Depois de impeachment e posse de aliada, Bolsonaro vai passar fim de semana em Santa Catarina

Pai de nova governadora do estado é acusado de divulgar livros e ideias nazistas e negar o Holocausto

Daniela Reinehr, governadora interina de SC, e Jair Bolsonaro (Reprodução)
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Logo após o afastamento do governador de Santa Catarina, Carlos Moisés (PSL), o presidente Jair Bolsonaro já marcou uma agenda no estado, que agora é governado interinamente por uma aliada sua, a vice-governadora Daniela Reinehr (sem partido).

O capitão da reserva participará, na sexta-feira da próxima semana, dia 8 de novembro, da formatura de novos agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF), na capital Florianópolis. Depois, de acordo com o secretário nacional de Aquicultura e Pesca, Jorge Seif Junior, Bolsonaro deverá tirar folga e passar o final de semana no estado. Segundo Junior, o presidente se hospedará Forte Marechal Luz, em São Francisco do Sul, cidade propícia para a pesca, uma das práticas esportivas preferidas de Bolsonaro.

A ida de Bolsonaro ao estado acontece logo após Daniela Reinehr tomar posse como governadora interina. Diferentemente de Carlos Moisés, que rompeu com o presidente após sua saída do PSL, Daniela se manteve leal ao capitão da reserva e tenta sempre se mostrar próxima a ele. Ela, inclusive, seguiu os passos do presidente e também saiu do PSL na ocasião do rompimento de Bolsonaro com o presidente da sigla, Luciano Bivar.

Carlos Moisés foi afastado do governo de SC por 180 dias, no último final de semana, por decisão de um tribunal especial. Ele é acusado de crime de responsabilidade ao conceder aumento salarial a procuradores sem autorização legislativa. Daniela também era alvo da investigação, mas foi absolvida, para a alegria de Jair Bolsonaro, que vinha sofrendo críticas públicas do então governador e agora tem uma aliada no comando do estado.

Ideias nazistas

Produtora rural e ex-policial militar, Daniela é filha do professor de História Altair Reinehr. Ele é conhecido por ter atuado como testemunha de defesa no julgamento de Siegfried Ellwanger Castan, fundador da Editora Revisão, que publicava livros antissemitas, que propunham revisionismo histórico e negavam o Holocausto. Ainda nos anos 90, Castan foi condenado à prisão pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS) pelo crime de racismo, condenação que foi ratificada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2002. O editor faleceu em 2010.

Além de ter defendido o editor nazista diante da Justiça, o pai da governadora interina de Santa Catarina já fez postagens nas redes sociais em 2011 defendendo Adolf Hitler, conforme mostra reportagem da Folha de S. Paulo. Em uma publicação em que aparece em frente à casa onde Hitler nasceu na Áustria, Reinehr escreveu que o ditador responsável pelo extermínio dos judeus “num curto espaço de tempo, acabou com o problema do desemprego de 6 a 7 milhões de pessoas, revitalizou a indústria, moralizou os serviços públicos e transformou a Alemanha num canteiro de obras”, relativizando o nazismo, entre outros elogios ao chanceler do Reich alemão durante a Segunda Guerra Mundial.

Pelo Twitter, o editor do The Intercept Brasil, Leandro Demori, revelou que Reinehr foi seu professor de História no segundo grau e que ele defendia ideias neonazistas em sala de aula, “inclusive vendendo livros revisionistas”.

Como se não bastasse, o Diário do Centro do Mundo ainda trouxe à tona o fato de que o professor teria escrito um artigo em 2005, publicado no jornal “A Notícia”, de Joinville, afirmando que o Holocausto é uma “lenda”.

Fórum procurou a governadora interina, via assessoria de imprensa, perguntando se ela compartilha das mesmas visões que o pai sobre o nazismo, mas não obteve retorno. Em coletiva de imprensa nesta terça-feira (27), Daniela foi questionada por um jornalista sobre o tema, mas tergiversou.

"Eu respeito, volto a dizer, respeito as pessoas independentemente dos seus pensamentos, respeito os direitos individuais e as liberdades. Qualquer regime que vá contra o que eu acredito, eu repudio", afirmou, de maneira genérica, sem especificar qual regime ela repudia.

"Existe uma relação e uma convicção que move a mim, e acredito que a todos os senhores, que se chama família. Me cabe, como filha manter, a relação familiar em harmonia, independente das diferenças de pensamento, das defesas", completou a governadora interina.