Em novos diálogos, procurador sugere prisão de réus com advogados que não aceitam delação premiada

Mensagem mostra José Robalinho Cavalcanti, ex-presidente da ANPR, aconselhando a prisão de Emílio Odebrecht para que o executivo contratasse uma defesa que aceitasse delatar

José Robalinho - Foto: Agência CNJ
Escrito en POLÍTICA el

Os advogados de defesa do ex-presidente Lula encaminharam, nesta segunda-feira (29), ao Supremo Tribunal Federal (STF), novas mensagens comprometedoras entre integrantes do Ministério Público Federal do Paraná e uma pessoa identificada como Robalinho. Este é, segundo a defesa, José Robalinho Cavalcanti, ex-presidente da Associação Nacional de Procuradores da República (ANPR).

Robalinho sugeriu que a Lava Jato prendesse réus defendidos por advogados que não aceitavam fazer acordo de delação premiada, conforme reportagem de Tiago Angelo, no Conjur.

Os advogados que não concordavam com a delação premiada eram chamados de “agressivos”. Em mensagem de 28 de junho de 2015, Robalinho sugere a prisão de Emílio Odebrecht ou de seus familiares para que o executivo contratasse uma defesa que aceitasse delatar.

“Se tiver um jeito de prender o velho Emilio ou algum familiar próximo de Marcelo Odebrecht ele demite a advogada de combate na hora. Prioridade zero. A cada estocada dela um novo passo na investigação”, afirma. 

Depois, ele compara o fechamento de bancos na Grécia como medida de controle de capital à situação dos réus da Lava Jato. À época, os gregos preparavam um plebiscito para saber se a população concordava com uma proposta de socorro financeiro feita por credores internacionais.

“Uma semana de caos e muito medo podem virar o plebiscito de domingo que vem dar uma lição em todos os esquerdistas e desmoralizar de vez o governo grego. E assim salvar o euro a médio prazo. Mais ou menos o que temos de fazer com cliente que contrata advogado agressivo e que não quer acordo. Mostrar o custo. Rs”, diz o procurador. 

De acordo com a defesa de Lula, “para a Lava Jato, o cliente e o advogado que não colaborassem com a ‘operação’ deveriam pagar o ‘custo’”. “Pode um membro do Ministério Público atuar para que advogados sejam destituídos da defesa de seus constituintes pelo mero exercício da profissão — por apontar ilícitos praticados pelo próprio Parquet? Os membros do Ministério Público podem atacar advogados de forma tão baixa para alcançar seus objetivos espúrios?”, questionam os advogados do ex-presidente. 

Foto: Reprodução

A conversa ocorreu no grupo “Terra dos Brutos”. Robalinho afirma que não se recorda dessa lista de transmissão. “Eu participava de dezenas de grupos. Os colegas me colocavam e eu ficava. Não saía dos grupos. O que sei é que nem eu, nem ninguém consegue confirmar esses diálogos”.

“Já disse para outros jornalistas que me lembrava remotamente de alguns diálogos, desse eu não me lembro, nem do contexto. Realmente, dessa vez eu não me recordo de nada disso aí”, alega.

Carta

No documento encaminhado ao STF pela defesa de Lula, os advogados juntaram uma carta, na qual quatro ex-presidentes da ANPR defendem o fim da Lava Lato. 

Na carta endereçada ao presidente atual da ANPR, Fábio George Cruz da Nóbrega, os ex-dirigentes se mostram indignados com a divulgação de mensagens que menosprezam os direitos constitucionais dos acusados.

Os ex-presidentes sustentam que a revelação dos diálogos entre procuradores de Curitiba e o ex-juiz Sergio Moro sugere “relacionamento informal (...) incompatível com a missão constitucional do MP, realizado fora dos balizamentos da lei processual penal, com desprezo às garantias fundamentais dos acusados e em desrespeito às normas que regem a cooperação internacional”.