Entenda como uma CPI da PF e do caso Queiroz podem montar o quebra-cabeça da cassação de Bolsonaro

As acusações do empresário Paulo Marinho são uma bomba com potencial explosivo imenso. Veja as razões aqui

Flávio Bolsonaro (Reprodução/YouTube)
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As acusações do empresário e suplente de senador de Flávio Bolsonaro, Paulo Marinho, reportadas na Folha de S. Paulo de hoje por Mônica Bergamo, são uma bomba com potencial explosivo imenso. É preciso apenas juntar algumas peças numa CPI para que fique provado que houve uma interferência indevida no processo eleitoral de 2018. Ou seja, que as eleições foram fraudadas por agentes da PF que simpatizavam com Bolsonaro.

Algumas questões podem ser elucidadas com relativa facilidade num processo investigatório. Vamos a elas.

1). Paulo Marinho diz que o gabinete de Flávio Bolsonaro foi avisado uma semana depois do primeiro turno por um agente da PF do Rio de Janeiro que seria desencadeada a Operação Furna da Onça que atingiria seu assessor Queiroz. Quem seria esse agente? Será tão difícil assim de descobrir seu nome? Seguimos...

2). Flávio não teria atendido e nem falado com o interlocutor que lhe procurava para antecipar algo grave. Mas mandou emissários ao seu encontro. Segundo Paulo Marinho, o ex-coronel Miguel Braga, atual chefe de gabinete do filho do presidente no Senado, e o advogado Victor Alves, que também é assessor de Flávio Bolsonaro, foram ao encontro do interlocutor.

3). Paulo Marinho diz que Victor Alves lhe disse na presença do Flávio Bolsonaro como se deu o evento com o agente da PF. Eles teriam marcado um encontro com esse delegado na porta da Superintendência da Polícia Federal, na praça Mauá, no Rio de Janeiro. Além do coronel Braga e do advogado Victor Alves, também estava presente Val Meliga, irmã de dois milicianos que foram presos na Operação Quatro Elementos.

4). Na calçada em frente à superintendência, o delegado teria falado que seria deflagrada a Operação Furna da Onça que iria atingir a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e envolvia Flávio Bolsonaro e seu assessor Queiroz e a sua filha Nathalia, que trabalhava no gabinete de Jair Bolsonaro, que ainda era deputado federal em Brasília.

5). Tudo isso teria acontecido uma semana depois do primeiro turno. O misterioso agente da Polícia Federal teria afirmado aos interlocutores de Flávio Bolsonaro que estavam trabalhando para impedir que a operação acontecesse antes do segundo turno. E pelo jeito conseguiu.

6). Flávio Bolsonaro relatou a conversa de seus interlocutores com o agente da PF e ambos demitiram, no dia 15 de outubro, Queiroz e sua filha Nathalia dos seus gabinetes.

7). Mas quem seria o misterioso agente da PF? É possível descobrir sua identidade? O deputado federal Paulo Pimenta arrisca um nome: Alexandre Ramagem. Segundo Pimenta, “a operação Furna da Onça é uma continuação da operação Cadeia Velha. A operação Cadeia Velha foi coordenada pelo delegado da PF, Alexandre Ramagem Rodrigues”. Leia mais sobre o assunto aqui.

8). Mas como é possível descobrir se de fato Ramagem foi quem passou a informação privilegiada ao gabinete de Flávio Bolsonaro ou se foi outro agente da PF. Simples. A sede da PF tem câmeras de vídeos por todos os lados, filmando inclusive às calçadas que ficam à sua frente. Essas gravações podem ser solicitadas pra checar se os personagens citados estiveram lá e com quem se encontraram entre o primeiro e segundo turno.

9). Além das câmeras há outras formas para descobrir quem foi o agente que procurou Flávio Bolsonaro naquele período e que levaram ele e Jair Bolsonaro a demitirem Queiroz e sua filha Nathalia. Basta quebrar o sigilo telefônico dos personagens citados e ver se há ligações ou mensagem de algum agente da PF para eles neste período. Em especial de Alexandre Ramagem.

10). Bolsonaro queria por todos os motivos indicar Alexandre Ramagem para ser o diretor geral da PF. Moro deixou o governo por conta disso. Evidente que isso o torna o primeiro suspeito de ter vazado a informação para Flávio Bolsonaro e também ter segurado a operação para que ela não mudasse o rumo das eleições.

11). Uma CPI quebrando sigilos telefônicos, ouvindo depoimentos, fazendo acareações e trazendo filmagens e, ainda mais, sendo transmitida ao vivo pela TV e chegando às conclusões que parecem estar ficando óbvias teria todos os ingredientes necessários de uma trama para botar um ponto final na trajetória política da família.

12). Essa CPI tem todos os elementos para ser constituída e precisa ser realizada o quanto antes e pode ser feita de maneira digital. Através dela se pode chegar ao impeachment de Bolsonaro e à cassação de Flávio Bolsonaro antes do que por outras vias. É um jogo de risco, porque Bolsonaro ainda tem as Forças Armadas e razoável apoio popular. Mas isso pode ir se movendo pelo caminho, ao demonstrar o quanto de sujeira há embaixo do tapete da história da sua eleição e de sua vida política.