É possível dialogar com um Bolsonarista?, por Chico Alencar

Pode ser difícil, mas é necessário: ele está na nossa família, na vizinhança, na turma do trabalho ou do estudo, na igreja

Gabriel Kanner, presidente do grupo bolsonarista Brasil 200, e Regina Duarte (Reprodução/Twitter)
Escrito en POLÍTICA el

Por Chico Alencar*

Pode ser difícil, mas é necessário: ele está na nossa família, na vizinhança, na turma do trabalho ou do estudo, na igreja.

O pensamento ultraconservador, da direita ou da extrema-direita, compõe hoje 1/3 da opinião política nacional - dizem todas as pesquisas. São aqueles que ainda votariam no capitão do desatino, apesar do evidente desastre que é seu (des)governo. Não para eles.

Dialogar é trocar ideias. E, com a força dos argumentos (e não com o argumento da força), convencer ou deixar-se convencer.

Claro que há os empedernidos, os fanatizados, os bolsocrentes. Com esses não há diálogo possível: operam no mundo dos dogmas, que supre o vazio de ideias. Eles seriam uns 15% desse universo bolsonarista. São os neofascistas, os terraplanistas, os negacionistas.

Mas há uma parcela mais aberta, que até pode ser sensível à reflexão e, talvez, repensar certas posições.Apostemos na razão, como nos ensinaram os iluministas, há mais de três séculos…

Não afirmo isso por desejo, mas em cima de FATOS. Duas pesquisas recentes, publicadas na imprensa e sites, como a Revista Forum, feitas também com pessoas que, hoje, reelegeriam Bolsonaro (!), revelam dados interessantes. Há fissuras na muralha.

Entre os bolsonaristas, 63% apoiam as lutas anti-racistas, 62% são contra intervenção militar, 60% reprovam a vinculação religião-Estado, 58% criticam a aliança com o Centrão, 55% são contra a flexibilização das regras ambientais para a Amazônia e a redução das reservas indígenas. 58% se manifestaram contra os vetos do seu "ídolo" ao uso de máscaras. Que tal começar a dialogar por aí, mostrando que o "mito" é falível e erra bastante?

No universo geral, não só de bolsonaristas, diante de um governo entreguista como esse (com apoio, na sua pauta econômica, de "liberais de centro" e da mídia grande), 57,8% são contra a privatização do BB, 57% contra a da Petrobras e 60% contra a da CEF. A privatização das Universidades Públicas é rejeitada por 61,8%. Mais de 62% são contra a precarização do SUS. E mais de 63% contra a debilitação das escolas públicas (via o tal "vaucher" para escolas privadas que o (des)governo deseja implementar). O número dos que aprovam essas medidas de destruição do Estado e de setores públicos estratégicos é expressivo, mas não majoritário.

O governo militarizou o Ministério da Saúde, mas 61% são contra a presença dos militares lá. 64% são contra o fechamento do Congresso e quase 68% contra o fechamento do STF, como pregam segmentos governistas.

Política - que difere de politicagem - é disputa de ideias, de projetos de sociedade. Os democratas e progressistas sofremos uma derrota histórica em 2018. Mas há um campo aberto para reverter isso, tamanho o caos que está sendo o (des)governo Bolsonaro.

Para ocupá-lo com as causas do interesse público e da VIDA, mostrando que é urgente fazer diferente, é preciso paciência e ânimo. Em frente!

*Chico Alencar é professor, escritor e ex-deputado federal (PSOL-RJ)