"E se isso tudo acontecer antes de aparecer vaga no Supremo?", disse Dallagnol sobre caso Flávio Bolsonaro

Comentário do procurador teria ligação com vaga negociada por Moro com Bolsonaro no STF

Foto: Jane de Araújo/Agência Senado
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Diálogos entre procuradores da Lava Jato mostram que a força-tarefa ficou preocupada quando o caso das "rachadinhas" de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) veio à tona. As conversas foram obtidas pela CNN Brasil e divulgadas nesta terça-feira (2).

Antes mesmo da posse de Flávio no Senado e de Jair Bolsonaro na Presidência, o procurador Deltan Dallagnol compartilhou com colegas possíveis cenários para o caso, inclusive citando uma possível influência na indicação para o Supremo Tribunal Federal (STF) e o aparelhamento da Procuradoria-Geral da República (PGR).

O tema veio à tona no grupo "Filho de Januário" no dia 8 de dezembro de 2018, quando Dallagnol compartilhou com os demais procuradores a seguinte notícia: “Bolsonaro diz que ex-assessor tinha dívida com ele e pagou a primeira-dama”.

O procurador então comenta: “Coaf com Moro. Aiaiai”. Na época, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) seria subordinado ao Ministério da Justiça de Sergio Moro no novo governo.

Januário Paludo então pergunta: “Lembra de algo Deltan? Aiaiai.” A procuradora Jerusa Viecili comenta na sequência: “Falo nada ... Só observo ??”. Dallagnol então ri: Kkk. É óbvio o q aconteceu... E agora, José?”.

Na sequência, Dallagnol passa a formular cenários para o desdobramento das investigações contra Flávio Bolsonaro. “Moro deve aguardar a apuração e ver quem será implicado. Filho certamente. O problema é: o pai vai deixar? Ou pior, e se o pai estiver implicado, o que pode indicar o rolo dos empréstimos? Seja como for, presidente não vai afastar o filho. E se isso tudo acontecer antes de aparecer vaga no supremo?", questionou.

Após a saída de Sergio Moro do governo, o presidente Jair Bolsonaro chegou a acusá-lo de negociar uma vaga no Supremo. O presidente afirmou que o ex-juiz pediu a ele para que a troca do comando da PF ocorresse em novembro, depois dele ser indicado a uma vaga no STF.

"Agora, Bolso terá algum interesse em aparelhar a PGR, embora o Flávio tenha foro no TJRJ. Última saída seria dar um ministério e blindar ele na PGR. Pra isso, teria que achar um colega bem trampa. Acho que Moro já devia contar com a possibilidade de que algo do gênero acontecesse", completou Dallagnol.

O procurador então afirma que será questionado sobre o tema em entrevistas, então decide a melhor estratégia: “Não vejo como desviar da pergunta, mas posso ir até diferentes graus de profundidade. 1) é algo que precisa ser investigado; 2) tem toda a cara de esquema de devolução de parte dos salários como o da Aline Correa que denunciamos ou, pior até, de fantasmas”, afirma o procurador.

"Agora, o quanto ele vai bancar a pauta Moro Anticorrupcao se o filho dele vai sentir a pauta na pele?”, completa.