Dólar supera R$ 4,50 mesmo com intervenção do Banco Central

Banco central vendeu contratos futuros para conter a alta da moeda estadunidense, que já bate novo recorde. Real chegou a ser a segunda moeda mais desvalorizada no mundo

Paulo Guedes (Divulgação/ Ministério da Economia)
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Mesmo promovendo leilões de swaps em valores equivalentes a 1 bilhão de dólares, o Banco Central não conseguiu conter a alta da moeda estadunidense que bateu novo recorde nesta quinta-feira (27), superando a marca dos R$ 4,50. Com a intervenção, o dolar chegou a R$ 4,46 por volta das 13h50, mas segue tendência de alta.

O leilão de contratos swap equivale a uma venda de dólares no mercado futuro para os bancos, que ficam assim protegidos contra uma eventual disparada da moeda estadunidense no período. Os contratos negociados nesta quinta-feira (27) têm vencimento em agosto, outubro e dezembro de 2020.

A medida vem logo após a bolsa viver um dia de nervosismo nessa quarta-feira (26) por causa da confirmação do primeiro caso de coronavírus no Brasil e da convocação de ato por Jair Bolsonaro pedindo o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF).

Na quarta, o BC já havia vendido 10 mil contratos de US$ 500 milhões, o que não evitou que a moeda alcançasse a cotação recorde de R$ 4,45, já superada no pregão desta quinta.

Desvalorização
O real chegou a ser a segunda divisa de pior desempenho contra o dólar no dia, atrás apenas do peso colombiano (-1,66%), mas diminuiu as perdas relativas e agora estava um pouco melhor que o rublo russo (-1,19%) e rand sul-africano (-0,98%).

Queda
Nesta quarta, a Bovespa fechou em queda de 7%, com o anúncio da chegada do Coronavírus ao Brasil e diante da convocação de Bolsonaro para os atos de 15 de março, pedindo o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF).

O banco estanidense J.P. Morgan anunciou que cortou sua expectativa para a expansão do PIB brasileiro neste ano, de 1,9% para 1,8%.

Alinhado à política neoliberal de Paulo Guedes, o economista José Roberto Mendonça de Barros, que teve forte atuação nos governos do tucano Fernando Henrique Cardoso, disse em entrevista a O Estado de S.Paulo que teme mais a política de Bolsonaro do que o coronavírus.

“O coronavírus foi aquele fator adicional. Por razões variadas, o PIB está de novo queimando a largada. Uma expressão adequada é que um pouco do encantamento com a política econômica que tínhamos em 2019 se quebrou. E o coronavírus está sendo até algo brutal para acabar com esse encantamento”, disse Mendonça de Barros, que ressaltou ainda que as declarações de Bolsonaro atrapalham o “pique reformista” do Congresso.

“Considerando esses eventos recentes, talvez seja provável que a política esteja atrapalhando mais, porque a incerteza tende a se elevar e porque o pique reformista do Congresso provavelmente vai sentir”, afirmou.

Em entrevista à Fórum, o economista, pesquisador e professor da Unicamp, Marcio Pochmann, acredita, no entanto, que o cenário atual só deve acentuar o impacto negativo causado pela política neoliberal de Paulo Guedes e deve resultar, principalmente, em perdas para os trabalhadores e a população mais pobre.

“A economia brasileira está impactada pelo receituário neoliberal em curso. O seu aprofundamento recente não permitiu, nem permitirá, a recuperação sustentada do nível de produção e emprego decente, muito menos a desconcentração da riqueza e renda nacional. O governo Bolsonaro e os porta vozes do dinheiro sabem disso, porém não admitem. Por isso a busca intensa de justificativas para a continuidade dos infortúnios acumulados pela gestão neoliberal da economia brasileira”, disse.