Em carta aos democratas, prefeito de Niterói revela perplexidade e indignação com sua prisão

Rodrigo Neves está detido sem provas e sem indícios, denunciado por desvio de mais de R$ 10 milhões de verba do transporte municipal, com base exclusivamente em uma delação de um réu confesso

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[caption id="attachment_146621" align="alignnone" width="700"] Foto: Reprodução/Twitter[/caption] O prefeito de Niterói, Rodrigo Neves (PDT-RJ), preso injustamente na segunda-feira (10), no prédio onde ele mora, divulgou uma carta, na qual desabafa sobre o que está passando. Neves foi denunciado por desvio de mais de R$ 10 milhões da verba de transporte do município entre 2014 e 2018. Foi preso sem provas, apenas com base em denúncia de uma delação premiada. Fórum precisa ter um jornalista em Brasília em 2019. Será que você pode nos ajudar nisso? Clique aqui e saiba mais Acompanhem a íntegra da carta: Carta à população de Niterói e aos democratas do Brasil Amigos e amigas, Dez dias após ter sido violentamente retirado de minha casa, de minha família e de minhas funções como chefe do executivo do município de Niterói, preso em um lugar cuja sensação térmica chega a 50 graus, finalmente recebi a denúncia e decisão sobre meu afastamento e prisão preventiva. Li e reli com perplexidade e indignação, pois tais graves decisões foram tomadas com base exclusivamente em uma delação de um réu confesso que, está livre e vive com uma boa quantia de milhões de dólares, fruto de corrupção. O criminoso Marcelo Traça, senhor com quem nunca tive qualquer relação ou convívio pessoal, era presidente do Sindicato das Empresas de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro (Setrerj) e como tal, em seis anos de gestão, o recebi apenas três vezes em locais públicos em 2014 e 2015. Esse senhor, que não possui empresa em Niterói, apenas em São Gonçalo e no Sul Fluminense, me apresentou um pedido de extinção da TUT (Taxa de Utilização do Terminal João Goulart) paga pelas empresas intermunicipais, entre elas a Rio Ita, que era de sua propriedade. Informei que Niterói vivia uma grave crise fiscal e que não seria possível atender ao pleito, que representaria a necessidade de alocação de novos recursos para manutenção do terminal João Goulart. Da mesma forma, o delator criminoso solicitou o pagamento da dívida referente à gratuidade ao sistema de transporte em Niterói, previsto no contrato de licitação, realizado pela administração anterior (2012). Esclareci que em função da grave crise financeira na ocasião, a prioridade da administração municipal seria o ajuste fiscal, pagamento dos salários dos servidores em dia e investimentos em saúde, educação e segurança. A dívida com as gratuidades previstas legalmente acumularam-se ao longo de três anos, chegando ao valor de 80 milhões de reais e somente foram pagas, após minuciosa análise das áreas de controle e jurídica da Prefeitura Municipal de Niterói, com uma dura negociação e redução de 40% da dívida que foi parcelada em 25 vezes e passou a ser paga em 2017/2018, quando o sistema fiscal do município estabilizou-se. Isso contradiz frontalmente a mentira do delator e por isso refuto veementemente a denúncia apresentada de que teria ocorrido “acerto” de 20% sobre pagamento das gratuidades. Em 2013, unificamos as três tarifas existentes na cidade (era um absurdo o cidadão pagar mais caro para utilizar ônibus com ar condicionado), sem essa ação, a tarifa hoje chegaria R$4,60. Determinei, por decreto, o percentual mínimo de ônibus com ar condicionado, o que não estava previsto no contrato de licitação de 2012 e, por isso, hoje Niterói tem a frota mais climatizada do Brasil (80% dos ônibus tem ar condicionado). Contratamos auditoria independente da FGV sobre o sistema de transporte de Niterói, que apontou adequação da tarifa e permitiu o congelamento da mesma entre 2017 e 2018, além de outras importantes medidas de regulação do setor de transporte. O sistema de transportes de Niterói, apesar dos problemas que persistem, é muito melhor que, por exemplo, o de cidades como o Rio e São Gonçalo, cidade onde o delator criminoso tem sua empresa, onde a tarifa é superior à de Niterói e o transporte público não chega a 15% da climatização. As investigações não identificaram NENHUMA PROVA ou SEQUER INDÍCIO de crime cometido por mim. Temos uma vida simples, com dificuldades para fechar as contas, como qualquer família de classe média, inclusive, meus sigilos fiscal e telefônico foram quebrados e nada foi encontrado. O único bem que tenho com Fernanda e meus filhos é um apartamento em Santa Rosa, um bairro de classe média de Niterói. Aprendi com meus pais, professores da rede pública do estado, o valor da simplicidade. Não tenho costume de viajar com a família para o exterior, depois de 24 anos de casados, minha esposa não possui joias, não tenho movimentação bancária e financeira atípica ou suspeita. NADA FOI ENCONTRADO em relação à minha conduta administrativa ou pessoal, ao contrário, levamos uma vida extremamente simples. Como posso ter comportamento criminoso ou inadequado se vivo no cheque especial? Todas as medidas mencionadas nesta carta estão fartamente documentadas e poderiam ter sido encaminhadas ao MPRJ, caso tivessem sido solicitadas. Nunca respondi a nenhum processo administrativo, nunca fui chamado para responder tais questões. Niterói vem recebendo reconhecimento de rankings independentes e prêmios, inclusive na área da transparência. Como pode ser comprovado no Portal de Transparência da Prefeitura de Niterói, que tenho orgulho de ter criado, realizamos investimentos em todas as regiões da cidade e com uma gestão honesta e responsável, conseguimos guardar 1 bilhão de reais nos cofres da Prefeitura (hoje, nenhuma cidade do Rio conta com uma situação tão equilibrada quanto Niterói). O filósofo francês Montesquieu, escreveu "O Espírito das leis" e destacou a importância da independência e harmonia entre os poderes, apontando como principal pilar da democracia a soberania popular exercida através do voto, na forma de sufrágio universal. Fui o único prefeito reeleito na Região Metropolitana do estado do Rio de Janeiro, vencendo em todas as regiões e classes sociais de Niterói. Tenho exercido com dignidade meu mandato conferido pela cidade invicta, a ex-capital fluminense, minha amada Niterói, que é minha maior paixão junto com minha família. Reafirmo meu respeito às instituições democráticas, considero o Ministério Público importante para o país e o poder judiciário fundamental para a garantia da democracia. Expresso que o sentimento não é o de raiva, mas de INDIGNAÇÃO com a INJUSTIÇA cometida contra a minha pessoa e a cidade de Niterói. Não podemos admitir que as mentiras de um delator criminoso, que teve seus interesses contrariados, mentiras que evidentemente não puderam ser comprovadas nas investigações, que não apontaram nada de PROVA ou INDÍCIO DE CRIME contra mim, ensejem uma violência contra a DEMOCRACIA e o voto popular de milhares de niteroienses e uma ABSURDA e INJUSTA prisão preventiva. Estou há quase dez dias sem ver meus filhos e esposa, encarcerado INJUSTAMENTE, e além da forte INDIGNAÇÃO consolo-me e me fortaleço apenas nas palavras de um perseguido que é o meu DEUS: “Felizes os aflitos porque serão consolados. Felizes os que têm fome e sede de justiça porque serão saciados. Felizes os misericordiosos porque encontrarão misericórdia. Felizes os puros de coração porque verão a Deus. Felizes os que promovem a paz porque serão chamados filhos de Deus. Felizes os que são perseguidos por uma causa da justiça”. Espero, meus amigos e amigas, que a justiça seja realmente feita, que eu possa retornar ao convívio do meu lar com minha esposa e filhos e que possa concluir o mandato, para qual fui eleito democraticamente, para fazer da nossa amada Niterói, cada vez mais, o melhor lugar para viver e ser feliz no Rio de Janeiro. Rodrigo Neves, sociólogo e prefeito de Niterói Agora que você chegou ao final deste texto e viu a importância da Fórum, que tal apoiar a criação da sucursal de Brasília? Clique aqui e saiba mais