Em resposta à CPI, Abin endossa Bolsonaro sobre tese da China encampar "guerra química", mas não apresenta provas

No documento enviado à CPI do Genocídio, agência cita reportagens que trabalham a hipótese do coronavírus ter surgido a partir de acidente de laboratório, mas nenhuma delas fala sobre "guerra química"; confira

Bolsonaro e o diretor da Abin, Alexandre Ramagem (Foto: Palácio do Planalto)Créditos: Presidência da República
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A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) enviou à CPI do Genocídio no Senado, nesta terça-feira (1), uma resposta ao questionamento feito pelo presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM, e pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), sobre a fala do presidente Jair Bolsonaro dando conta de que a China teria criado o coronavírus em laboratório no âmbito de uma "guerra química".

“É um vírus novo, ninguém sabe se nasceu em laboratório ou nasceu por algum ser humano ingerir um animal inadequado. Mas está aí. Os militares sabem o que é guerra química, bacteriológica e radiológica. Será que não estamos enfrentando uma nova guerra? Qual o país que mais cresceu o seu PIB? Não vou dizer para vocês", disparou Bolsonaro no dia 5 de maio. A declaração intensificou o mal estar nas relações diplomáticas entre Brasil e China, sendo que o país asiático é o principal fornecedor de insumos para a produção de vacinas contra a Covid-19.

"Trata-se de uma afirmação de alta gravidade na medida em que o comandante supremo das Forças Armadas adverte para a possibilidade de estar em curso um conflito não declarado, promovido por nação estrangeira", disse Tasso Jereissati antes de protocolar o requerimento cobrando explicações da Abin.

Na resposta, assinada pelo diretor-geral Alexandre Ramagem, a Abin informa que as informações sobre "guerra química" disseminadas por Bolsonaro não partiram da agência, mas endossa a tese aventada pelo presidente na medida em que afirma que as hipóteses defendidas por ele são de "amplo domínio público".

Para sustentar a tese, a agência citou reportagens que expressariam "duas entre quatro principais hipóteses atualmente existentes sobre a origem do vírus". Nenhuma das reportagens, entretanto, falam sobre "guerra química", mas apenas investigam a possibilidade do coronavírus ter surgido a partir de um acidente em laboratório ou ingestão animal.

"Em síntese, as quatro principais hipóteses de origem do vírus permanecem em investigação pela comunidade científica, inclusive na pesquisa oficial da OMS, mesmo após seu último relatório, de 30/03/2021, o que é de conhecimento amplo e de acesso público", diz a agência, sendo que o documento da OMS citado não faz qualquer menção à narrativa de Bolsonaro.

Confira a íntegra da resposta da Abin aqui.

Chanceler também responde

Na última semana, também em resposta à CPI do Genocídio, Carlos França, ministro das Relações Exteriores, disse que o Itamaraty não forneceu informações a respeito de uma suposta “guerra química” relacionada ao coronavírus. 

“Este Ministério não produziu ou forneceu informação sobre a possibilidade de estar em curso uma guerra não declarada, promovida por nação estrangeira, por meio de guerra, química, bacteriológica e radiológica”, diz o texto, assinado pelo chanceler. 

China reagiu

Em entrevista coletiva realizada no dia 6 de maio em Pequim, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do governo chinês, Wang Wenbin, reagiu à grave insinuação feita por Jair Bolsonaro de que a China teria criado o coronavírus em laboratório para encampar uma “guerra química”.

O porta-voz chinês Wenbin falou sobre a declaração de Bolsonaro. quando foi questionado por uma repórter da agência AFP, e ele classificou a insinuação como uma “tentativa de politizar o vírus”. “O vírus é o inimigo comum da Humanidade. A tarefa urgente de agora é todos os países se juntarem em uma cooperação antiepidemia e em um esforço para uma vitória antecipada e completa sobre a pandemia. Nós nos opomos firmemente a qualquer tentativa de politizar e estigmatizar o vírus”, declarou.