Em artigo no Estadão, Lira isenta Bolsonaro de culpa na pandemia: "Não adianta apontarmos os dedos"

Presidente da Câmara, que recebeu apoio do bolsonarismo para sua eleição, afirma que "debates estéreis e polarizadores sobre negacionismos serviram, na prática, para dissipar o foco de nossa atuação"

Jair Bolsonaro e Arthur Lira (Reprodução)
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O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-L), publicou um artigo no jornal Estadão, neste domingo (14), em que tenta refletir sobre o debate do negacionismo, ressignificando a palavra, com o intuito de se vangloriar de seu início de gestão como comandante da mesa diretora da Casa e, ao mesmo tempo, isentar o presidente Jair Bolsonaro de sua responsabilidade na situação trágica que a pandemia do coronavírus se encontra no Brasil.

A eleição de Lira na presidência da Câmara foi viabilizada graças ao apoio de Jair Bolsonaro, concretizado após um acordo entre os bolsonaristas e os partidos do Centrão. Ao longo de seu artigo, o parlamentar procurou demonstrar uma postura diferente de seu antecessor no cargo, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que apontava negacionismo na conduta de Bolsonaro ao minimizar a crise sanitária, se colocar contra a vacina e desrespeitar os protocolos contra o contágio da Covid-19.

"Na 'narrativa' preponderante, o negacionismo teria apenas um significado: uma cruzada entre os defensores da 'ciência' e os 'opositores' a essa linha no combate à pandemia. Na verdade, a meu ver, uma exacerbação, posto que renegar a ciência é incabível e a vacina está aí para demonstrar", escreveu Lira, tentando se colocar em uma posição de defensor da ciência, porém criticando, indiretamente, aqueles que associam a Bolsonaro o péssimo desempenho do Brasil no enfrentamento à pandemia.

Segundo Lira, quem estava encampando o negacionismo no Brasil, até então, seria a Câmara dos Deputados, sob a gestão de Maia.

"O fato é que passamos o ano de 2020 num negacionismo parlamentar, com a Câmara dos Deputados, sobretudo, negando-se a dar encaminhamento às votações que a sociedade brasileira espera. E as primeiras semanas da nova legislatura mostram que deputados e senadores conseguiram finalmente fazer valer sua vontade, baniram o negacionismo da paralisia legislativa e a pauta do Brasil voltou a caminhar", declarou o deputado, se autoelogiando pela aprovação da independência do Banco Central e pela instalação da Comissão Mista do Orçamento.

Em outro ponto do texto, Lira deixa mais clara sua intenção de isentar Bolsonaro de responsabilidade na condução da crise sanitária, social, econômica e política, pregando mais vacinação, como se o presidente não tivesse culpa no atraso da imunização no Brasil.

"Não adianta apontarmos os dedos uns aos outros para acusar quem é o culpado pela pandemia", disparou o parlamentar.

"Os debates estéreis e polarizadores sobre 'negacionismos' serviram, na prática, para dissipar o foco de nossa atuação e drenaram a energia das instâncias políticas para fazer o que é sua missão primordial: enfrentar os problemas do País e dar respostas concretas em termos de soluções", disse ainda.