os arroubos golpistas de Bolsonaro.

Moraes também tranquilizou os senadores sobre a possibilidade de um levante de PMs durante as manifestações de 7 de setembro. O ministro, que é ex-secretário de Segurança Pública de São Paulo, afirmou que está em contato com titulares das pastas nos estados. Ele recebeu a garantia de que não há movimento organizado neste sentido.

Bolsonaro: "Arrebentou a corda"

Bolsonaro, em entrevista ao Canal Rural gravada na última sexta-feira (20) e exibida nesta terça-feira (24), afirmou, sobre a sua relação com o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que “extrapolou, no meu entender, os limites. Não está arrebentando, arrebentou a corda”.

“Olha, eu digo que aqui em Brasília não tem gente com superpoderes. Eu sou chefe do Executivo, sou transitório. Nós temos do outro lado da Esplanada a Câmara e o Senado, que também são passageiros. E mais à esquerda, o Supremo Tribunal Federal, onde alguns poucos ministros, no meu entender, têm exagerado, têm se exacerbado e prejudicam o andamento da nação”, disse.

7 de setembro: Golpe?

A mobilização prevista para o 7 de setembro mobiliza as hordas bolsonaristas contra o Supremo Tribunal Federal. Bolsonaro, que deve estar presenciamente no ato, chegou a difundir mensagem nas redes que fala em “provável e necessário contragolpe”. Após o cantor Sérgio Reis pregar em áudio vazado invasão do STF, nas milícias digitais se fala em invasão da Embaixada da ChinaPoliciais militares, inclusive um coronel da PM paulista, estão incentivando insubordinação por parte de suas tropas.

Governadores debatem risco de golpe e infiltração nas polícias

Em reunião nesta segunda-feira (23) entre os 24 governadores da federação, os mandatários estaduais se mostraram preocupados com a movimentação de policiais em prol dos atos de apoio a Jair Bolsonaro

“Creiam, isso pode acontecer no seu estado. Aqui nós temos a inteligência da Polícia Civil, que indica claramente o crescimento desse movimento autoritário para criar limitações e restrições, com emparedamento de governadores e prefeitos”, afirmou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), no encontro.

“Estamos diante de um momento gravíssimo, com constantes ataques à liberdade e à Constituição. Não vamos nos silenciar diante das ameaças aos princípios constitucionais do país”, avaliou o tucano ao término da reunião.

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PSB), por sua vez, também tratou da possibilidade de policiais se envolverem em uma intentona golpista.

“Preocupação geral com agressões e conflitos em série, que prejudicam a economia e afastam o país da agenda real: investimentos, empregos, vacinas etc. A democracia deve prevalecer e as polícias não serão usadas em golpes”, declarou o mandatário maranhense.