Eduardo Bolsonaro contraria o próprio pai e admite que "não tem como comprovar que houve fraude" na eleição

O presidente, que teme derrota em 2022 e tenta tumultuar o pleito ao defender o voto impresso, já chegou a afirmar que possui provas sobre suposta fraude na eleição pela qual ele mesmo se elegeu, mas nunca as apresentou

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O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) contrariou seu próprio pai, o presidente Jair Bolsonaro, e afirmou durante sessão da comissão que discute a proposta do voto impresso, na Câmara dos Deputados, nesta segunda-feira (17), que não há como provar que houve fraude na eleição de 2018.

Por mais de uma vez, Bolsonaro afirmou que o pleito pelo qual se elegeu teria sido fraudado e que ele, na realidade, teria vencido já no primeiro turno, declarando ainda ter provas sobre a suposta fraude. "Eu acredito que, pelas provas que tenho em minhas mãos, que vou mostrar brevemente, eu tinha sido, eu fui eleito no primeiro turno, mas no meu entender houve fraude. E nós temos não apenas palavra, nós temos comprovado, brevemente eu quero mostrar", disse, por exemplo, em março de 2020. Essas provas, no entanto, até agora não foram mostradas.

Na sessão da Câmara, o discurso de Eduardo Bolsonaro, apesar de também ser no sentido de defender o voto impresso, foi no caminho contrário ao de seu pai. "O que a gente fica infeliz, insatisfeito, é porque que… como que até hoje a gente não tem uma maneira de auditar as nossas urnas? Porque da mesma maneira que nós não temos como comprovar que houve fraude, o outro lado também não tem como comprovar que não houve fraude. E é isso que a gente quer colocar um ponto final aqui", declarou o parlamentar.

A urna eletrônica no Brasil, no entanto, diferente do que diz Bolsonaro e seu filho, é considerada extremamente segura e o processo eleitoral já é auditado com inúmeras ferramentas, como o registro digital do voto, log da urna eletrônica, auditorias pré e pós-eleição, auditoria dos códigos-fonte, lacração dos sistemas, tabela de correspondência, lacre físico das urnas, identificação biométrica do eleitor, auditoria da votação e oficialização dos sistemas.

Medo de perder

Nas últimas semanas, o presidente Jair Bolsonaro, deputados governistas e bolsonaristas como um todo retomaram com força a pauta do voto impresso. O titular do Planalto, que já aventou a possibilidade de fraude na eleição pela qual ele mesmo se elegeu, voltou a falar mais do assunto principalmente depois que o ex-presidente Lula retomou seus direitos políticos e passou a aparecer na liderança em pesquisas de intenção de voto para a presidência em 2022.

Temendo uma derrota, Bolsonaro insiste em querer voltar no tempo e instituir o voto impresso no país. Especula-se que o presidente, caso perca a eleição, tente tumultuar a posse de seu possível sucessor, assim como fez Donald Trump nos Estados Unidos, usando o argumento de que o pleito foi fraudado e que os votos deveriam ter sido "auditados".

Na última quinta-feira (13), lado do senador Fernando Collor (Pros-AL) em Alagoas, Bolsonaro voltou a defender o voto impresso, afirmando que a deputada Bia Kicis (PSL-DF) é a “mãe” da proposta e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que também estava no ato, é o “pai”. Logo na sequência, fez o apelo “divino” para que consiga se manter no cargo até a próxima eleição - mostrando todo o seu temor de um revés eleitoral.

“Ninguém ousará mudar a cor da nossa bandeira, nem tolher a nossa liberdade (…) Só peço a Deus que nos dê força, sabedoria e coragem para enfrentar os desafios e concluir o nosso mandato, de modo que possamos dizer lá na frente que fizemos o melhor”, disparou.

PSDB rebate Bolsonaro sobre fraude

O presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, afirmou à coluna de Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, no início do mês, que seu partido reconhece o resultado eleitoral que deu vitória à Dilma Rousseff (PT) na eleição presidencial de 2014.

A fala se trata de uma resposta a Jair Bolsonaro, que recentemente, a interlocutores, afirmou ter “provas” de que Aécio Neves (PSDB) teria vencido a petista no pleito.

“Reconhecemos todos os resultados eleitorais e a segurança das urnas eletrônicas”, declarou o tucano.

Após a eleição de 2014, o PSDB chegou a pedir auditoria das urnas, que confirmou a vitória de Dilma. A legenda, agora, procura contrapor as teses de fraude encampadas por Bolsonaro.

“Ela [a auditoria] foi feita. E o resultado foi reconhecido. Não há a menor contestação. Participamos da sessão do Congresso Nacional que deu posse a ela sem qualquer protesto”, completou Araújo.