"Demonstração de força já é considerada ato de guerra", diz Celso Amorim sobre manobra militar de Bolsonaro

Ex-chanceler considera evento militar que Bolsonaro planeja para terça-feira uma "ameaça de golpe"; já Raul Jungmann, ex-ministro da Defesa de Temer, diz que ato terá efeito internacional "desastroso"

Celso Amorim durante cerimônia militar em 2012 (Foto: Ministério da Defesa/Arquivo)
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Em entrevista à BBC Brasil nesta segunda-feira (9), o ex-ministro das Relações Exteriores (governo Lula) e da Defesa (governo Dilma), Celso Amorim, afirmou que a manobra militar planejada por Jair Bolsonaro nesta terça-feira (9) em Brasília é interpretada, no direito internacional, como um ato de guerra.

Antes da votação da PEC do Voto Impresso no plenário da Câmara – após a proposta ser rejeitada em Comissão Especial da casa -, o presidente vai aguardar a chegada de um comboio com tanques e blindados de guerra no Palácio do Planalto.

Por volta das 8h30, o comboio militar vai desfilar pelas avenidas na Praça dos Três Poderes e estacionar em frente ao Planalto, onde generais vão entregar a Bolsonaro e ao ministro da Defesa, Walter Braga Netto, convites para a demonstração operativa da Operação Formosa.

Políticos e partidos da oposição têm interpretado o ato de Bolsonaro como uma tentativa de intimidação, demonstração de força e até mesmo um ensaio golpista contra a iminente derrota do voto impresso na Câmara.

"Em um momento em que o presidente sofre pressões e tem constantemente falado coisas antidemocráticas, a notícia de que ele vai participar de um evento com tanques de guerra na rua é um absurdo total. Como comparação, no direito internacional uma demonstração de força já é considerada um ato de guerra", afirma o ex-chanceler.

Segundo Amorim, não há "outra leitura que não uma ameaça de golpe". "É lamentável", avalia o ex-ministro.

"Efeito internacional desastroso"

Já o ex-ministro da defesa no governo de Michel Temer, Raul Jungmann aposta que a manobra militar planejada por Bolsonaro terá "efeito internacional desastroso".

"[O ato de Bolsonaro] vai ampliar a derrota do voto impresso na Câmara, que de forma alguma vai aceitar esse tipo de pressão. Segundo, o efeito desses fatos internacionalmente será desastroso, não tenho a menor sombra de dúvida. Terceiro, é uma manifestação não de força, mas de fraqueza, de jus sperniandi, de perdedor, que quer criar uma falsa impressão de que tem força para que não tem, que é tirar o Brasil dos trilhos democráticos", disse em entrevista à Folha de S. Paulo.

"O presidente tenta com esse teatro criar a ilusão de que as Forças Armadas apoiam o seu constrangimento dos demais Poderes e ameaças. Não existe nada disso. As Forças Armadas estão de fato com a Constituição e não vão se afastar disso. E o presidente visa passar a impressão contrária", afirma ainda.

Ações na Justiça

O PSOL protocolou junto à Justiça do Distrito Federal, nesta segunda-feira (9), um mandado de segurança para impedir a manobra militar que o ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, e Jair Bolsonaro planejam em Brasília nesta terça-feira (9).

“A informação de que haverá uma manobra militar amanhã na Esplanada dos Ministérios é grave. O PSOL decidiu entrar com um Mandado de Segurança na Justiça do DF para proibir qualquer presença de veículos ou tropas militares durante as votações no Congresso Nacional”, disse o presidente do PSOL, Juliano Medeiros.

Quem também entrou na Justiça contra o ato militar atípico encampado por Bolsonaro no dia da análise da PEC do voto impresso foi o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE).

“Pedi à Justiça que impeça o gasto de recursos públicos em uma exibição vazia de poderio militar. As Forças Armadas, instituições de Estado, não precisam disso”, informou o congressista.

“Os brasileiros, sofrendo com as consequências da pandemia, também não. O Brasil não é um brinquedo na mão de lunáticos”, completou.