Como foi o encontro do Bolsonaro que acompanhei aqui no Japão

O pré-candidato, que norteia toda sua campanha pela questão da segurança pública e violência, resolveu se afastar do Brasil no momento em que uma intervenção militar ocorre por lá

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[caption id="attachment_126174" align="aligncenter" width="750"] Fiquei curioso pelo motivo de tais reuniões, dadas as recentes transformações políticas sofridas recentemente pelo Japão, em sintonia com a onda mundial de liberalismo econômico, retrocessos e conflitos: a cara do Bolsonaro - Foto: Divulgação[/caption] Bolsonaro vem ao Japão acompanhado de uma comitiva de parlamentares - de cara a notícia já chamou minha atenção, não só pela figura polêmica que a personagem criada pelo deputado representa, mas também por conta do momento em que ocorre a visita ao Oriente tão distante. O pré-candidato, que norteia toda sua campanha pela questão da segurança pública, violência e apoio à intervenção militar, resolveu se afastar do Brasil e, em especial, do Rio de Janeiro (estado que o elegeu como deputado federal pela sétima vez) justamente no momento em que uma intervenção militar ocorre por lá. Será que é porque o discurso do aspirante a candidato não condiz com seu real relacionamento com as Forças Armadas? Ora, se a intervenção militar não resolveu nenhuma situação caótica  de violência em todas as vezes que ocorreu na Cidade Maravilhosa, se há outros interesses por trás do acionamento das Forças Armadas como já houve em outras épocas, se a bandidagem está armada com equipamento de uso exclusivo do Exército ou se o deslocamento custa muito aos cofres públicos sem nenhum retorno, nós não ouvimos nenhum desses fatos curiosos serem apontados pelo deputado, durante sua fala, ou mesmo em nenhuma pergunta formulada pelo seu público de cerca de duzentas pessoas, que demonstrou apoio e tietagem na cidade de Hamamatsu, na manhã deste domingo (25). Bolsonaro baseia seu discurso no antipetismo, na punição aos bandidos e no nióbio. Seu olhar distante parece ficar nesses elementos que causam excitação na plateia simpatizante, ainda que não muito entusiasmada como costumam ser outras plateias de outros ambientes. Um de seus apoiadores justifica dizendo que aqui no Japão é assim mesmo. Será? Eu tinha que estar presente pra ver se ele, mais uma vez, soltaria alguma declaração típica da personagem polêmica que constrói e, principalmente, se possível realizar registros para que não ficassem qualquer dúvidas de que alguém estivesse querendo inventar fake news para desmoralizar ou favorecer o deputado. A primeira notícia que vi acerca da vinda do deputado dizia respeito à sua visita de três dias, juntamente com uma comitiva, que incluía os deputados Luiz Nishimori (PR), Onyx Lorenzoni (DEM) e seu filho Eduardo Bolsonaro (PSC), para encontros com empresários da Federação de Indústrias do Japão, o ministro das Finanças e vice-premier Taro Aso e o deputado Takeo Kawamura, além de um bate-papo com seus apoiadores. Fiquei curioso pelo motivo de tais reuniões, dadas as recentes transformações políticas sofridas recentemente pelo Japão, em sintonia com a onda mundial de liberalismo econômico, retrocessos e conflitos: a cara do Bolsonaro. No entanto, a primeira coisa que me chamou a atenção foi a matéria apontar que quem arcaria com as despesas da viagem seria o governo japonês. Afinal, afinal que interesse teria uma nação estrangeira em arcar com as despesas de um presidenciável brasileiro, em ano de eleições, que se autoproclama como nacionalista? A resposta a essa pergunta eu não sei, mas, em entrevista ao Estadão, o próprio afirma que quem pagou pela viagem foi Bolsonaro, que ironicamente possui, em conjunto com os filhos, uma fortuna maior que a do ex-presidente Lula, segundo dados de declaração de patrimônio publicados com aval da Justiça Eleitoral comparados às informações levantadas pelo processo que acusou e condenou Lula, injustamente ou não. Em uma das falas Bolsonaro alerta: não podemos mais confiar na Justiça do Brasil; e que quem deu a declaração sobre a viagem ser por conta do governo japonês tenha sido o deputado Luiz Nishimori, à Folha de São Paulo, e reproduzida pela revista Alternativa, da comunidade brasileira no Japão. Essa declaração impressiona e pode influenciar o eleitor brasileiro da zona eleitoral de Nagoya ou Tóquio, impressionado demais com a nação que escolheu como saída para resolver seus problemas, atribuídos à esquerda e à política pela linha de opinião que parece orquestrar essa “Onda Esquerda”. E é aí que acontece uma linha de sintonia fina e sútil, como só as mais loucas teorias de conspiração são capazes de fazer despertar: uma indignação impávida, apaixonadamente, tranquila e infalível, cheia de axé e afoxé e que surpreenderá a todos, não por ser exótico, mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto quando terá sido o óbvio (Arigatou, Caetano). E isso assusta os atentos, mas ainda mais esse índio que virá aos desavisados. Só entenderá quem conhece a canção “Um Índio” - Doces Bárbaros. Pois bem, imagine que você acha um absurdo que em um país mestiço como o Brasil possa ter apoiadores dos ideais nazistas e que, supostamente entre esses, haja uma afinidade com Bolsonaro - ele nega, apesar da carta de apoio apreendida em ação penal contra neonazistas, que segue em segredo de Justiça; o apoio ao parlamentar de grupos ligados a esses ideais e até a fotografias de um dos integrantes, todo caracterizado como o próprio Hitler. Se você já acha isso um absurdo, o que diria se soubesse que um japonês é alinhado com os métodos do líder nazista, que assusta só pelo nome? Pois bem, esse japonês é Taro Aso, hoje vice premiê e ministro das Finanças, além de presidente do PLD. Aso é um japonês atípico, extraiu diamantes em Serra Leoa, é católico e parece que fala português fluentemente, tendo passado algum tempo no Brasil na década de 60. Sua carreira política é impressionante, inclusive, ocupando o cargo de primeiro-ministro no passado e, hoje, figurando como braço direito de Shinzo Abe (ou será que, na verdade, seria o contrário no “backstage”?). Em agosto de 2016, Aso declarou na residência oficial do primeiro-ministro, para um grupo de parlamentares co-partidários, que “Hitler tinha seus motivos”, no intuito de convencer seus liderados de que a história se lembra dos políticos pelos resultados alcançados, independentemente de seus motivos. Posteriormente, Aso vai a público e se corrige, dizendo que Hitler, que assassinou milhares de pessoas, não foi bom, mesmo que seus motivos estivessem corretos...?!, de acordo com a agência Kyodo de notícias. Forçado pela oposição, reconhece que foi infeliz, ainda que tenha deixado claro que seus sentimentos não eram condizentes com suas declarações. Mas essa não foi a primeira vez que Aso exaltaria o líder nazista. Em julho de 2013, ele indaga por que os japoneses não podem aprender com os nazistas, que alteraram sua Constituição Weimar (Constituição do Império Alemão) de forma despercebida, aprendendo com suas técnicas. Essa, entre outras declarações polêmicas e provocativas. Amanhã ocorre o encontro entre Taro Aso e a comitiva Bolsonaro. Seria essa uma semelhança que é pura coincidência, ou mais um detalhe pra somar à quantidade de absurdos inacreditáveis que parecem rondar essas figuras? No mais, em suas falas vemos Bolsonaro sendo Bolsonaro, usando e abusando do sentimento antipetista que já vai saindo de moda, dizendo que se eleito vai encher seu ministério de militares, pois os petistas encheram de terroristas. Diz que ninguém respeita o que não teme, fala sobre pedofilia, Olavo de Carvalho, nióbio acusando a China sem mencionar a exploração britânica e afirma que encontrou com uma autoridade japonesa, que não quis identificar, com quem pretende fazer um acordo de cooperação para explorar o potencial da Amazônia em conjunto com a tecnologia japonesa, se contradizendo com o discurso que usa para a questão dos recursos minerais. Bolsonaro desconversa ou passa o microfone para outro integrante da comitiva toda vez que o assunto não envolve violência, segurança pública ou questões militares. Diz que quem pode mesmo fazer alguma coisa são as pessoas, cada um na sua competência, e que ele é só um capitão, mas que quer ser presidente. No Japão, Bolsonaro parece ter alguns simpatizantes em membros da comunidade brasileira, entre eles a mídia que divulga a presença de 500 apoiadores o acompanhando desde sua saída da estação do Shinkansen, em Hamamatsu, até o local do evento. Temos imagens que desmentem a informação, além do que o local do evento aguardava 200 pré-inscritos para ingresso no local e mais a instalação de telão no estacionamento, para quem não conseguisse entrar. No entanto, acabaram liberando a entrada para todos, no espaço onde funciona o restaurante do comércio de produtos brasileiros, que, segundo informações obtidas com um dos responsáveis pela organização do evento, comporta no máximo 180 pessoas. Não houve aperto nem tumulto, dava pra circular livremente no salão, isso com uma equipe de cerca de 20 seguranças, funcionários do estabelecimento, comitiva e imprensa incluídos. Bolsonaro pode ser várias coisas, mas não podemos negar que é uma figura caricata. Ele entra no recinto e diz: “Antes de começar me permita...”, se vira para a bandeira japonesa e bate continência, causando frenesi em seus...fãs?! Sim, fãs, acredite, tem gente inteligente que apoia Bolsonaro, gente que está cansada da política de coalizão. Ele sabe disso e explora esse caminho. Algumas pessoas fazem perguntas complexas e merecem respeito, são pessoas que enxergam nele alguém que não vai se corromper, que será diferente e, por mais que possam ser desavisados, devem estar tão cansados de dicotomia e bipolaridade quanto qualquer um de nós que acredita estar fazendo a coisa certa. Por isso, a boa política deve ser praticada, resolvendo em paz os conflitos que nos separam e nos unem. E foi justamente por isso e pela transparência que resolvi sacrificar meu domingo de manhã com a família, de uma vida corrida como dekassegi, para acompanhar essa comitiva, que em tantos assuntos tenho divergências e que apesar delas não me sinto no direito de manipular, distorcer ou inventar qualquer informação pra bem ou pra mal.