Dilma desmente fake news de Bolsonaro dita em entrevista à TV italiana

O presidente disse, em entrevista para um programa da RAI - a TV estatal italiana - que Dilma participou da "organização terrorista" VPR durante a ditadura, sugerindo que ela tivesse participação no assassinato de um soldado; ex-presidenta, no entanto, pertenceu a outra organização que não teve qualquer relação com o caso citado

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A ex-presidenta Dilma Rousseff divulgou, na noite desta segunda-feira (21), uma nota em que desmente um fake news de Jair Bolsonaro dita em uma entrevista à TV estatal italiana, a RAI, na última quarta-feira (16). Por vídeo-conferência, o presidente afirmou que a petista, durante a ditadura militar, pertenceu à VPR, organização de oposição ao regime liderada por Carlos Lamarca e que participou de uma ação que culminou na morte do sargento Mario Kozel Filho. A declaração deu a entender que Dilma teria participado do assassinato do militar. A verdade é que a ex-presidenta fez parte de outra organização de oposição à ditadura, a VAR-Palmares. "A verdade é que nunca fui integrante deste grupo, jamais participei de qualquer ação armada e não propus ou contribui para a morte de quem quer que seja. Pertenci, na verdade, a outra organização política de oposição à ditadura, a VAR-Palmares", escreveu a petista. Na nota, Dilma assinalou ainda que a fake news citada pelo presidente já vem sendo usada por opositores desde sua primeira eleição, em 2010. "É profundamente lamentável que um chefe de Estado venha a proceder dessa forma", completou a ex-presidenta. Confira, abaixo, a íntegra da nota. FAKE NEWS AOS ITALIANOS Bolsonaro passa notícia falsa à emissora de TV da Itália O presidente Jair Bolsonaro divulgou uma fake news que seus apoiadores vêm disseminando há bastante tempo. Tornou-se transparente, assim, a origem dessas acusações, uma vez que agora foram feitas diretamente pelo próprio presidente para um público internacional.
Em entrevista concedida a um programa de auditório da RAI, emissora italiana de TV, o presidente proferiu acusação falsa e ignomiosa, atribuindo a mim participação na VPR, organização de oposição à ditadura militar. Construiu a sua fala de modo a passar a ideia de que eu teria participado de ações violentas, em especial de uma que causou a morte de um soldado. A verdade é que nunca fui integrante deste grupo, jamais participei de qualquer ação armada e não propus ou contribui para a morte de quem quer que seja. Pertenci, na verdade, a outra organização política de oposição à ditadura, a VAR-Palmares. O curioso é que os detalhes da minha atuação contra a ditadura militar no Brasil foram investigados e julgados pelos órgãos integrantes do aparato judicial-repressivo do regime militar, dos quais o então militar Bolsonaro foi próximo. Fui presa por três anos, fui torturada, e jamais me interrogaram ou julgaram por tais acusações, que agora, de forma irresponsável e injuriosa, me faz o presidente. Meu nome também não é citado entre os militantes acusados de participarem da ação de São Paulo, no livro que trata do assunto, editado pelos próprios militares, após o fim da ditadura. A ação específica a que Bolsonaro e seus apoiadores se referem ocorreu em São Paulo, em 26 de junho de 1968, período em que eu residia em Belo Horizonte e frequentava a Faculdade de Economia da Universidade Federal de Minas Gerais. Não tinha o dom da ubiquidade, e ainda não tenho. O presidente está apenas repetindo uma notícia falsa e insidiosa espalhada por seus apoiadores durante a campanha eleitoral, por meio de um vídeo comprovadamente forjado. É a terceira vez que, por má-fé, essa mesma fake news é usada contra mim. A primeira foi em 2010, quando assumi a Presidência da República. A mentira foi divulgada por blogs fascistas. A segunda vez ocorreu na campanha eleitoral do ano passado, quando enormes somas de dinheiro foram gastas para espalhar notícias falsas contra os principais candidatos do PT, nas redes sociais. Agora, já na Presidência da República, Jair Bolsonaro repete aos telespectadores italianos informações falsas usadas para enganar o eleitor brasileiro. É profundamente lamentável que um chefe de Estado venha a proceder dessa forma. DILMA ROUSSEFF