Cristãos contra o fascismo lançam 42 candidaturas nas eleições municipais

O movimento se opõe ao presidente Jair Bolsonaro e ao fundamentalismo religioso

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O grupo Cristãos contra o Fascismo, movimento pluripartidário de evangélicos e católicos progressistas, vai lançar 42 candidaturas a vereador e a prefeito em nove estados brasileiros. PSOL, PDT, PT, UP, PC do B, Rede e Cidadania são os partidos que abrigam os postulantes, que são em maioria negros.

Bancada das Cristãs e Cristãos Contra o Fascismo surge como uma resposta à ascensão, em 2018, de Jair Bolsonaro e políticos próximos do ex-capitão que, para o movimento, deturpam a palavra de Deus e manipulam a fé do povo em nome do poder. "Na mesma onda, também se elegeram por todo o país governadores e parlamentares que se autodenominam cristãos, mas defendem o armamento da população, fecham os olhos para a tortura na ditadura militar e propagam preconceitos de toda espécie, contrariando os ensinamentos de Jesus", afirma o movimento.

“Quem tem como livro de cabeceira a biografia de um torturador não pode se dizer discípulo de alguém que foi torturado, crucificado e morto pelo Estado a mando dos religiosos da sua época”, diz o teólogo Tiago Santos, fundador do movimento e candidato à vereador pelo PSOL em Porto Alegre, em candidatura coletiva.

O grupo tem como objetivo fazer o enfrentamento contra o uso da religião para a obtenção e manutenção do poder político, uma das principais características do fascismo, segundo o movimento e difundir o que seriam os verdadeiros valores cristãos: paz, amor, caridade, tolerância e igualdade entre todos.

Entre as 42 candidaturas, distribuídas em 17 municípios de 6 Estados (SP, RJ, MG, BA, RS , 3 são para prefeito e 39 para vereança, incluindo 5 chapas coletivas (com 31 integrantes no total). O PSOL tem a maior parte das candidaturas (41%), seguido pelo PDT (28%), PT (22%) e UP (8%). PC do B, Rede e Cidadania têm uma candidatura cada. A maioria (73%) das candidaturas é de pretos/pardos. Os brancos são 24% e os indígenas, 3%.

“A cor da pele, o gênero, a sexualidade ou a classe social ainda determinam quem tem direito a viver com dignidade e quem pode ser tratado como a escória da sociedade sem maiores consequências. A intolerância contra os marginalizados é alimentada por aqueles que se dizem os mais cristãos, os fiéis seguidores de Jesus Cristo”, afirma Diana Brasilis, coordenadora nacional do movimento e candidata a vereadora em São Paulo pelo PDT. “Fascismo se combate, não se discute.”

Leticia Gabriella, articuladora do movimento em São Paulo e também candidata a vereadora pelo PDT afirma que "os evangélicos fundamentalistas não a representam, por terem ações e atitudes reacionárias". "O Cristãos Contra o Fascismo é um movimento que se opõe a isso, respeitando as diversidades de raça, gênero e classe e garantindo o respeito aos direitos humanos, aos direitos fundamentais e à liberdade de expressão. Por isso faço parte, sabendo que a nossa luta é por libertação e respeito nos templos religiosos e na sociedade", declarou.

Outro integrante da bancada é o pastor Everaldo Jesiac, líder da Comunidade Apostólica Tribo de Benjamin – Lugar Sem Preconceito, homossexual e integrante do grupo Cristãos Trabalhistas do PDT. “Meus pais são evangélicos, então acabei entrando nesse meio. Mas vi muitos preconceitos nas congregações por onde passei, não acho certo. Hoje tenho a minha igreja, não é exclusiva para LGBTQIA+, recebemos pessoas de todos os tipos. E eu falo para todos: nunca desfaça dos outros, aprenda a amar o próximo, o primeiro mandamento que Jesus ensina", diz o candidato a co-vereador em São Paulo na chapa coletiva Periferia Ativa Búfalos.

Origem

O movimento surgiu a partir da iniciativa de Tiago Santos, que era pastor em Porto Alegre insatisfeito com os rumos da igreja em que atuava. Na campanha eleitoral de 2018, o movimento ganhou corpo em meio ao #EleNão e o engajamento de mulheres de Porto Alegre se juntaram à causa. Foi daí que surgiu o nome Cristãos Contra o Fascismo, com o lançamento do grupo nas redes.

Além de formar a Bancadas das Cristãs e Cristãos Contra o Fascismo para disputar eleições, o movimento tem atuação que não se resume ao período eleitoral e se coloca em permanente oposição ao fundamentalismo religioso e na construção de uma cultura de paz. Entre as atividades realizadas, estão estudos bíblicos, manifestações de rua (antes da pandemia) e criação de conteúdo de conscientização teológica e política.

O movimento também jpa acionou o Ministério Público para denunciar a exploração da fé. Um exemplo foi o feijão mágico lançado pelo pastor Valdemiro Santiago, fundador da Igreja Mundial do Poder de Deus. Segundo o pastor, o feijão mágico teria poder para curar a Covid-19. O Ministério Público Federal ajuizou uma ação contra ele.

Confira abaixo o Manifesto dos Cristãos Contra o Fascismo:

Nós, cristãs e cristãos, que seguimos Nosso Senhor Jesus Cristo, nos manifestamos para que ‘’todos tenham vida em abundância’’ (João 10.10) e contra o retorno das ideologias fascistas e totalitaristas. Repudiamos a manipulação da fé das pessoas e dos espaços religiosos para a propagação da negação da política do bem comum e do amor ao próximo!
Povo de Deus, fiquemos atentos aos discursos e às candidaturas políticas que utilizam os anseios e angústias do povo para a exaltação de figuras messiânicas! Diante destes desafios, nos posicionamos a favor dos valores do Evangelho, expressos da seguinte forma:
• Somos a favor da conversão e restauração das pessoas e contra a pena de morte; pois Jesus foi condenado à morte para que ninguém morresse assassinado como ele. (cf. Mt 12.7, Mc 5.1-20, Jo 8.1-11)
• Somos a favor da dignidade humana e contra a tortura; pois Jesus foi torturado e flagelado. (cf. Gn 1.26, Is 53.7; Lc 6.29-38)
• Somos a favor do livre arbítrio e da democracia, e contra a ditadura e ideias totalitaristas; pois é para a liberdade que Cristo nos libertou. (cf. Pv 29.2, Sl 125.3, Is 10.1, Mq 3.9-12, Am 5)
•Somos a favor da acolhida dos sofredores e excluídos e contra toda forma de discriminação; pois Jesus disse que “quando fizestes a um desses meus pequeninos irmãos, foi a mim que o fizestes” (Mt 25, 40). (Mt 25.35-46, At 10.34, Rm 2.11)
• Somos a favor da misericórdia e da caridade e contra os discursos de vingança e de ódio; pois Jesus disse “sede misericordiosos como o Pai”. (Lc 6, 36). (Mt 5.1-16, Mt 18.21-22, Lc 23.34, Jo 18.11, Ex 34.6, Is 14.1, Is 63.7, Ex 33.19, Ex 34.6-7, Sl 86.15, Is 54.8, Jn 4.2)
• Somos a favor do respeito às mulheres e contra o preconceito que as atinge; pois Jesus respeitou todas as mulheres e as exaltou à igualdade. (Mq 2.9, Mt 9.22, Mt 28.1,5-10, Jo 4.1-29, Jo 8.1-11, Ex 15.20-21, Lc 8.1-3, Mt 26.6-13)
• Somos a favor da promoção da paz e contra o culto às armas; pois Jesus é o príncipe da Paz. (Mt 5.9, Jo 14.27, Rm 8.6, Nm 626, Is 32.17, Is 66.12)
• Somos a favor da abertura à vida e da defesa de todas as famílias, e contra a esterilização de pessoas pobres; pois Jesus caminhou com pessoas de famílias pobres. (Sl 127.3-5, Lc 1.42, Gn 4.1, Gn 2.7, Js 14.10, Sl 27.1, 36.9 e 41.2)
• Somos a favor do acolhimento do estrangeiro e contra a xenofobia e a repulsa aos refugiados; pois Jesus disse “era estrangeiro e hospedaste-me”. (Mt 25, 35). (cf. Dt 10.19; 24.17; 27.19; Ex 22.21; Ex 23.9; Ga 3.28; Hb 13.2)
Convocamos todas as Igrejas de Cristo, e a sociedade, a orarmos pela cultura da paz e pelo fim das iniquidades que oprimem o povo brasileiro. É necessário que nos posicionemos contra igrejas, cristãos, movimentos e candidaturas políticas que propaguem a discriminação, a apologia às armas, o preconceito, a falta de amor, a exaltação da tortura e qualquer negligência contra a dignidade de todas as pessoas. Juntos e em comunhão, conscientes da nossa participação cidadã, podemos caminhar rumo a uma nação justa, fraterna e humana, onde o Reino de Deus se faça presente.
Amém!

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