Dallagnol tramou apoio a candidatos com "agenda liberal" e aproximação a movimento de Huck e Lemann

Em petição ao STF, defesa de Lula revela diálogos que mostram atuação político-partidária de Dallagnol, que articulou lista "tchau, queridos" para propagar discursos de ódio contra candidatos progressistas

Deltan Dallagnol (Reprodução)
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Novos diálogos obtidos pela Operação Spoofing, transcritos em petição protocolada nesta terça-feira (9) pela defesa do ex-presidente Lula no Supremo Tribunal Federal (STF), que a Fórum teve acesso, comprovam que o procurador-chefe da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol transformou a força-tarefa em um projeto político-partidária trabalhando por candidaturas que defendessem a "agenda liberal" de movimentos que serviram de base para a eleição de Jair Bolsonaro em 2018.

Em mensagem no grupo de aplicativo "10M+ a vingança", do qual participava, entre outros, o "presidente da Transparência Brasil", segundo a petição, Dallagnol diz que conversou com Rogério Chequer, do movimento Vem Pra Rua, sobre a promoção de "uma frente por renovação, sem protagonista, que aglutinará entidades da sociedade civil que concordem com uma AGENDA liberal, de promoção do mercado e anticorrupção".

"Estão desenvolvendo a agneda (SIC) e juntarão uma série de entidades que apoiarão candidatos com condições de se eleger e que se comprometam com a agenda", diz Dallagnol sobre o encontro com o líder do movimento, que promoveu atos pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT) e autou ativamente na campanha de Jair Bolsonaro em 2018, antes de abandonar a base de apoio do presidente.

"Tchau, queridos"
Na conversa, Dallagnol ainda diz ter tramado com Chequer uma "lista negra (nome politicamente correto: 'tchau, queridos')" para fazer campanha contrária a candidatos do campo progressista "em quem não votar".
"Vão usar instrumentos de mídias sociais para fazer divulgação geolocalizada (raio de 100 km das cidades que são seus redutos eleitorais)", diz Dallagno, sobre ação de promoção de discursos de ódio e fake news contra políticos considerados inimigos pela Lava Jato.

"Ou seja, o antagonismo político da “lava jato” com o Reclamante e a atuação político-partidária de seus membros para eleger “candidatos que se comprometam com a agenda” da própria 'lava jato' é de clareza solar de acordo com os novos documentos analisados", diz a defesa de Lula na petição ao STF.

Luciano Huck e Lemann
Em nova mensagem, no dia 18 de fevereiro de 2018, Dallagnol alerta o grupo que "o tempo até as eleições é curto" e prega a aproximação a candidatos de movimentos ligados ao apresentador da Globo, Luciano Huck, e ao bilionário Jorge Paulo Lemann, como o RenovaBR, e de lideranças das igrejas "Católica e evangélicos".

"Michael, acho que temos que nos aproximar do MeRepresenta e dos demais que pregam renovação (Renova, Agora, Nova Democracia etc) para incluírem como bandeira. Sugiro marcarmos uma reunião virtual para quinta ou outra segunda para encaminharmos uma estratégia de articulação com esquerda, com esses movimentos de renovação política, com líderes cristãos (Igreja Catolica e evangélicos) etc".

"Note-se que o procurador da República DELTAN DALLAGNOL tinha plena ciência de que sua condição de membro do MPF não lhe permitia ter essa atuação político-partidária. Por isso, a solução encontrada pelo próprio procurador da República DALLAGNOL foi a de 'FICAR ATRÁS DO PALCO, NOS BASTIDORES'. O procurador-chefe da “lava jato” ainda detalhou ao grupo: '4) PENSO EM ATUAR NOS BASTIDORES, FALANDO COM GRANDES LIDERANÇAS QUE CONFIAM EM MIM E NO TRABALHO'”, diz a petição da defesa de Lula.