E-mails trocados com a PF mostram que Rejane Dias tentou oitiva cinco meses antes de operação

Desde fevereiro, os advogados da deputada federal (PT-PI) são ignorados pela delegada Milena Soares Caland

Foto: Ascom/Piauí
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Uma série de e-mails trocados entre os advogados da deputada federal Rejane Dias (PT-PI) e uma delegada da Polícia Federal mostram que a parlamentar tentou agendar oitivas com PF para depor nas investigações que culminaram em mandados de busca e apreensão realizados nesta segunda-feira na residência da primeira-dama do Piauí e do governador Wellington Dias (PT) e no gabinete da parlamentar, em Brasília.

Nas mensagens, que a Fórum teve acesso, a deputada se coloca à inteira disposição para prestar esclarecimentos, informando inclusive várias datas que poderiam ser utilizadas para uma sessão. O contato foi feito entre os representantes da parlamentar, da Walter Moura Advogados Associados com a delegada Milena Soares Caland.

No primeiro correio eletrônico, de 19 de fevereiro de 2020, os advogados informam que "a Deputada Rejane Ribeiro tem disponibilidade para prestar os esclarecimentos solicitados por esta autoridade policial no dia 12/03/2020 (quinta-feira), no período da tarde, na Superintendência da Polícia Federal de Brasília/DF. Caso não haja disponibilidade na data e período especificados acima, requer-se sejam apresentadas sugestões de
outras datas para que a Deputada possa verificar sua disponibilidade de comparecimento".

Em 20 de fevereiro, a Caland afirma que irá retornar para confirmar ou propor nova data. Apesar da insistência dos advogados, que voltaram a acioná-la em 2 março, a delegada diz que o e-mail "não ficou visível na primeira página" e que não conseguiu estabelecer contato com Brasília até a data sugerida de 12 de março.

Dessa maneira, os advogados respondem no mesmo dia e pedem para a delegada sugerir novas datas. Sem a resposta, voltam a acioná-la quatro dias depois sugerindo 5 datas: 17/03, 18/03, 19/03, 24/03, 25/03 e 26/03, em Brasília. "Deputada estará em Brasília, à disposição, mesmo com os protocolos de Covid-19, pois, também são datas do tratamento médico pelo qual ela passa, na Capital Federal", afirmam os advogados.

Em resposta, no dia 18 de março, Caland, afirma que "no intuito de evitar a propagação do Covid-19, as Superintendências Regionais estão sendo orientadas a desmarcar as audiências já agendadas ou não marcar novas audiências presenciais".

Ela promete, ainda manter "esses mesmos canais de comunicação (e-mail/telefone) no intuito de viabilizar a melhor data para a realização da oitiva após cessadas as medidas de proteção adotadas pelo Governo e pela
Polícia Federal, rogando para que seja o mais breve possível".

Por conta da situação da pandemia, os advogados, então, sugerem uma oitiva por escrito, em e-mail enviado no mesmo 18 de março. "Considerando a quadra atual, a situação de saúde da Deputada e o empenho pessoal dela em deixar V. Exa. absolutamente esclarecida dos fatos, se for o caso, rogo da senhora se pode ser feita a oitiva por escrito", afirmou.

Os advogados ficam sem resposta e voltam a entrar em contato em 22 de julho, onde mais uma vez são ignorados sobre datas para oitivas.

"Questiono se já temos alguma previsão para agendamento da oitiva da Deputada Rejane Ribeiro. O feito segue tramitando em Teresina/PI? Há algum incidente já instaurado para a realização de oitivas perante a
Superintendência da Polícia Federal em Brasília/DF?", diz a mensagem.

Em nota pública divulgada nesta segunda-feira, o governador do Piauí classificou a operação como "mais um espetáculo em nome de investigação".

Confira a troca de e-mails na íntegra: