O bom desempenho do ex-presidente Lula nas pesquisas para a Presidência de 2022 começa a incomodar uma parte da mídia.
Três anos depois de publicar "Uma escolha muito difícil", editorial que comparava Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (Sem Partido), o jornal "O Estado de S. Paulo" divulgou um artigo de opinião em que chama o PT de "diabo" e diz que o partido "não se desculpa pelos seus erros".
Intitulado "O diabo não desiste", o texto começa culpando o Partido dos Trabalhadores pela "precipitação" da "maior crise econômica, política e moral da Nova República".
Depois, afirma que, já em campanha eleitoral, a sigla "se mostra incapaz de propor uma agenda positiva para o futuro, muito menos de reconhecer os erros do passado", e que vai "repeti-los", "implodindo o teto de gastos que estancou a hemorragia fiscal deflagrada no governo Dilma Rousseff".
Citando Gleisi Hoffmann, o Estadão declara que o PT quer "apagar os crimes dos quais foi cúmplice", usando como exemplo acusações envolvendo a Petrobras, a OAS e a Odebrecht.
Com falas de Lula e Dilma, o artigo também faz críticas baixas aos ex-presidentes, chamando Dilma de "ex-poste de Lula" e dizendo que os marqueteiros do PT "vilanizaram sordidamente Marina Silva e todos os brasileiros vilipendiados como 'fascistas' simplesmente por recusarem o culto a Lula da Silva".
"O despudor com que o PT tenta reescrever a história do País para edulcorar sua trágica passagem pelo poder rivaliza com o sistemático embuste bolsonarista, o que permite prever que a campanha de 2022, mantido o favoritismo de Lula e Bolsonaro, fará corar o próprio Pinóquio", finaliza.
Artigo recebeu críticas
O editorial foi alvo de uma série de críticas nas redes sociais. Altamiro Borges, presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, lembrou a reportagem publicada ontem pela "Folha de S. Paulo", que ignorou a participação de Lula e Dilma ao citar estudo elaborado pelo Insper que mostra que a diferença social no Brasil caiu de forma ininterrupta entre os anos 2002 e 2015.
"Enquanto a Folha publica reportagem sobre a queda da desigualdade de renda no Brasil entre 2002 e 2015 sem citar Lula e Dilma, o Estadão obra editorial intitulado "O diabo não desiste", satanizando o PT. A mídia burguesa vai jogar pesado nas eleições de 2022. Nada de salto alto!", escreveu Altamiro.
"Em 1959 os donos do Estadão se uniram a educadores, mobilizados por Anísio Teixeira e Florestan Fernandes. O objetivo era defender a educação laica e pública. Hoje o Estadão usa uma alegoria religiosa para comparar o PT ao diabo. Herdeiros perdulários são assim", afirmou o dirigente pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação, professor Daniel Cara.
A professora e ativista Lola Aronovich disse que, da mesma forma que o Estadão acusa o PT, o jornal nunca fez autocrítica e "defendeu ditaduras". "Lula deve desistir de sua candidatura porque o mercado (apoiado pela grande mídia) não gosta dele. Sua opinião é muito importante pro país, Estadão", escreveu.